Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Mídia pouco didática reduz a discussão

Parece incrível, mas um programa que nunca havia parado para ver me levou à reflexão: o Pânico na TV, da RedeTV!. A edição de domingo (21) trouxe um ator caracterizado como o presidente Lula, que abordava pessoas nas ruas e perguntava coisas que pouca gente demonstrou saber: o que é impeachment (e como se escreve), o significado da sigla CPMI, quem preside a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Mensalão… Tudo o que o noticiário tem mostrado mas, como confirmei a mim mesmo graças à trupe do Pânico – nem todo mundo entende.


Entre respostas (ao menos duas) de que o presidente da CPMI seria o empresário Marcos Valério (!) [é o senador Amir Lando, PMDB-RO] e cenas de uma lousa em que pessoas grafavam ‘imbitima’ ou ‘impeachman’, cheguei à conclusão de que a mídia noticia, mas não informa. Profusão, no caso dos depoimentos registrados pela imprensa, virou confusão. Dinheiro para cá, caixa dois para lá, mensalão para todo lado, e a única coisa que se incute nas pessoas é que nem todos os políticos jogados nesse saco são da melhor farinha. O porquê, a julgar pelo que o chamado cidadão comum depreende, é o que menos conta. E restringe-se a discussão de fato a uma meia dúzia.


O ‘sereno agradou’


Apesar de ter acesso a jornais e à internet, não posso dizer que esteja inteiramente informado sobre o que ocorre. Foi o que afirmei à pesquisadora de um instituto (cujo nome não lembro, mas que se disse a serviço da revista Imprensa) que telefonou para a Redação há uns 10 dias para saber como tenho acompanhado a crise política. Entre as perguntas, aquela à qual nem o presidente responde diretamente: ‘Você acha que Lula sabia de tudo, de muito, de alguma coisa ou não sabia?’.


O que eu, ao menos, não sei é em que parâmetros parte da grande mídia se baseia para julgar pronunciamentos de figurões postos sob suspeita e detentores de cargos importantes, como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. No domingo passado, por cerca de duas horas, ele se disse inocente das acusações de que teria recebido propina de uma empresa coletora de lixo enquanto foi prefeito de Ribeirão Preto (SP); que, mesmo ‘substituível’, continuaria no posto, e o modelo econômico não seria alterado com sua eventual saída.


Creio que tudo isso, aos olhos do cidadão comum, nada represente de bom. Talvez significasse algo ruim até para o tal de ‘mercado’, pois a taxa básica de juros não baixa e, segundo release distribuído recentemente a meios de comunicação pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a política econômica do governo Lula estaria ‘começando a cansar’. Já no domingo e na segunda-feira, Palocci foi qualificado como ‘sereno’, sua fala ‘agradou’ e tudo o que disse deveria ‘acalmar o mercado’, segundo ‘analistas’.


Ué?


Quero meu dinheiro


De volta ao didatismo, falta a nós, jornalistas, entender e explicar claramente a todo tipo de público o significado desse quebra-cabeça político e em que ele interfere, de fato, na vida da população. Fala-se em caixa dois. É crime. Qual a origem da verba? O que pode acontecer com quem causou a situação ou se beneficiou dela? A quantia apurada deverá ser devolvida? A quem?


O mesmo se dá com o mensalão. De onde tiraram os recursos para, supostamente, pagar ‘aliados’ do governo para votarem em seu favor no Congresso? Há comparação com a compra de deputados na gestão Fernando Henrique Cardoso para que aprovassem a emenda da reeleição para cargos majoritários? Que fim levaram os participantes do esquema anterior e o que pode haver com os suspeitos de agora?


Quando devolverão o meu dinheiro?


Quando meus colegas me dirão isso?

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Jornalista, 26 anos, repórter do jornal Diário do Litoral, de Santos (SP) e da versão local do noticiário Band Cidade, da TV Bandeirantes