Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Milton Coelho da Graça

‘Algo muito estranho ocorreu na moderníssima área industrial de O GLOBO, na madrugada de segunda-feira, conforme explicação dada pelo próprio jornal em 18/10: ‘Devido a problemas em seu parque gráfico, O GLOBO circulou ontem com a página 4 trocada em parte da edição: em vez de ser impressa uma página do GLOBO, foi publicada uma página do jornal EXTRA.’ Essa ‘parte da edição’ significou 49 mil exemplares.

A tarefa básica do impressor-chefe de qualquer jornal do mundo é iniciar a rodagem e conferir rapidamente se todas as páginas estão na ordem certa e bem impressas; enquanto isso, o editor ou secretário vai conferindo se há alguma besteira em títulos ou distribuição de matérias. Essa rotina era a mesma há 40 anos na Última Hora, há 20 anos no Globo ou há 10 no Jornal do Commercio. Imagino que, no moderníssimo parque gráfico que O GLOBO tem hoje, haja mil mecanismos para esses controles serem executados e, portanto, com maior rapidez e menor risco.

Mas o que ocorreu na área industrial é, a meu ver, possível sintoma de problema mais generalizado. O GLOBO tem desde a década de 80 um severo sistema de recrutamento e seleção de novos jornalistas. Como se explicam os freqüentes erros de português em todas as editorias e até mesmo em colunas e títulos? A Auto-Crítica diária, feita pelo veterano Luiz Garcia, raramente consegue detectar o universo de bobagens. Já houve inclusive repetição de seções permanentes na Revista de Domingo, que tem prazos de fechamento menos tensos.

As causas imediatas ou remotas de tudo isso naturalmente podem ser variadas. Mas é bem possível que haja uma origem comum: a direção há alguns anos vem dando ênfase total a estratégias e organogramas, elaborados por consultores ou administradores, sempre com uma tônica comum: reduzir custos de pessoal, mesmo com queda na qualidade editorial. E posso atestar que cada vez gasto menos tempo para ler O GLOBO, que, em quase 70 anos, só na prisão ou no exterior deixou de ser meu prazer diário e obrigatório.

Talvez a chave do problema esteja numa frase que o ex-governador Orestes Quércia costuma dizer: ‘O melhor negócio do mundo é comprar jornal e, depois, vender para as Organizações Globo’.

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Vendas de ‘Meia Hora’ estão subindo

Ainda sem confirmação pelo IVC: a direção do novo jornal carioca Meia Hora de Notícias informa que a circulação vem subindo e já ultrapassou a marca dos 50 mil exemplares diários.

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The Guardian fez grande lambança

The Guardian, o jornal editorialmente mais à esquerda na imprensa britânica, teve de pedir desculpas por uma reportagem enviada pelo seu correspondente em Xangai, Benjamin Joffe-Walt. O ombudsman Ian Mayes reconheceu na edição desta segunda-feira (17/10) que a matéria de Benjamin publicada sob o título ‘Eles o espancaram até matá-lo’ continha ‘erros e exageros grosseiros’.

Benjamin descreveu como Lu Banglie, um ‘ativista democrático’, fora arrancado do carro em que viajava pra a localidade de Taishi com o repórter, intérprete e motorista, por uma multidão enfurecida, que teria chegado a arrancar um de seus olhos.

O jornal China Daily (controlado pelo governo) identificou Lu Bangli como deputado ao Congresso do Povo e publicou longa matéria sobre os exames em dois hospitais, que teriam constatado que ele estava vivo e normal, exceto por arranhões nas mãos.

A vida de correspondente é dura. Benjamin foi chamado de volta a Londres pelo jornal.’



CAETANO vs. VEJA
Caetano Veloso

‘Desatenção ou malícia’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/10/05

‘Mais uma vez Veja é alvo de críticas por textos publicados em suas edições. Desta vez o crítico é o cantor e compositor Caetano Veloso, que ficou indignado com o fato de a revista não ter publicado uma carta sua rebatendo uma matéria da edição de 21/09, assinada por Sérgio Martins. Em artigo enviado ao Blog do Noblat, Caetano se queixa da falta de atenção de Veja e fala de sua relação com a publicação.

Procurado pelo Comunique-se, Martins disse não ter nada a declarar. O secretário de Redação, Júlio César Barros, informou que o que a revista tem a dizer está em suas páginas.

Leia o artigo de Caetano, que, a partir de agora, passa a colaborar periodicamente com o Blog do Noblat. Aliás, essa é a primeira de suas colaborações.

‘Desatenção ou malícia

‘A matéria de Sérgio Martins sobre Moby da edição de 21 de setembro é o exemplo mais revoltante do que se faz de mau jornalismo em Veja. Além de importar o tom grosseiro dos tablóides de rock ingleses para a grande imprensa brasileira (sim, porque no New York Times ninguém escreve assim), Martins falseia fatos. Moby não pediu perdão a Hugo Chávez. E a frase sobre o Big Bang é minha, não de José Miguel Wisnik. Ela foi distorcida com intenção de ridicularizá-lo.

Expus a idéia no texto do encarte do meu disco A Foreign Sound, que já está à venda há muitos meses em todo o mundo. A conversa que tive com Wisnik a respeito (e que também está relatada no encarte) gerou a nova peça do grupo Corpo, que teve estréia recente com ampla divulgação. O repórter de Veja não tem o direito de ignorar esses fatos. É evidente que ele quis passar por cima dos mesmos com intenção de agredir Wisnik por motivos que ignoro. De qualquer modo, se ele desconhecia manifestações tão largamente publicadas não tinha qualificação para exercer a função que exerce – e se tinha, agiu de má fé. E a editoria geral da revista só pode admitir que algo assim aconteça por desatenção ou malícia. Lendo Veja sobre Moby e Wisnik somos levados a crer que José Dirceu é um homem honesto e sensato.’

Veja não publicou a carta acima que lhe enviei. Mas não quero que seu conteúdo fique sendo um segredo entre mim e a redação da revista. Considero Veja uma prova de que a imprensa brasileira tem força e competência. Ao mesmo tempo – e talvez por isso mesmo – é nela que se exibe com mais clareza a relação desequilibrada dessa competência com o todo da nossa realidade. Não falo com Veja desde que ali se publicou uma reportagem intitulada ‘O Bloco dos Ressentidos’, em que aparecíamos juntos Millôr Fernandes, Chico Anísio, Tom Jobim e eu, como brasileiros que se enchem de dinheiro no Brasil e depois falam mal do país. Era uma salada desonesta em que as famosas tiradas de Tom sobre isto aqui ser um país ‘de cabeça para baixo’ (ou sobre nossa dificuldade em lidar com o sucesso) se misturavam à minha campanha pelo respeito aos sinais de trânsito, a frases irreverentes de Millôr, e a piadas de Chico Anísio para provar que esses quatro indivíduos tão diferentes formavam um bloco coeso de desqualificadores da brasilidade.

A matéria abria com montagem fotográfica – que ocupava duas páginas – de nossas caras sobre as figuras da comissão de frente de uma escola de samba. E seguia por várias folhas em que não faltavam as ‘reações’ dos que defenderiam o Brasil contra nós: Gilberto Gil, Marieta Severo, opositores assim.

Evidentemente esses ‘entrevistados’ não tinham idéia do que se preparava na redação. Eu próprio tinha sido abordado por uma moça no camarim do Canecão e, como tivesse sido tão crítico do mal jornalismo quanto do desrespeito às leis de trânsito – e tivesse citado Tutti Vasquez como mau jornalista – vi depois minha crítica ao Vasquez ser tomada como mais um exemplo de sentimento anti-Brasil na reportagem que era assinada por Alfredo Ribeiro – que é o nome verdadeiro de… Tutti Vasquez!

Bem, eu já tinha ficado indignado com Veja desde a morte de Elis, quando a revista, em lugar de fazer um obituário lamentando a perda da grande cantora e louvando seu talento ímpar, deu reportagem de capa, de tom e teor sensacionalista, sobre ‘a tragédia da cocaína’. Antes e depois disso li diversos textos sobre assuntos relativos à minha área de atuação que mesclavam ignorância e má fé em doses altas, sempre com o fito de criar uma cumplicidade esnobe com o leitor. A aura de respeitabilidade de que a revista se revestia não correspondia a essas investidas irresponsáveis e arrogantes. Com a matéria dos ‘ressentidos’, rompi relações. Ou seja: Veja passou a ser apenas uma casual leitura de trecho de antigo artigo em sala de espera de psicanalista. Mas nunca considerei isso um bom sinal.

Vários colegas meus sentem grande nojo da revista e, embora saiba que eles em geral têm razão, eu preferiria que não fosse assim. Um órgão de imprensa pode e até deve orgulhar-se de ser presença incômoda na vida dos célebres e dos poderosos. E de meter medo em grupos que tendem ao corporativismo. Isso faz parte da saúde social de uma democracia. Assim, nunca foi sem pesar que me vi repetidas vezes reafirmando minha rejeição ao diálogo com Veja. Lembro-me de sua aparição. Coincidiu com a do tropicalismo (este explodiu em 1967 mas só ganhou o nome em 68, ano em que Veja foi lançada) e, embora eu nunca tivesse sido muito fã do estilo Time de publicação (e a despeito de eu quase não ler jornais naquela época), senti ali algo semelhante ao que senti com a modernização da TV Globo: estamos crescendo, nos profissionalizando, nos desprovincianizando, independentemente dos aleijões que criemos no âmbito da organização política. Em plena ditadura, eu sentia isso com clareza, mesmo quando preso ou exilado pela ditadura. Sempre achei mesquinho julgar quão bem (ou mal) estamos pelo grau de identificação entre nossos mitos políticos e os poderes constituídos que nos representam.

Assim, nunca julguei a Globo por ser simpática aos militares (quão simpática a eles era ela mesmo?); sofri com o expurgo inicial de Dercy e de Chacrinha (este voltou à emissora com glória), mas vibrei com a conquista de padrão de qualidade.

A Veja era algo dessa natureza. E ela influenciou a imprensa brasileira como um todo. Lembro de ler, talvez nos anos 80, entrevista de Otávio Frias Filho reconhecendo que Veja era o exemplo que ele gostaria de seguir. A Folha iniciava sua brilhante fase de sofisticação, com Matinas Suzuki tocando a Ilustrada. No tempo do tropicalismo eu vivia em São Paulo. E nem tinha paciência de me demorar no Rio de Janeiro quando o visitava.

Há algo em São Paulo que aprendi então e que sinto como essencial até hoje. A Folha, a Veja, a USP, a poesia concreta, a música nova, o PT, o PSDB, tudo isso participa dessa qualidade difícil de definir. Mas uma das características que ressaltam preciso nomear agora: a inclinação natural para pôr o que produzimos em perspectiva internacional. Claro que a bossa nova foi inventada por um baiano e centrou-se no Rio. E que o Cinem Novo foi liderado, no Rio, por um outro baiano, que julgou poder prescindir de São Paulo. E ambos os movimentos tinham em mente (e conseguiram em grande parte) realizar discos e filmes que se pusessem em perspectiva internacional.

Mas (embora Gláuber fosse discordar, João Gilberto afina) o filtro carioca foi sempre a afirmação de uma capital de colônia sobre o provincianismo interno. São Paulo é ainda uma província interna, mas com sua pujança, termina por fazer ligações diretas com o grande mundo sem passar pelo filtro do Rio.

Assim, a Ilustrada e Veja podem ter criado Ipanemas de laboratório dentro das redações, mas deram uma trombada na perspectiva viciada que nos sufocava. Por isso que as mais bem-sucedidas contrafações de Paulo Francis são paulistas. E elas não são nenhum Paulo Francis: são o aspecto ipanêmico dessa movimentação curiosa.

Por outro lado, com minhas crescentes convicções de que há algo mais progressista na herança liberal do que nos sonhos de ditadura do proletariado, vejo minha discrepância com Veja com tristeza – e o mau jornalismo que se incentiva ali (aquilo não pode ser apenas admitido) com impaciência. É que entender tudo isso (e mesmo divertir-se com isso) não significa aceitar descalabros como um crítico de música abrir uma página sobre Moby e, nela, além dar receitas de como os músicos pop devem exercer sua rebeldia, enxertar agressão a José Miguel Wisnik, que nada tinha a ver com a história, usando, para isso, referência a idéia sabidamente minha e não dele.

A restrição feita a Moby era por ele ter pedido desculpas pelo fato de seu país (os Estados Unidos) ter o presidente que tem. Utilizando o carimbo ‘Hugo Chávez’ para defender Bush contra Moby, o crítico, sob o grosseiro título ‘Cala a boca e toca’, achincalha Wisnik já na manchete, dizendo que ele é mais chato do que Moby, pois, como depois se explica no corpo da matéria, teria considerado o termo Big Bang como uma apropriação da origem do universo pela cultura anglo-saxã.

Lembrei-me de que li em Veja, quando a invasão do Afeganistão era iminente, palavras grosseiras assim: ‘um bando de pé-rapados maltrapilhos não pode enfrentar o maior exército do mundo’ (cito tudo de memória, não guardo Vejas em casa). Coisas como esse comentário e aquela matéria fazem a gente perceber que a editoria finge que Mainardi é o Agamenon mas sabe que sua coluna é mais séria do que essas reportagens e resenhas. Afinal, a glória de Mainardi contra Lula é merecida, a de Sérgio Martins (o autor da matéria sobre Moby) contra Wisnik, não. Mainardi, com seu cinismo que só serve para desembaraçar a cabeça de quaisquer preocupações (ou inspirações) maiores, terminou citando sempre dados majoritariamente comprováveis; Martins não verifica suas informações, nem presta contas a ninguém de seus abusos.

Qual a razão de tais distorções? José Miguel Wisnik não é um campeão de vendas de CD, não lota casas de show, não tem seus livros na lista dos mais vendidos – por que diabos seu nome vai parar numa manchete de Veja? Dir-se-ia que a piada poética que eu escrevi no encarte do CD ‘A Foreign Sound’ (que não apenas os seres das mais distantes galáxias falam inglês nos filmes como o próprio universo começou com uma expressão – como frisou seu inventor – bem inglesa: Big Bang) é um escândalo intelectual e político de tal monta que não poderia deixar de ser comentado com derrisão.

(Fiquei sabendo depois que a frase, já atribuída a Wisnik, tinha aparecido semanas antes, a título de achincalhe, na seção de ‘frases’ da revista.) Mas se era algo assim tão momentoso, por que, em tanto tempo, e com tanto material à mão, os valentes repórteres-críticos de Veja não foram checar como, por quê, por quem, quando, onde aquilo tinha sido concebido? Sim, porque não apenas escrevi isso no encarte do meu disco como desenvolvi com Wisnik todo um balé para o grupo Corpo em torno desse mote (essa é a vinculação de Wisnik com a ‘frase’).

O balé estreou em São Paulo com farta cobertura da imprensa. Estréia em Nova Iorque na semana que vem. Como Martins não sabia de nada disso? E por que mirar no Zé Miguel? Quer brigar comigo, fala direto comigo. Querem o quê? Controlar o núcleo uspiano a que se agarram e de que Zé Miguel parece ser a ovelha negra que gosta demais de Caetano Veloso? Qual a ligação entre esse absurdo jornalístico com o absurdo intelectual de a resenha do livro de Wisnik (em destaque o belo ensaio sobre Machado de Assis e a música popular) ter sido uma galhofa que tentava reduzir o autor a um deslumbrado admirador de Chico e Caetano?

Eu não preciso de grandes provas de que a música popular pode ser algo desimportante. Mas que imbecis como Sérgio Martins sejam convocados para agredir pensadores finos como José Miguel Wisnik por causa dela é, para minha mente incrédula, quase uma prova definitiva de sua importância suprema.

Caso o meu leitor não lembre mais, carta que mandei para Veja e Veja não publicou é a seguinte:

‘A matéria de Sérgio Martins sobre Moby da edição de 21 de setembro é o exemplo mais revoltante do que se faz de mau jornalismo em Veja. Além de importar o tom grosseiro dos tablóides de rock ingleses para a grande imprensa brasileira (sim, porque no New York Times ninguém escreve assim),Martins falseia fatos. Moby não pediu perdão a Hugo Chávez. E a frase sobre o Big Bang é minha, não de José Miguel Wisnik. Ela foi distorcida com intenção de ridicularizá-lo.

Expus a idéia no texto do encarte do meu disco A Foreign Sound, que já está à venda há muitos meses em todo o mundo. A conversa que tive com Wisnik a respeito (e que também está relatada no encarte) gerou a nova peça do grupo Corpo, que teve estréia recente com ampla divulgação. O repórter de Veja não tem o direito de ignorar esses fatos. É evidente que ele quis passar por cima dos mesmos com intenção de agredir Wisnik por motivos que ignoro. De qualquer modo, se ele desconhecia manifestações tão largamente publicadas não tinha qualificação para exercer a função que exerce – e se tinha, agiu de má fé. E a editoria geral da revista só pode admitir que algo assim aconteça por desatenção ou malícia. Lendo Veja sobre Moby e Wisnik somos levados a crer que José Dirceu é um homem honesto e sensato.’

Caetano Veloso.’



Diogo Mainardi

‘Na falta de assunto, Caetano’, copyright Veja, 26/10/05

‘Caetano Veloso mandou um artigo para um blog, falando mal de VEJA. Ele falou mal de VEJA porque VEJA falou mal do Moby. Quase no fim do artigo, ele fez um comentário a meu respeito. Não é a primeira vez que isso acontece. Todo ano Caetano Veloso me dá uma canja. Já faz parte do meu folclore pessoal. Exatamente da mesma maneira que roubar já faz parte do folclore do PT, como afirmou o recém-eleito presidente do partido, Ricardo Berzoini. No ano passado, Caetano Veloso me chamou de ‘abacaxi com caroço’. Até hoje não entendi o significado do apelido. Agora, no artigo para o blog, ele declarou: ‘A glória de Mainardi contra Lula é merecida. Mainardi, com seu cinismo que só serve para desembaraçar a cabeça de quaisquer preocupações (ou inspirações) maiores, terminou citando sempre dados majoritariamente comprováveis’.

A primeira parte do comentário de Caetano Veloso eu entendo: ‘A glória de Mainardi contra Lula é merecida’. É verdade. Ele tem inteira razão. Façam como ele: aplaudam-me. Reverenciem-me. Eu mereço. Fico me jactando o tempo todo. Fico repetindo, dia e noite, há quatro meses, que sou o maioral, que sou o bambambã, que sou o sabichão. Meus familiares já não me suportam. Meus colegas de VEJA também não. Atualmente, todos os colunistas, de toda a imprensa, atribuem-se o mérito de ter alertado os leitores sobre a desonestidade de Lula e do PT. Eu quero que saibam que guardo no arquivo do computador as provas do adesismo de cada um deles. Os únicos que não caíram no golpe da quadrilha lulista foram as ‘contrafações paulistas de Paulo Francis’, como diria Caetano Veloso.

A segunda parte do comentário de Caetano Veloso a meu respeito é bem mais enigmática. Leiam-na novamente. Analisem-na com atenção. Que cinismo? Que desembaraço? Que cabeça? Que preocupações (ou inspirações) maiores? Que dados majoritários? Não tenho certeza, mas acho que a intenção de Caetano Veloso era elogiar-me. Se o interpretei corretamente, ele pretendia dizer que sou um bufão, mas um bufão que sempre diz um monte de verdades. O fato é que Caetano Veloso não gosta de VEJA. Mas ama Moby, Mangabeira Unger e Mainardi. Não sei se devo me sentir lisonjeado. Moby é aquele músico que pediu perdão ao ditador venezuelano Hugo Chávez pela eleição de George W. Bush. Mangabeira Unger é aquele candidato presidencial que, recentemente, se filiou ao partido da Igreja Universal e convidou José Dirceu a dar aulas em Harvard. Mainardi é aquele humorista que quer derrubar Lula.

Mandei uma mensagem a Caetano Veloso. Perguntei-lhe o que de pior ele teria a dizer sobre Lula. Se ele responder, publico aqui, na semana que vem, caso falte um assunto melhor, como aconteceu nesta semana.’



JORNALISTAS PJs
Folha de S. Paulo

‘Pessoa Jurídica Especial’, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 22/10/05

‘Um item da flexibilização de leis trabalhistas está em pauta no Congresso, em meio à confusão que se segue à perda da validade da chamada ‘MP do Bem’. A Receita elaborou proposta para criar uma categoria especial de tributação para profissionais liberais que se valem de uma pessoa jurídica para prestar serviços autônomos. Cogita agregá-la a uma medida provisória já editada.

Foi a resposta da Fazenda a um intenso debate acerca de como tributar essas atividades. Hoje, alguém que preste serviços por uma empresa individual -o que ocorre com advogados, médicos, economistas, jornalistas e publicitários, entre outros- recolhe Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre 32% de sua receita bruta. Além disso, a receita total é gravada em 0,65% pelo PIS (Programa de Integração Social) e em 1,65% pela Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).

Como essa tributação é inferior à que incide sobre o salário e a folha de pagamentos no caso de alguém contratado sob a CLT, empresas e empregados têm crescentemente optado por realizar contrato de prestação de serviço entre pessoas jurídicas, em vez do tradicional contrato de trabalho. O governo alega que esse procedimento gera perda de arrecadação e pretende, agora, diminuir o diferencial entre esse tipo de contrato e o de um celetista comum.

A Receita quer isentar tais pessoas jurídicas do PIS e da Cofins, mas aumentar a faixa de incidência do IR e da CSLL para 40% da receita. Pretende também majorar a contribuição previdenciária. Ainda assim, esse regime de contratação via pessoa jurídica, na média, continuaria vantajoso em relação ao da CLT.

O fato a reter de toda essa discussão é que, ao que consta, o governo federal se inclina a reconhecer, tomando cautelas compreensíveis quanto à arrecadação de tributos, uma mudança importante no sentido da flexibilização do regime de trabalho. É preciso, no entanto, esperar o desfecho dessa novela para confirmar a impressão positiva.’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘‘O povo’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/10/05

‘Ana Paula Padrão, ao fechar a semana no ‘SBT Brasil’:

– Qualquer que seja o resultado, terá sido bom ao país. Debater e escolher no voto é exercício que só as democracias consolidadas conseguem realizar.

O MST não diria melhor, na sua defesa da democracia direta em sites como Brasil de Fato. Mas o referendo chegou ao fim com a goleada do ‘não’ e, na manchete de ‘O Globo’:

– Endurecimento da lei penal começa a ser discutido.

Entre outras, propostas como ‘redução da maioridade penal e pena de morte’ devem ganhar amplitude e o referendo ‘pode levar a novas consultas’.

Quando foi votar, ontem, Jair Bolsonaro, um dos líderes do ‘não’, já defendeu ao site da Agência Brasil o referendo sobre ‘redução da maioridade’.

De sua parte, o blogueiro Jorge Bastos Moreno postou que ‘o povo pode estar até errado’ no ‘não’, mas ele também quer mais consulta popular. Como João Pedro Stedile, quer ‘ouvir o povo sempre’. Para começar, sobre ‘liberação do aborto’.

Se a experiência do domingo indicou alguma coisa, é que na ‘democracia direta’ a pena de morte vencerá, provavelmente. E o aborto vai perder.

Como indicou Larry Rohter no ‘NYT’ de quinta, a oposição trata de culpar Lula pela vitória do ‘não’, por não garantir mais segurança pública.

Até governadores, como no caso de Aécio Neves, ontem na Band News, responsabilizam Brasília pela crise na segurança, uma atribuição estadual.

Mas o melhor ficou para os que pediam ‘sim’ e mudaram com as pesquisas. Cesar Maia, no Globo Online, se declarou ‘convencido por especialistas’ a desistir de votar ‘sim’:

– Em lugares como o Rio, o uso da arma é necessário.

NO JOGO

No ar, a nova campanha do Fome Zero

Sublinhando que o referendo deu ‘aos adversários a oportunidade de tirar uma casquinha de Lula’, o blog de Josias de Souza afirmou que, ‘em avaliações internas do tucanato, Lula, que chegou a ser considerado carta fora do baralho presidencial, voltou com força ao jogo’.

No ‘jogo’, foi ontem no horário nobre, como adiantou o blog de Fernando Rodrigues, a estréia da campanha do Fome Zero, eixo da eventual reeleição de Lula. Com um minuto, o primeiro comercial destacou uma adaptação da canção ‘Impossible Dream’, com novos versos:

– Viver este sonho impossível/ Lutar, não ter nada a temer/ Unir, se tornar imbatível… E do sonho que a gente sonhou/ Mudar esta grande nação.

No dizer do blog, ‘a idéia da campanha é emocionar’. E eleger Lula. Na locução do comercial, as ações do Fome Zero estão ‘devolvendo a esperança aos brasileiros’.

‘Mensalão’

Depois dos reclamos de Carlos Dornelles, ‘JN’ e ‘Fantástico’ noticiaram extensivamente o cheque do ‘tucanoduto’ usado para pagar dívida de campanha de Eduardo Azeredo.

Mas nada de manchete. Já na escalada do ‘SBT Brasil’:

– O mensalão tucano -o presidente do PSDB reconhece que recebeu dinheiro de Marcos Valério.

O blog de Claudio Weber Abramo avaliou que ‘não faz nenhum sentido’ cassar uns e poupar outros que fizeram ‘a mesmíssima coisa’. E Azeredo ‘é o caso mais gritante’.

‘Mensalinho’

Da escalada de manchetes do ‘Jornal da Band’:

– Nem o PSOL escapa. Um senador do partido é acusado de ficar com parte do salário dos assessores.

Em dois dias de manchetes no ‘Jornal do Brasil’, o episódio foi batizado de ‘o mensalinho de Geraldo Mesquita’.

O blog de Josias de Souza, com a nota ‘PSOL x PSOL’, registrou que a ‘primeira crise’ opõe a ‘estrela máxima da legenda’, Heloísa Helena, a ‘Geraldinho, como é conhecido’.

DESTRUIÇÃO EM MASSA

Prossegue a guerra civil no maior jornal do mundo, por conta de Judith Miller e as reportagens infundadas sobre as armas de destruição em massa do Iraque. No ‘NYT’ de sábado, a conduta da jornalista foi questionada pelo editor-chefe. Ontem, pelo ombudsman.

Mas o golpe mortal foi dado pela colunista Maureen Dowd, citando atitudes vexatórias da colega e dizendo que, se ela voltar à redação, ‘a instituição sob maior risco será este jornal em suas mãos’. Da CNN à blogosfera, a frase ecoou o dia todo, bem como o título ‘Woman of mass destruction’, mulher de destruição em massa.’