Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia surpreendida em Jirau

A maior obra em andamento no país foi paralisada após a destruição, ontem, de 35 alojamentos e 45 ônibus. Repetição ampliada de motim iniciado na véspera no canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. A mídia faz uma cobertura tardia e desencontrada. Quando é que repórteres foram enviados a canteiros de obras do PAC distantes dos grandes centros para ver o que estava acontecendo? Não foram.


Ontem, o Jornal Nacional usou a palavra ‘vandalismo’, a mesma empregada pela construtora Camargo Corrêa, encarregada das obras civis, para descrever a explosão de fúria.


Nesta sexta-feira (18/3), o Valor, que dá o noticiário mais pobre, atribui o motim a um ‘conflito entre trabalhadores’. Segundo O Globo, ‘truculência de encarregados, seguranças e motoristas é a principal queixa dos operários. E a agressão a um deles foi o estopim da rebelião’. Os noticiários mais fornidos são os da Folha e do Estadão. A Folha destaca o ponto de vista dos trabalhadores. Ouviu um deles, que disse: ‘Eu e outros viemos para cá por conta de promessas que não foram cumpridas. Isso aqui estava fervendo’. A Folha explica que promessas feitas por recrutadores não se confirmaram no canteiro de obras. O Estadão se apoia na versão da construtora mas ouve trabalhadores. Um deles disse: ‘Todo mundo aqui veio de longe para ganhar um salário melhor e levamos bala. Nunca vi isso em nenhuma empresa no Brasil’.


Em novembro de 2005, um alojamento para 1.500 empregados da construtora Camargo Corrêa em Barão de Cocais, no Vale do Aço mineiro, foi incendiado. Só a mídia da região e de Minas Gerais noticiou o conflito. Ele nunca chegou aos principais veículos do país. [Ver ‘Fogo no alojamento‘] E quantos mais não chegaram, não se sabe. Mas já foi pior: sob a ditadura, nada do que se passava com os trabalhadores nas grandes obras, como Itaipu e a Ponte Rio-Niterói, era noticiado.