Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Morrem o JB e os jornalistas do futuro

Estes são os primeiros dias de um novo futuro para o jornalismo no Brasil. Data simbólica, claro, como a própria data da nossa independência, que não é 7 de setembro, conforme me lembrou Alberto Dines mês passado, num bate papo sobre o amigo ‘JB de papel’, então fadado à morte. Lamentávamos sem muito mais o que dizer sobre a doença terminal do ente querido.


Romantismo à parte, na terça-feira (31/8) morreu a versão impressa do Jornal do Brasil (após alguns dias de coma induzido e mais de duas décadas diagnosticada com várias doenças terminais) e morreram também, só que ninguém se deu conta, todos os jornalistas do futuro.


Há aproximadamente vinte mil jornalistas vivos em atividade atualmente no país, número que triplica se somados aos mortos desde 1891, e seguramente não há um único, entre esta massa crítica (mortos e vivos), que não tenha sido afetado (quantos teriam sido positivamente ‘influenciados’?) pelo Jornal do Brasil. Seja na sua própria redação, seja como concorrente, seja como estudante de faculdade, incluindo as fábricas de pãezinhos que fornecem um diploma tão válido quanto uma Cásper Líbero, PUC, UFRGS e outras poucas em linotipo caixa alta (com o perdão por não citá-las aqui).


Toda essa população, que encheria a metade do novo estádio de São Paulo africanamente ainda por ser construído para a abertura da Copa do Mundo de Futebol de 2014, representa o jornalismo do futuro no Brasil. Pois terça-feira (31) foi o fim do futuro do passado, ponto.


Todos comentaram, refletiram, deram suas opiniões, no mínimo passou pela cabeça de cada um alguma frase, ou palavrão, sobre a morte do JB. O somatório verbal do inconsciente coletivo convida à conclusão de que a maioria estava contrariada com essa morte por intenção dolosa. Mas ninguém contestou com força suficiente para mudar o curso da história; ninguém se rebelou com a vibração das antigas guerrilhas dos tempos pasquinianos, nenhum carbonário do Pedro II ou do Andrews, tampouco nenhum nobre decadente da marginália foi capaz de derrubar o túmulo que se construía em torno do edifício 500 da Av. Brasil, no Rio. Nasceram, viveram, lutaram pelo futuro, chegaram lá e morreram, ou se transformaram em outra coisa, o que dá no mesmo. Todos. Vale à pena ler ‘Adeus às Armas Jornalistas do Brasil’.


Outros tempos


Começa hoje o início do próximo futuro, fazendo brotar uma nova cultura de profissionais da imprensa, player da mídia, de jornalismo e áreas periféricas, do mesmo modo de qualquer recomeço, após uma catástrofe, queiramos ou não que seja assim este reinício pós JB. Afinal, fica mais fácil quando temos algo simbólico para (cartesianamente) separar etapas da vida, seguir em frente.


E seguir em frente significa parar de discutir o óbvio, o que é jornalismo; chegar a um acordo sobre a formação do jornalista profissional, ora, não pode ser informal e a faculdade não é a única forma de aferir esta formalidade, assim como a ciência não é referência máxima para da sabedoria; mídia e imprensa são lugares diferentes, nunca a clínica literária do uso das acepções foi tão necessária; assessor de imprensa não é jornalista, é uma atividade importante, está inserida no mundo capitalista (foi criada por ele), mas não é jornalismo, assim como não é a de relações públicas; por fim, o meio físico da veiculação do produto do jornalista não importa, o meio cada vez mais estará à frente do tempo real, este sim é um futuro intangível.


Lidemos com o fato: o que temos para hoje, agora? Internet, papel, leitor eletrônico, dispositivo móvel, travesseiro para hipnopédia? Ok, bota um título em cima, e escreve (texto, voz, imagem em movimento), ou o inverso, e não pára de estudar, seu filho de um jornalista gregoriano; 24 horas, 365 dias por ano.


Por falar nisso, pirâmide (invertida) também é coisa do passado. Renove-se, pois nem o deadline existe mais.

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Jornalista e escritor