Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ministro diz para tomar
cuidado ao falar ao telefone


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 25 de julho de 2008


GRAMPOS & VAZAMENTOS
Alexandre Rodrigues


Cuidado ao falar ao telefone, avisa Tarso Genro


‘O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem no Rio que a correção de desvios de conduta praticados pela Polícia Federal não vai reduzir o combate à corrupção. Ao participar de ato público na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Estado, Tarso reconheceu que há excessos, como exposição de presos – mas defendeu que as mudanças para proteger investigados atinjam todas as classes, sem reforçar privilégios.


‘Há abusos? Sim. Temos que tratar deles, pois o inquérito com abusos prejudica a possibilidade da punição’, disse. Para ele, os protestos contra a PF ocorreram porque as operaações atingiram a elite.


Em tom de brincadeira, ele declarou que há muitos grampos ilegais no País. ‘Estamos chegando num ponto em que temos que nos acostumar ao seguinte: falar no telefone com a presunção de que alguém está escutando.’’


 


 


 


LÍNGUA PORTUGUESA
Leonencio Nossa


Portugal investirá 30 mi para expandir idioma


‘O governo de Portugal anuncia hoje um plano de expansão do ensino da língua portuguesa no mundo com investimentos de ? 30 milhões. A proposta será apresentada no sétimo encontro de chefes de Estado dos oito países que falam português, que contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de líderes de Angola, Timor Leste, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde.


Depois de 12 anos sem mostrar resultados práticos, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) anunciará ainda, durante a reunião que começa por volta de 9 horas, 5 horas em Brasília, um acordo que permitirá aos seus cidadãos recorrer a consulados e embaixadas de qualquer país do bloco. Um cidadão angolano poderá usar os serviços do consulado de Portugal em Paris, por exemplo. Lula e os demais chefes de Estado também discutem o combate à Aids, a falta de alimentos e a criação na cidade de Redenção, no Ceará, de uma universidade voltada especialmente para jovens africanos.


O encontro da CPLP ocorrerá no Centro Cultural de Belém, a poucos metros do Mosteiro dos Jerônimos. O mosteiro será palco da festa de entrega do Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa que, nesta edição, coube ao romancista português António Lobo Antunes.


O argumento do governo de Portugal de levar à frente um plano de remodelação do Instituto Camões, orçado em ? 30 milhões, é a maior presença no mercado do Brasil. Diplomatas brasileiros observam que o idioma é a única coisa que aproxima nações que seguiram caminhos tão diversos nos últimos séculos. Cada uma delas tenta tirar vantagens por usar uma língua que não é falada em nenhum país do G-8, grupo das nações mais ricas. Portugal vem ampliando o intercâmbio comercial com o Brasil. Já o governo brasileiro trabalha na melhoria das relações diplomáticas em países africanos que falam o idioma, atendendo a interesses da Petrobrás e da Vale, que têm investimentos na região.’


 


 


 


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Ditador diz que português será promovido a língua oficial


‘Teodoro Obiang Nguema, há 29 anos no poder da Guiné Equatorial, na África Ocidental, é um governante isolado. Anteontem foi a vez do rei Juan Carlos, da Espanha, de não aceitar um pedido de audiência, temendo a fúria de entidades de direitos humanos que acusam Nguema de massacrar opositores.


Mas o ditador conseguiu a proeza de ser aceito como ‘observador especial’ do sétimo encontro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Dos 500 mil habitantes da Guiné Equatorial, algumas dúzias podem entender ou falar algo da língua de Camões, avaliam diplomatas da CPLP. Nguema diz que uma comunidade descendente de ex-escravos de São Tomé e Príncipe na ilha de Annabon usa o português. Segundo o ditador, a língua será a terceira oficial do país, depois do espanhol e o francês.


Diplomatas avaliam, no entanto,que não era preciso expor a comunidade de Annabon para se aproximar da CPLP. A Petrobrás e empresas portuguesas e angolanas da área de petróleo e energia começaram parcerias com a Guiné Equatorial para extrair as reservas naturais do país.’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Microsoft vai reforçar aposta na internet


‘O fracasso da tentativa de comprar o Yahoo deixou a Microsoft mais flexível para concorrer com o Google, disse o presidente-executivo da gigante do software, Steve Ballmer, num de seus raros comentários públicos sobre a oferta, rejeitada pelo portal. Sem o Yahoo, o desenvolvimento de novas tecnologias e negócios no segmento de buscas na internet vai consumir mais dinheiro, admitiu, durante encontro anual com analistas financeiros. ‘Não vou negar que é uma grande aposta e que é arriscada’, disse o executivo. ‘Teremos de fazer uma aposta significativa para ficarmos em pé de igualdade nesse jogo’, completou.’


 


 


 


PROPAGANDA
O Estado de S. Paulo


Publicis cresce 5,4% e mídia digital avança


‘O quarto maior grupo mundial de propaganda, o Publicis, cresceu 5,4% no primeiro semestre de 2008 ante o mesmo período de 2007. A receita atingiu US$ 3,5 bilhões. O resultado por região mostra maior crescimento na África e Oriente Médio, com 17% da receita total. Segue a Ásia, com 9%; a América Latina, 7%; a América do Norte, 5,5%; e a Europa, 3,5%. Os negócios relativos à internet já representam 19% da receita, ante 13% em 2007. No Brasil, as agências que estão sob o guarda-chuva da rede são: NeogamaBBH, Leo Burnett, Publicis Brasil, Salles e F/Nazca Saatchi & Saatchi.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Caçada ao BBB 9


‘Os produtores do BBB9 dão início no próximo mês à caça por candidatos da nova edição do reality show da Globo, que estréia em janeiro de 2009.


Para tanto, eles prometem rodar dez Estados, entre eles, Rio, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Ceará e Pernambuco, e montar miniestúdios nas ruas para a captação de imagens com possíveis candidatos, e de vídeos hilários, claro, que muito rendem para a programação da emissora.


Além da caçada nas ruas, as inscrições pelo site (http://bbb.globo.com) permanecem.


Outra novidade programada é a ampliação da faixa etária dos participantes. A Globo garante ter interesse em candidatos com idades entre 35 e 45 anos e em selecionar pelo menos dois participantes com mais de 45 anos.


A abertura da faixa etária entre os BBBs tem um propósito: aumentar as diferenças entre os participantes e, com isso, os conflitos dentro da casa.


Por meio de sua assessoria de imprensa, a Globo informa que não tem mais detalhes sobre a seleção. Vale lembrar que a emissora renovou o contrato com a Endemol, dona do formato do Big Brother, até 2011.’


 


 


 


 


O Estado de S. Paulo


TVA lança decodificador em HD


A TVA lançou anteontem seu decodificador em alta definição. O equipamento estará disponível para os consumidores a partir de segunda-feira, por R$ 399, dividido em 10 vezes. O novo decodificador tem esse valor para assinantes novos ou antigos de qualquer pacote digital. A operadora cumpriu a promessa de lançar o aparelho antes da Olimpíada, o grande evento do ano para a divulgação da TV em HD. A TVA, porém, ainda não tem previsão do lançamento do DVR – o gravador digital – em alta definição, já disponível na NET. ETIENNE JACINTHO


Entre-linhas


Bena Lobo não conteve as lágrimas durante a gravação do Som Brasil sobre seu pai, Edu Lobo, que vai ao ar hoje, na Globo. No especial, Bena faz dueto com o pai na canção Na Carreira.


Saudades de Marjorie Estiano? A atriz estará em Caminho das Índias, próxima novela das 9 da Globo, de Glória Perez.


Ary Fontoura e Cláudia Raia travaram embate cênico digno de entrar para o ranking de cenas mais vistas no futuro do Vídeo Show. Com direito a cusparadas, a seqüência foi ao ar anteontem, em A Favorita. O Ibope reagiu com 39 pontos de média.’


 


 


 


MEMÓRIA / ZEZÉ GONZAGA
Roberta Pennafort


Morre no Rio a cantora Zezé Gonzaga


‘A cantora Zezé Gonzaga morreu ontem de madrugada, aos 81 anos. Nascida na cidade mineira de Manhuaçu, filha de um luthier e de uma flautista, ela morava no Rio desde a juventude. Na cidade, consagrou-se, chegando a ser uma das mais requisitadas da era do rádio. Zezé estava internada no Hospital Adventista Silvestre, que não divulgou a causa da morte. O velório e o enterro foram marcados para ontem à tarde.


Amigo de décadas e grande admirador, o compositor e produtor Hermínio Bello de Carvalho, para quem Zezé era ‘uma menina de 81 anos’, esteve ao seu lado até o fim, assim como os sobrinhos (Zezé tinha uma filha de criação, que morreu há nove anos; desde então, morava sozinha num apartamento na zona norte do Rio).


Foi Hermínio quem produziu Sou Apenas Uma Senhora Que Ainda Canta, o primeiro disco-solo e o penúltimo da carreira de 65 anos. O CD saiu em 2006, quando Zezé já estava com 76 anos, após 30 anos longe do mercado musical. ‘Só me davam versões ruins para gravar’, contou Zezé ao Estado, em 2002, quando retornou para lançar seu disco num bar na Vila Madalena. ‘Achavam que eu não era popular porque só escolhia coisas boas para gravar, porque tinha boa vontade para ensaiar e sabia ler música’, desabafou. Ela chegou a ser a cantora mais tocada na antiga Rádio Nacional numa época em que a concorrência era pesada: havia Dolores Duran, Nora Ney, Carmélia Alves, Violeta Cavalcanti. Mestres como Radamés Gnattali e Ary Barroso compuseram com exclusividade para ela.


Soprano ligeiro, estudou canto clássico e queria ser cantora lírica. Mas, um dia, aos 12 anos, foi participar do programa Rádio Clube do Brasil e acabou batendo 92 candidatas, ganhando um contrato. Acabou na música popular. Em 1969, aos 45 anos, desgostosa com os rumos que sua carreira tomava, ela se aposentou e abriu uma creche em Curitiba. Sumiu dos palcos. Uma década depois, o colunista Aramis Milarch comentou com amigos do Rio que sabia de seu paradeiro e Hermínio Bello de Carvalho foi atrás dela. ‘Hermínio, você está sabendo que eu não quero mais’, respondeu a cantora. Mas o convite era tentador: participar de um disco do violonista Valzinho (Norival Carlos Teixeira, irmão do compositor Newton Teixeira, famoso na década de 30 por tocar com João da Baiana, Pixinguinha, Luperce Miranda). Valzinho andava sumido. Ela acabou aceitando e gravou Valzinho, Um Doce Veneno (1979). ‘É bom a gente sentir que a voz ainda dá um caldo bom.’


Hermínio Bello de Carvalho também foi o responsável pelo projeto de Entre Cordas, o último trabalho de Zezé, lançado em fevereiro deste ano (são duas faixas gravadas para o CD e outras 11 resgatadas de gravações antigas por Hermínio, em que ela é acompanhada por músicos como Baden Powell e Raphael Rabello). Na ocasião, Hermínio disse: ‘Zezé, a temos perto de nós, ainda e por muito tempo. Cuidemo-nos para preservar seu brilho, polindo, com esmero, sua permanente luminosidade.’ Em 2003, ela sofreu uma queda ao subir a escadaria de um teatro, no Rio. O afundamento do osso esterno (no tórax) prejudicou sua respiração, o que atrapalhava seu desempenho. Perfeccionista, achava que não estava cantando como deveria. ‘Se não posso fazer bem, prefiro não fazer’, repetia. COLABOROU JOTABÊ MEDEIROS’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 25 de julho de 2008


CASO DANIEL DANTAS
Eliane Cantanhêde


Só para complicar


‘BRASÍLIA – Um monte de gente se deu mal, justa ou injustamente, com o inquérito do delegado Protógenes. Mas uma coisa é certa: a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) se deu foi bem.


Na apuração que deveria ser sobre Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta, quantos e quantas acabaram caindo no arrastão de grampos em telefones fixos, celulares, e-mails, MSN, até Skype? A esta altura, a Abin e a banda de Protógenes na PF têm um vasto dossiê, quer dizer, banco de dados, sobre tudo e todos. Pequenino exemplo: até detalhes da estratégia de defesa do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh para o italiano Cesare Battisti, sujeito a deportação.


Fica até engraçada a discussão sobre a inviolabilidade dos escritórios de advocacia. Na prática, eles já são grampeados há bastante tempo.


Qual a diferença de serem ou não investigados formalmente? O interessante é o elo entre chefiado e chefe. O chefiado é Protógenes, da PF. O seu chefe de fato é o da Abin, Paulo Lacerda, ex-PF, talvez o policial mais prestigiado na ativa hoje no país. Protógenes passa por cima do atual diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa (que abandonou o tiroteio para tirar férias), assim como Lacerda passa por cima do general Jorge Armando Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Até por isso, há quem diga que Protógenes e Lacerda só fazem o que querem. E a Abin e a PF estão fora de controle.


O ideal é que as energias se concentrem no inquérito e em Daniel Dantas, mas ocorre o oposto: eles passam, e as outras informações ficam. E ficam, para o bem ou para o mal, nas mãos da Abin e na PF de Lacerda e Protógenes. Muita gente, em especial no governo, está com várias pulgas atrás da orelha. Não custa lembrar o general Golbery do Couto e Silva, muitos anos e muitos sustos depois de criar o SNI (Serviço Nacional de Informações): ‘Criei um monstro’. A Abin é herdeira direta do ‘monstro’.’


 


 


 


Rubens Valente


Delegado afastado diz que investigação foi ‘obstruída’


‘Em ofício entregue à Justiça Federal na última sexta-feira, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que naquele dia deixou o comando da Operação Satiagraha com outros dois delegados, apontou suposta ‘tentativa de obstrução à investigação’ e citou alegadas pressões exercidas pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira, diretor de Combate a Crimes Financeiros da direção geral da PF, em Brasília.


O delegado narrou, no documento de 16 páginas, que, um dia antes das prisões da Satiagraha, Teixeira e o superintendente da PF em São Paulo, Leandro Coimbra, lhe cobraram a entrega da lista dos investigados contra os quais haveria mandado de prisão expedido pela Justiça Federal no âmbito da operação. Segundo Queiroz, Teixeira lhe fez vários telefonemas com os mesmos pedidos e teria dito ‘palavras de baixo calão’.


Numa das ligações, segundo Queiroz, Teixeira teria dito que, ‘do jeito que está sendo feito, o superintendente Leandro informou que não ocorrerá operação policial, bem como se ele [Teixeira] fosse superintendente em São Paulo, também procederia da mesma forma’.


Os mandados de prisão temporária contra o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e outras 20 pessoas haviam sido expedidos pelo juiz da 6ª Vara Federal Criminal Fausto De Sanctis no dia 4, sexta, três dias antes da reunião.


As prisões ocorreriam no dia 8, terça. Segundo o delegado, na noite anterior às prisões, por volta das 20h, ele foi chamado a uma reunião com Teixeira e Coimbra na sala do superintendente em São Paulo, quando lhe cobraram os nomes.


Queiroz escreveu que se recusou a entregar os nomes dos futuros presos, alegando que poderia haver vazamento e os investigados poderiam recorrer a um habeas corpus. A recusa gerou um bate-boca. O delegado disse que o pedido não seria um procedimento de rotina. A reunião que destituiu Queiroz do comando da operação ocorreu uma semana depois.


No ofício encaminhado à Justiça, o delegado apontou suposta falta de apoio à fase final da operação, principalmente a promessa não cumprida do envio de 50 agentes da PF para realizarem o trabalho de perícia do material coletado no dia 8 -o envio só foi confirmado depois da saída de Queiroz.


O delegado também afirmou, no ofício entregue à Justiça Federal, que sofreu ‘perseguição’ em quadras de Brasília desde janeiro deste ano, assim como outros integrantes da operação, conforme revelou a Folha na edição do último domingo.


A assessoria de comunicação da direção geral da PF, em Brasília, procurada ontem às 22h, informou que a polícia não iria comentar os ofícios de Queiroz e que a direção da instituição já se colocou à disposição da Justiça ‘para prestar todos os esclarecimentos’.


A assessoria de comunicação da superintendência da PF em São Paulo, procurada ontem por volta das 22h no telefone celular, não foi localizada.’


 


 


 


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Delegado reitera acusação contra repórter da Folha


‘O relatório final do delegado Protógenes Queiroz mantém referência à jornalista Andréa Michael, da Folha, como ‘integrante da organização criminosa’ de Daniel Dantas. O delegado suprimiu a afirmação, que constava da versão anterior, de que Michael havia escrito uma reportagem ‘sob encomenda’ de Dantas.


Em 26 de abril, a Folha publicou reportagem de Michael intitulada ‘Dantas é alvo de outra investigação da PF’. O texto antecipava, com exclusividade, detalhes da operação que seria deflagrada no dia 8 deste mês.


No relatório final, Protógenes diz que a reportagem ‘vazou informações, prejudicando sobremaneira a dinâmica’ da operação. O delegado havia pedido a prisão da jornalista e busca e apreensão em sua casa, ambos negados pela Justiça.


Quando teve acesso ao primeiro relatório de Protógenes, que embasou a Operação Satiagraha, o jornal divulgou o seguinte comunicado: ‘A Folha de S.Paulo repele insinuações de que o comportamento da repórter Andréa Michael não tenha sido correto. A repórter apurou fatos de notório interesse público relatados em texto publicado pela Folha em abril passado, no qual se noticiava que a Polícia Federal preparava a operação desencadeada hoje. Cabe às autoridades competentes manter dados desse tipo em sigilo. Tentativas de envolver a profissional da Folha no inquérito só podem ser entendidas como esforço inútil de intimidar a equipe de reportagem do jornal e retaliar quem cumpriu com sua obrigação jornalística’.’


 


 


 


GRAMPOS & VAZAMENTOS
Roberto Machado


Tarso prega cuidado ao falar ao telefone


‘O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou ontem que os cidadãos precisam se ‘acostumar’ com a idéia de que podem estar sendo grampeados ao falar ao telefone, porque a tecnologia atual permite que qualquer um intercepte ligações.


‘Estamos chegando num ponto em que temos de nos acostumar com o seguinte: falar no telefone com a presunção de que alguém está escutando’, disse, ao responder a uma pergunta durante uma reunião com advogados no Rio.


‘Se alguém quiser hoje escutar um telefone nosso, digo algum indivíduo, alguma instituição privada, tem meios para isso, dado o grau de sofisticação que a parafernália eletrônica chegou’, afirmou o ministro.


‘Numa verdadeira democracia, todo esse aparato estaria destinado para o cidadão controlar o Estado, e não o Estado ou as instituições privadas controlarem a cidadania. E é esse o caminho que temos que chegar para construir uma democracia substancial.’


Segundo Tarso, o governo estuda propostas de alteração da legislação que regulamenta o uso de grampos telefônicos com autorização judicial. Entre elas, a destruição de conversas íntimas e pessoais que não tenham relação com a investigação e não configure crime.


Algemas


O ministro afirmou ainda que a conveniência ou não do uso de algemas em prisões está em discussão porque atinge agora o que chamou de elites. Ontem, ele usou o que chamou de ‘metáfora das algemas’ para defender as recentes ações da Polícia Federal no combate à corrupção- ainda que tenha também criticado o que classificou de ‘excessos’ da Operação Satiagraha.


De acordo com o ministro, a discussão pública sobre o uso das algemas ganhou força quando elas ‘começaram a alcançar certos setores da sociedade’ e que, no caso da investigação contra o banqueiro Daniel Dantas, essa discussão ‘não pode ser argumento para anular a virtude da operação’.


‘A contribuição que está sendo dada pelas elites do país, ao reclamar de eventuais lacunas na lei, que agora elas estão percebendo porque os inquéritos estão chegando à sua vida comercial e pessoal, é uma contribuição importante, só que não pode ser compreendida como um processo de reformas para consagrar privilégios’, disse.


O ministro participou de um ato público promovido pela seção carioca da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em defesa da investigação de crimes de colarinho branco.


Numa referência indireta à atuação de Daniel Dantas no processo de privatizações no país, Tarso afirmou que os crimes de colarinho branco ‘se convertem incessantemente em negócios legais e ilegais’. ‘Eles geram um processo de acumulação perversa, distorcendo o elemento vital do próprio capitalismo, que é a concorrência dentro do sistema normativo dos mercados.’’


 


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Povo do mundo’


‘O ‘New York Times’ entrou com vídeo da MSNBC, o Drudge com a CBS, o Huffington Post com a CNN. Era o discurso de Barack Obama em Berlim, como John Kennedy em 1963. Depois o ‘NYT’ ressaltou do discurso as ‘relações com a Europa’, mais o ‘mar de gente’. Drudge deu de manchete ‘Parada do amor’, mais, como o HuffPost acima, ‘Povo de Berlim – povo do mundo – este é o nosso momento. A nossa hora’.


‘Washington Post’ e ‘Wall Street Journal’, mais conservadores, destacaram ‘unidade contra o terror’.


OBAMA LÁ E CÁ


O comício global fez manchete também por aqui, com destaque para os ‘200 mil’, por Globo Online, ‘Jornal Nacional’ etc. No site da alemã ‘Der Spiegel’, cuja edição proclamou Obama ‘superstar’, o editor de exterior ironizou que ele ‘vai se tornar o 44º presidente dos EUA’, afinal, ‘é mais do que ambicioso -ele quer ser o presidente do mundo’


DEPRESSÃO


Na manchete à noite, no site da ‘Economist’, ‘Obamamania toma a Europa’, sublinhando o ‘discurso bem-sucedido para a multidão em massa’ de Berlim.


Em contraste, a nova capa da revista, que saiu horas antes (dir.), fala da ‘América infeliz’.


Mais: ‘glum’, melancólica, ‘uma nação batida’ que hoje lamenta a guerra, a crise de crédito imobiliário, que teme ser ultrapassada pela China, que se vê em ‘declínio’. Pode até estar, afirma o editorial da revista para animar a América, mas demora um pouco.


MANDELSON/SARKOZY


Via France Presse, Nicholas Sarkozy ameaçou não assinar o acordo de Doha. Mas pela mesma agência o comissário europeu de comércio, o inglês Peter Mandelson, ‘deu de ombros’ e disse ter mandato para negociar pela Europa. Mais até, no ‘International Herald Tribune’, vislumbrou um acordo ‘potencialmente mais próximo do que nunca’.


AMORIM/STEPHANES


O ministro da Agricultura, também contra o acordo, a exemplo de Sarkozy, detonou a Rodada Doha e o próprio chanceler brasileiro, ontem em ‘O Estado de S. Paulo’. Repercutiu até no ‘Economic Times’, da Índia. Na BBC Brasil, Celso Amorim reagiu com ironia ao lobby, dizendo que ‘ele deve achar que eu estou me divertindo, aqui’.


A CHAVE


O ‘WSJ’ perfilou Kamal Nath, um aliado de Amorim e representante da Índia nas negociações. Avalia que seu papel é ‘chave’ e sublinha que ele nega desejar o fracasso de Doha -dizendo estar ‘keen’, ansioso pelo acordo comercial global, ‘mas não em prejuízo de milhões de pobres’


IMPRENSA EMERGENTE


O ‘NYT’ noticiou discretamente ontem que seu lucro líquido no segundo trimestre caiu de US$ 118 milhões em 2007 para US$ 21 milhões este ano. Já a ‘Economist’ deu que ‘pode não servir de consolo aos escrevinhadores do mundo rico, mas em muitos países em desenvolvimento a imprensa está bombando’ (booming). Aqui, por exemplo.’


 


 


TELEVISÃO
Folha de S. Paulo


TVA LANÇA DECODIFICADOR COM CONVERSOR DIGITAL


‘A TVA lançou em São Paulo um decodificador apto a receber o sinal da TV digital aberta. O aparelho, que pode ser adquirido em dez parcelas de R$ 39,90, será cedido em comodato e deve ser lançado no Rio após a Olimpíada de Pequim. Em alta definição, além da programação dos canais abertos transmitida nesse formato, os clientes terão o SporTV HD. A NET já lançou aparelho semelhante, que tem ainda a função de gravador.’


 


 


 


MEMÓRIA / ZEZÉ GONZAGA
Sergio Torres


Morre Zezé Gonzaga, cantora da era do rádio


‘Cantora admirada por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e Radamés Gnattali (1906-1988), Zezé Gonzaga morreu ontem no Rio de Janeiro, aos 81 anos, no Hospital Adventista Silvestre (zona sul). A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.


Sem família -sua filha de criação morreu em 1999-, Zezé morava sozinha em um apartamento nas proximidades da praça da Bandeira (zona norte do Rio).


Foi hospitalizada dois dias antes de morrer, com um quadro grave de desnutrição, de acordo com amigos.


Nascida Maria José Gonzaga, em Manhuaçu (a 290 km de Belo Horizonte, na Zona da Mata de Minas Gerais), a cantora completaria 82 anos no dia 3 de setembro.


No início do ano, por iniciativa do amigo, produtor, letrista e poeta Herminio Bello de Carvalho, foi lançado seu último disco, batizado ‘Entre Cordas’.


À Folha, por telefone, enquanto se dirigia ao velório realizado na Câmara de Vereadores do Rio, cidade em que Zezé se radicara a partir de 1945, Herminio, 73, lembrou que, para lançar o disco pela gravadora Biscoito Fino, teve que recorrer a seu acervo de gravações raras, pois ela já não manifestava muito interesse em ir para o estúdio.


Mesmo assim, por insistência do amigo, Zezé gravou duas canções e duas vinhetas para o trabalho. As demais faixas trazem interpretações em programas de TV que Herminio comandou entre 1983 e 2002. No repertório, dois temas de Villa-Lobos e ‘Amargura’ (Radamés Gnattali/Alberto Ribeiro).


‘Seu último disco é uma ode ao canto brasileiro. Era uma mulher fantástica, a grande mestra do canto brasileiro’, afirmou ele.


Gravações perdidas


Para Herminio, material inédito de Zezé Gonzaga só existe no acervo da extinta TV Educativa (hoje da rede TV Brasil). Ele conta que fracassou na tentativa de obter a liberação das imagens e áudios de programas gravados com a cantora nas décadas de 70, 80 e 90.


‘A TVE a devolveu ao anonimato. Eu não consegui os programas que fiz com ela. Dariam para fazer um belíssimo disco’, lamentou.


Autor (com o letrista Paulo César Pinheiro) de ‘Senhorinha’, canção de abertura de ‘Entre Cordas’, o compositor e cantor Guinga, 58, comoveu-se quando informado pela Folha da morte da amiga.


Entre soluços, Guinga disse considerá-la ‘um gênio, uma maravilha’.


‘Eu conhecia Zezé havia muito tempo. Participei com ela das filmagens de ‘Brasileirinho’ [documentário do finlandês Mika Kaurismäki sobre músicos e música brasileira lançado no ano passado nos cinemas do país], com ‘Senhorinha’, contou ele.


A saúde de Zezé Gonzaga vinha piorando desde 2003, quando, em um teatro no Rio, caiu de uma escadaria. Na queda, feriu a boca gravemente e sofreu afundamento do osso esterno, na caixa torácica, o que, dizia, passou a atrapalhar sua respiração, especialmente ao cantar. Perfeccionista, resolveu evitar gravações e shows, pois alegava dificuldades no canto.


Amigo de Zezé, o jornalista, escritor e letrista Sérgio Cabral, 71, definiu-a como ‘uma cantora encantadora’.


‘Zezé era realmente uma grande cantora. Muito digna, muito cuidadosa nas músicas. Tinha um repertório maravilhoso. Ela falava muito bem da época do rádio, das amigas cantoras. Era uma boa colega, uma pessoa de fácil convivência. A preferida de Radamés Gnattali’, disse Cabral.


O enterro de Zezé Gonzaga aconteceria no final da tarde no cemitério de São Batista, em Botafogo (zona sul).’


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