Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Não dá para entender ser tirado do ar no meio de um programa’

Jorge Kajuru fala o que pensa. Sem medos, sem arrependimentos. É isso que conquista o público e o torna atraente para emissoras de TV. A Band, última a ser fisgada pelos encantos do jornalista, parece ter se arrependido no início de junho. O caso de amor – regado a altas audiências – durou pouco mais de um ano e depois se transformou em novela.

Apresentador dos programas Esporte Total e Show de Bola, Kajuru incomodou a emissora quando abordou um assunto delicado envolvendo as Casas Bahia, seu maior anunciante. Foi suspenso por uma semana, com a desculpa de que estava precisando descansar um pouco. Revigorado, o jornalista voltou a incomodar na quarta-feira, 2/6, ao criticar, ao vivo, o grande número de convidados da CBF e do governo de Minas Gerais ao jogo da seleção brasileira contra a Argentina. Direto do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, Kajuru chamou o comercial, e não mais voltou. Foi cortado do ar ao vivo.

Em entrevista ao Observatório, ele se diz censurado e estarrecido com a situação que culminou com o anúncio de sua demissão, uma semana depois do episódio.

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A Band tirou você do ar no meio de um programa ao vivo. Isso foi censura?

Jorge Kajuru – Censura das mais absurdas. Mostra que vivemos em um país onde, em vez de liberdade de imprensa, temos liberdade de empresa e de autoridade. É um retrato da fragilidade econômica dos veículos de comunicação do Brasil. Não dá para entender ser tirado do ar no meio de um programa. Eu estava simplesmente retratando o que todo mundo estava vendo: a grande quantidade de convites distribuídos pelo governo de Minas Gerais e pela CBF. Em nenhum momento ofendi o Aécio Neves. Apenas um dos torcedores que eu entrevistei deu sua opinião e falou que aquilo era ‘farra do governador’. Eu mantenho minha crítica ao número de convites distribuídos, mas não ofendi ninguém. Se a emissora não estava gostando do que eu estava falando deveria ter chamado minha atenção, mas não me cortado do ar.

Você sabia que estava sendo cortado?

J.K. – Não. Na hora me disseram que a emissora estava com problemas técnicos e que por isso eu não poderia voltar.

Quando decidiu por sua demissão, a Band não se pronunciou sobre o caso durante uma semana. A emissora discutiu o assunto com você durante esse período?

J.K. – Não. Não recebi nada por escrito nem explicação. Do dia 2/6, quando fui tirado do ar, até o dia 9/6, quando saiu a demissão, não recebi nenhuma comunicação sobre o assunto. A Band propôs que eu fizesse uma retratação pública, o que eu não aceitei, já que não considero que tenha ofendido alguém. Foi decidido então que ela faria uma rescisão amigável do meu contrato, eu receberia meus direitos, multa pela rescisão etc.

Como a emissora justificou a demissão?

J.K. – Não me deram justificativa. Disseram que a crise que havia sido criada era difícil e que não dava para revertê-la. Pessoas de dentro da Band já me falaram que minha demissão já estava acertada desde o episódio das Casas Bahia, um mês antes. Na ocasião, a emissora também propôs que eu me retratasse publicamente. Não aceitei porque não havia feito nada de errado. Apenas falei sobre a entrada de dinheiro nos clubes de futebol. Não acusei as Casas Bahia.

Sua demissão foi injusta?

J.K. – Completamente. A Band sabia como eu era quando me contratou. Só que quando eu criticava outras emissoras no ar, ela gostava, eu era aplaudido. Quando passei a criticar também a própria Band, comecei a incomodar, mas eles achavam que não tinha problema, que isso serviria para mostrar como a emissora era aberta, democrática. Nos últimos cinco meses, eu fui a maior audiência da Band. Me colocaram para apresentar três programas, dois deles diários, ao vivo. Anunciaram que eu comandaria a cobertura das Olimpíadas. Por isso, fico estarrecido com esta situação toda. Hoje, tenho a certeza de que o governador de Minas apenas fez uma reclamação dos meus comentários, mas, em nenhum momento – como chegou a ser dito – pediu minha demissão. É claro que para mim seria muito cômodo deixar o Aécio levar a culpa por eu ter sido demitido. Não faço isso porque simplesmente não é verdade; ele não é o culpado desta situação.

O que mais o incomodou neste caso?

J.K. – Fico chateado com a situação em si e em como ela está sendo tratada. Não gostei da matéria que saiu na revista Veja, por exemplo. Foi tendenciosa e patronal. O jornalista me ligou e conversamos por meia hora. Nada do que eu falei está na matéria, que está cheia de mentiras. Ele disse que eu chorei quando fui demitido. Veja se tem cabimento? Afirmou que a Astrid [Fontenelle] é meu desafeto, quando na verdade somos amigos. Falou que no episódio com o boxeador eu simplesmente o chamei de covarde, mas não colocou que antes ele havia me chamado de burro.

Você é um dos jornalistas mais processados do Brasil. Por que tanta gente o processa?

J.K. – Para estas pessoas, a maneira mais fácil de me calar é pelo dinheiro. A maioria dos processos contra mim pede dinheiro. Estas pessoas acham que honra tem preço, que basta eu pagar que tudo se resolve. Honra não tem preço. Por isso eu nunca processei ninguém.

Você aborda abertamente no ar assuntos que incomodam a muita gente. Não tem medo?

J.K. – Sou um jornalista. Meu trabalho é falar o que vejo, o que sinto. Uso o espaço na mídia para isso. Eu sou desse jeito, isso não é marketing. Essa é a minha postura, nasci com ela e não posso mudá-la. Postura é assim: ou você tem ou não tem.

Já tem planos de trabalhar em outra emissora?

J.K. – Só algumas sondagens, mas nada concreto. Aos 43 anos, eu me dou o direito de escolher onde quero trabalhar. Hoje, só trabalharia em duas emissoras abertas no Brasil: o SBT e a Globo. O SBT porque, como eu já cansei de dizer, foi a melhor casa onde trabalhei até hoje. É um lugar que dá uma alegria de trabalhar que é rara. Mas no SBT eu acho difícil ser chamado porque eles não têm esportes. A Globo, não sei se me chamaria, por causa do meu estilo. Mesmo assim, antes de eu ir para a Band, eu conversei com a Globo por cerca de dois meses. Na época, eu não queria ir para a Band; quem me convenceu foi o meu grande amigo-irmão [José Luiz] Datena. Foi um erro e eu não quero errar de novo. Gostaria de trabalhar também em TV fechada, mas ainda não recebi nenhuma proposta.