Os jornalões de ontem não estavam a fim de destacar a Operação Persona, da Policia Federal, que desbaratou o esquema de fraudes fiscais da multinacional Cisco, um dos maiores fabricantes mundiais de equipamentos para a Internet.
Ao contrário do que acontece quando os denunciados são empreiteiras, autoridades e políticos brasileiros, a mídia impressa foi extremamente cuidadosa nesta nova incursão da PF.
A Folha sequer mencionou o assunto na primeira página, nem na capa do seu caderno de negócios. O Estadão, ao invés de esconder as fraudes da Cisco, deu um destaque na sua primeira página, pasmem, em benefício da multinacional: ‘Caso da Cisco é comum no Brasil’. Alega a fonte americana ouvida pelo Estadão que a culpa é dos altos impostos e da burocracia brasileira.
Apenas O Globo noticiou o fato na sua primeira página e sem qualquer atenuante deu nome aos bois, mencionou os empresários indiciados e presos.
Também os portais de notícias adotaram uma suspeitíssima prudência com relação ao escândalo produzido pelo maior fabricante de equipamentos pesados para a web.
Este súbito cuidado na cobertura das operações da Polícia Federal deveria ter acontecido antes, na Operação Navalha, quando a mídia em peso apresentou o ex-ministro Silas Rondeau como beneficiário de uma propina de R$ 100 mil oferecida pela empreiteira Gautama que, aparentemente, não se confirmou.
A precaução e o senso de responsabilidade são bem-vindos, mas a reviravolta foi rápida demais para parecer espontânea.