Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Não faça do jornalismo uma arma

Acabo de me perceber uma expressão neológica que tenta explicar minha reação apática à onda de mau jornalismo que açoita o Brasil, fustiga apenas um lado, o PT, e avança no destrambelhamento sobre qualquer forma sensata de se fazer jornalismo neste país: ‘A euforia paradoxal de desempregado’ equivalente à Síndrome de Estocolmo, que faz a vítima se torne fã do seqüestrador…

Sim, me sinto feliz por não ter que trabalhar para algum patrão e me sentir comprometido, no momento, com qualquer participação, com a sintomatologia deste modo infeliz de fazer jornalismo: o tucanismo atual. À sombra dele desenha-se cruel a sombra do ‘capitão de mato’ – com o punhal pronto a cravar nas costas do nosso povo ‘negro fugido’ – chamado PFL, que nem mereceria aspas de qualificação como uma figura odiosa da escravidão por ser parido na escuridão do que há de pior em nossa história colonial, como, exatamente a atual crise (me ajude Nelson Tanure, equivalente ao auto-açoitamento xiita neomasoquista).

Não, nem sequer suponho que o neo-herói sem nenhum caráter do dedodurismo nacional, senhor Roberto Jefferson, este arremedo de palhaço marqueteiro que será lembrado na história como o novo Pedro Malazarte da política nacional, tenha a ver diretamente com o diarião (de mais de 500 anos) do representante máximo da caterva latifundiária, a ‘Frente Liberal’.

Um pouco de semancol

Gostaria, mas sinceramente não consigo, citar exemplos deste tipo de informação errônea denuncista que assola quase todos os meios de comunicação em nossa terra, tal o tsunami de abobrinhas que pipocam de todos os lados. Decido-me apenas a escolher um formato que tem se tornado constante de edição no, infelizmente, principal veiculo informativo do brasileiro, o Jornal Nacional. Não há uma matéria sobre a maldita crise que não seja fechada pela boca de um prócer do PSDB (a mando dos ex-aliados) ou mesmo diretamente de um deputado ou senador do PFL falando sobre tudo com absoluta impropriedade e não-oportunidade. Sim, a última palavra sempre será dos que combatem nesta trincheira que a única frase feliz do senador Sarney definiu como a ‘vanguarda do atraso’, o partido supracitado.

Não sou portador de nenhuma carteirinha do PT, nem sequer a mais remota titularidade de simpatizante. Gostaria apenas que percebessem, nesta maré alta de infâmia que, aos nossos colegas tucanados pelo medo do desemprego ou à espera de algum dividendo ilícito com as atuais atitudes libertinas e, principalmente, em relação à sua absoluta e concreta falta de pensamento e consciência, que somos vítimas, uma das primeiras deste tipo de denuncismo masoquista.

Lembrar a todos – que, graças à pluralidade de faculdades de Jornalismo, formam o tipo de companheiro-bomba que se atira, das trincheiras de uma Folha de S. Paulo, do Estadão, da Globo ou, infelizmente, qualquer atual veículo jornalístico de qualquer porte e rincão nacional, numa simplória e pouco apurada denúncia – uma frase modificada de uma velha campanha de trânsito: ‘Não faça do jornalismo uma arma, a vítima pode ser você’.

No momento, o remédio é simples: um pouco de semancol e maior rigor com as palavras. Não quero ser autor de uma futura sociologia neoliberal dessa Síndrome de Pôncio Pilatos Desempregado.

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Jornalista