Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Muito além do papel e da tinta

Rodolfo Walsh, Ryszard Kapuścinski, Joel Silveira, Gay Talese e Truman Capote que me desculpem, mas novo jornalismo mesmo é outra coisa. Usar as ferramentas da literatura foi uma grande sacada – na década de 60. Hoje, quase 50 anos depois das primeiras reportagens literárias, o new journalism ainda é causa de fetiche nas universidades. Mas existe uma nova fronteira à frente, com infinitas boas ferramentas para contar histórias, muitas delas ainda nem sequer descobertas. Estamos falando das fronteiras do digital.

Alguns dirão que jornalismo é jornalismo, como sempre foi o bom e velho jornalismo, e que o resto é firula. Acontece que não é bem assim. Primeiro porque jornalismo, como conhecemos hoje, com regras éticas, existe mesmo só há algumas décadas. No Brasil, o código de ética da profissão é da década de 80. E se voltarmos um pouco antes ainda, lembremos que existia o sujeito que saía para a rua para buscar as histórias – o repórter – e o sujeito que ficava na redação, escrevendo em bom português, o redator. Repórter não precisava necessariamente saber português.

Não é de hoje, portanto, que a função dos jornalistas se altera. Com a transformação dos átomos em bits, as coisas ficam mais complexas. Vemos de perto essa transição: repórteres multimídia, convergências, novas narrativas. Uma vez que a habilidade de tirar fotos num celular, escrever em 140 caracteres, filmar e editar vídeos é algo que uma criança já faz, é difícil imaginar que isso não será um pré-requisito quando essas crianças estiverem chefiando uma redação. E isso pode ser encarado de duas maneiras.

Nomes não são tão conhecidos

Uma delas é considerar isso um problema; quem pensa assim viverá como viveram os jornalistas nas últimas décadas – poderá se tornar muito bom em uma especialidade, desenvolver habilidades de reportagem ou edição (no texto, rádio ou TV), seguir uma carreira monomídia.

Outro jeito é ver a oportunidade. Os que enxergam assim poderão fazer tudo o que o sujeito acima faz, mas também terão a chance de criar um novo jeito de fazer jornalismo. Reinventar o jornalismo. Usar ferramentas de outros campos, fundir as mídias, experimentar a interatividade, o poder das redes e da colaboração. Criar algo que nunca existiu. Uma nova linguagem. Um novo jornalismo. Ninguém sabe, ainda, o que será isso. Os caminhos não estão traçados.

Andrew DeVigal, Adrian Holovaty, Brian Storm, Felipe Lloreda e Alberto Cairo são alguns dos que praticam o melhor deste novo novo jornalismo. Não são nomes tão conhecidos. Talvez porque não haja mais espaço para um Talese ou um Capote – meia dúzia de nomes que reinventaram o jornalismo. Ou talvez porque, agora, todos nós possamos fazer isso.

P.S.: Este texto é inédito e faz parte da coletânea Novos Jornalistas – Para entender o jornalismo hoje, organizada por Gilmar Silva e Gustavo Dore para o curso Digital Journalism da Keio University, a ser lançado em julho. Acompanhe mais pelo blog http://novosjornalistas.wordpress.com/

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Jornalista, editor do www.jornalismodigital.org e diretor da www.flimultimidia.com.br