Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá

‘A inda se questiona, sobre Paulo Maluf, se ele vai ou não se candidatar a prefeito de São Paulo.

O novo comercial em que o ex-prefeito recebe ‘uma homenagem do Partido Progressista’, que está no ar, não deixa muitas dúvidas.

‘Populares’ que mais parecem coadjuvantes de ‘pegadinha’ surgem dizendo, ininterruptamente:

– São Paulo tem a cara do Maluf… Foi o melhor prefeito que São Paulo já teve… A gente trabalha na rua e vê as obras que ele faz… O que mais fez por São Paulo foi Maluf.

E tome imagens de Cingapura, do túnel Ayrton Senna, do próprio ex-prefeito. E mais ‘populares’:

– Maluf tá no coração… É Maluf no coração… Maluf tá no coração.

Por fim, o slogan:

– Maluf e São Paulo, um só coração.

Os novelistas Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, da mininovela ‘Um Só Coração’, soltaram e-mail afirmando que não aceitam o uso do título ‘de forma melíflua pelo senhor Paulo Maluf’.

É só um dos problemas do comercial. Com Duda Mendonça, o marketing malufista certamente não arriscaria um questionamento da Globo -que já notificou o PP.

Mas acima de tudo não soaria tão primário, quase amador.

George W. Bush está em seu pior momento.

Bill O’Reilly, âncora que simboliza a Fox News e o neoconservadorismo americano, cumpriu uma promessa feita no ano passado.

Na cobertura da guerra, ele disse que se desculparia na ABC, rede liberal, caso não se encontrassem armas de destruição em massa no Iraque.

Ontem, ele dizia à ABC:

– Eu estava errado. Não estou satisfeito com isso de jeito nenhum e creio que todos os americanos deviam estar preocupados com isso.

Disse estar ‘muito mais cético em relação à administração Bush’ e previu para este ano uma eleição disputada.

Na Igreja Católica, agora até a CNBB, de causas respeitáveis no passado, sai a campo contra a camisinha.

Segundo a rádio Bandeirantes, os bispos brasileiros estão ‘acusando o governo de incentivar a infidelidade’. Para alguns, é a CNBB que está a incentivar a Aids.

Não importa, o Ministério de Saúde é laico e anunciou afinal ‘a compra, numa concorrência internacional, de 400 milhões de preservativos’.’



ECOS DE MÁRIO COVAS
José Paulo Lanyi

‘Cobertura esquizofrênica’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 11/02/04

‘A morte de Mário Covas, há três anos, me revelou um pouco mais sobre esse bicho estranho chamado jornalista. Por três anos eu acompanhara o cotidiano do governador, por obra de uma missão a um só tempo política e profissional. A primeira porque enxergava em Covas a sobriedade, o espírito de luta, a coerência e a capacidade que rareavam, mesmo nas fileiras de seu partido: a par de seus defeitos, via naquele homem um ser comprometido com o seu ideário.

Isso pesou quando recebi o convite para divulgar as ações do seu governo e, posteriormente, integrar a equipe de sua campanha de reeleição. Foi a minha primeira e única experiência como jornalista que não exerce o jornalismo (assim considero o trabalho em assessoria).

Acabara de dar as minhas aulas em uma faculdade, quando me falaram de uma vaga na equipe de rádio que divulgava as ações do governo de São Paulo. A princípio não gostei, nunca tinha feito e minha alma está na redação. Mas as contas se avolumavam, não havia horizonte e – o que pesaria em minha decisão- aquela era a administração de um cara que eu respeitava. Fiz uma comparação e concluí: ‘Se fosse com o Maluf, jamais’.

Depois, alguns colegas retrucariam: ‘Com o Maluf, sim, nunca diga que não vai beber dessa água’. Maluf? ‘Só se eu tivesse filhos e eles estivessem definhando de fome na sarjeta’- respondia. Se bem que- entre nós- eu acabaria optando por pedir esmolas.

Quando Mário Covas morreu, impressionei-me com a consternação e, sobretudo, com a abundância de elogios dos jornalistas à sua biografia. Foi de ‘grande estadista’ para cima. Santificaram o homem, os mesmos que, por anos a fio, se esfalfaram de ver-lhe apenas os pontos fracos- e de ignorar-lhe os fortes.

Dá para entender, é compreensível e humano meter um muro entre a vida e a morte de qualquer sujeito. Mas eu creio que o público deve ter achado que a mídia é esquizofrênica. Nem mesmo o exercício da crítica inerente ao nosso ofício poderia justificar essa cisão.

É aqui que eu quero chegar: a cobrança das ações políticas deveria nortear-se pelo equilíbrio, não por essa atitude adolescente do tudo ou nada. Fiquei surpreso. Sabia que Mário Covas era respeitado, mas não ao marco da reverência. Vi vários jornalistas sérios, gente de redação chorando. A atmosfera era a de aquela era uma morte ‘sem reposição’.

Eu mesmo perdi o pouco do ímpeto que ainda me restava para fazer o meu trabalho. Não admirava o PSDB – como não incenso partido político algum. Apreciava Mário Covas. Ele não era um deus ex machina da vida pública nacional- como chegaram a exaltar os mais atordoados. Cometera os seus erros e, em alguns momentos, chegou a enfrentar denúncias de corrupção contra os seus colaboradores – o que muito me intrigou.

Não, Covas não era santo, era político. Bastava-nos, contudo, analisar-lhe a vida e a obra para definir, com rara clareza, o capítulo que lhe estaria destinado pelas páginas da História – não de São Paulo ou do Brasil, mas da Democracia universal.

A cobertura jornalística esquizofrênica deve ter confundido o público. O exagero da crítica, contra ou a favor (nessa ordem), não é fruto solteiro do espírito combativo e da contrição que absolve os mortos. É uma cultura nas redações.

Sou dos que acham construtivo exaltar as ações corretas de qualquer governo. Malhemos as ruins e reconheçamos as que valem a pena. A maioria, contudo, acha que governo é um ente inumano, robótico.

Muitos não têm noção de que mesmo os políticos e funcionários públicos são encorajados por estímulos positivos. É duro trabalhar assim: se faz mal, leva bordoada; se faz bem, não é mais do que a sua obrigação, está lá porque quis e porque pagamos impostos.

Boas ações extrapolam o mundo-cão da política; boas ações públicas beneficiam a sociedade, a massa, o povo que se derrete na boca dos idealistas.

Com prudência e discernimento – sem sucumbir ao jogo dos mesquinhos lá de cima -, temos o dever de elogiar o que merece ser elogiado. Depois da morte dos outros será tarde – ao menos esquisito. Dá a impressão de que só somos justos pelas costas’.



FOLHA CONTESTADA
Painel do Leitor, Folha de S. Paulo

‘Prefeitura’, in Painel do Leitor, copyright Folha de S. Paulo

’14/02/04

‘O texto ‘Dívida de SP supera limite pelo segundo ano’ (Cotidiano, 10/2) errou ao informar que a prefeita Marta Suplicy estaria descumprindo a lei. A resolução nº 20, publicada pelo Senado em novembro de 2003, amplia o prazo e suspende a obrigatoriedade de cumprimento dos limites de endividamento estabelecidos pela resolução nº 40, de 2001. De acordo com a nova resolução, os Estados, os municípios e o Distrito Federal têm até 30 de abril de 2005 para se ajustar aos limites fixados. Essa informação foi passada ao jornalista, mas o jornal até o momento não publicou a correção necessária.’ Bárbara Bortolin, assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico de São Paulo (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Roberto Cosso – O fato de os prazos terem sido prorrogados não significa que a prefeitura esteja cumprindo a resolução. O próprio Orçamento municipal deste ano prevê apenas o pagamento da correção monetária da dívida, sem destinar verbas para os juros. Dessa forma, a dívida municipal em 2005 continuará excedendo os limites da resolução nº 40, de 2001. Os leitores da Folha tiveram conhecimento da resolução nº 20, de 2003, na edição de 7/11/2003.



13/02/04

Revisão

‘Na noite de 9 de fevereiro de 1984, por exigências da implantação de novas tecnologias, com terminais de vídeo ligados a computadores em todas as redações, foi extinto, por desnecessário, o setor de Revisão da Folha. Para mim, um dos profissionais então em atividade nesse local, esses 20 anos têm sido de felizes recordações e de agradecimentos sem medida a essa admirável empresa jornalística, que inseriu neste velho ex-funcionário, hoje com 83 anos de vida, um orgulho desmedido por ter convivido nesse glorioso monumento da alameda Barão de Limeira.’ Manoel Ferreira Leite (Ubatuba, SP)



12/02/04

Telejornais

‘A ONG TVer, que há oito anos se manifesta contra a exibição de programas sensacionalistas pelo nítido poder lesivo que trazem à saúde mental de crianças e adolescentes, opõe-se veementemente à revogação da classificação para os chamados ‘telejornais’ policiais (‘Governo revoga veto a telejornais’, Ilustrada, 6/2). Esse recuo diante da pressão da indústria da mídia reafirma o continuísmo do governo Lula também no setor das comunicações. Enquadrar quem se acostumou a estar acima da lei é difícil, mas necessário. Crianças e adolescentes que, à tarde, assistem a perseguições ao vivo, a suicídios em tempo real e a atos de violência como forma de resolver conflitos têm sua realidade psíquica atingida pela força pedagógica desses modelos. O olhar deles é mera mercadoria, audiência a ser negociada com anunciantes. Enquanto isso, as emissoras públicas penam, com orçamento ínfimo, para fazer jornalismo de verdade, de qualidade, que estimula a capacidade de pensar dos jovens e que os educa para a cidadania. Isso tem de mudar.’ Ana Olmos, psicanalista de crianças e adolescentes, presidente da ONG TVer (São Paulo, SP)



11/02/04

Previdência municipal

‘Diferentemente do publicado no texto ‘Governo impediu corte de quase R$ 300 mi nas verbas de Marta’ (Brasil, 7/2), o Instituto de Previdência Municipal de São Paulo, com a Secretaria Municipal de Gestão Pública, vem adaptando o Regime Próprio de Previdência Social do município às alterações na legislação previdenciária advindas com a edição da emenda constitucional (EC) 20/98 e da lei federal 9.717/98. O município possui o Certificado de Regularidade Previdenciária -CRP-, que é emitido pelo Ministério de Previdência Social e garante que o município está cumprindo todas as exigências da EC 20/98 e da lei 9.717/98. Foram editados, entre outros, os seguintes instrumentos legais: a portaria 226/01, que transfere os servidores comissionados e os temporários do município para o regime geral de previdência social; a orientação normativa (ON) 01/ 01, que exclui a contribuição adicional facultativa de 3%, que permitia a concessão de pensão vitalícia para filhas solteiras, para viúvas e para divorciadas; a ON 04/02, que uniformizou as rotinas administrativas e adaptou o rol de beneficiários às disposições da lei federal; a ON 06/02, que considera como beneficiário do servidor o companheiro(a) homossexual para fins de pensão por morte. Além disso, foi criado pela Secretaria Municipal de Governo um grupo de trabalho intersecretarial que está desenvolvendo estudos para a perfeita adequação do sistema previdenciário municipal à reforma da Previdência por meio de análises e estudos dos impactos da aplicabilidade da emenda constitucional 41/03.’ Alencar Ferreira, superintendente do Iprem -Instituto de Previdência Municipal de São Paulo (São Paulo, SP)

Reposta dos jornalistas Julia Duailibi e José Alberto Bombig – Em nenhum momento a reportagem afirmou que o município não está em dia com o Ministério da Previdência. Mostrou, isso sim, que a prefeitura foi beneficiada por uma portaria que prorrogou o prazo para que adequasse seu sistema de seguridade ao que determina a lei.

Nestlé/Garoto

‘Causa profunda estranheza a profusão de artigos e entrevistas fornecidas a todos os meios de comunicação pelo senhor Gesner Oliveira a respeito do julgamento do caso Nestlé/Garoto. Pior ainda é o fato ocorrido na edição de 7/2 desta Folha (‘Desdobramentos do caso Nestlé/Garoto’, ‘Opinião Econômica’, Dinheiro), em que o referido senhor, utilizando-se de sua condição de articulista deste jornal, faz considerações sobre aquele julgamento- procurando, por todos os modos, justificar a inédita e inusitada decisão do Cade- e dá conselhos no sentido da venda da Garoto. O senhor Gesner, curiosamente, tem omitido o fato de que foi contratado pela concorrente Kraft, ferrenha opositora da operação e maior interessada em sua vedação pelo Cade, para impugnar o pedido de aprovação formulado pela Nestlé. Mais estranha é tal atitude quando se vê que o senhor Gesner, em 27 de dezembro, publicou artigo na coluna ‘Opinião Econômica’ no qual criticava o fato de que pareceristas a soldo das partes falam o que bem entendem, sem nenhuma preocupação com a imparcialidade, levando a eventuais distorções de julgamento. O senhor Gesner só tem receio da imparcialidade alheia?’ Humberto Maccabelli Filho, diretor jurídico da Nestlé (São Paulo, SP)

Resposta do colunista Gesner de Oliveira – Como cidadão e profissional, tenho participado da discussão sobre defesa da concorrência no Brasil e no exterior nos últimos dez anos e não poderia deixar de comentar a decisão sobre a compra da Garoto pela Nestlé. É público o fato de que participei, assim como outros especialistas econômicos, de parecer independente, de natureza estritamente técnica, contratado pela Kraft. O resultado do estudo consta dos autos do processo, que são igualmente públicos. Não represento nenhuma parte interessada no processo em tela nem tenho nenhum interesse comercial vinculado ao desfecho do processo. Embora seja específico, o resultado do referido parecer está absolutamente em linha com minhas manifestações públicas e, em particular, com os argumentos de natureza técnica desenvolvidos no artigo de 7/2 na coluna ‘Opinião Econômica’.

Prefeitura

‘A reportagem ‘Dívida de SP supera limite pelo segundo ano’ (Cotidiano, 10/ 2) não prima pelo jornalismo sério ao não se esforçar para ouvir o ‘outro lado’ e ao não mostrar para onde está indo o dinheiro da prefeitura e por que a dívida tem crescido na atual administração. Até pouco depois das 20h de segunda-feira, dia em que foi feita a reportagem, não havia recado em nenhum de meus três telefones que estão à disposição dos jornalistas. Depois desse horário, coletar dados para dar uma resposta correta em assunto técnico é praticamente impossível. O jornal poderia ter me avisado, no decorrer do dia, que poderia precisar do ‘outro lado’ para o assunto focalizado, ainda mais que a história já estava no ‘Diário Oficial’ de sábado. Esse comodismo não existiu em relação à prefeitura. O jornal não só deu a nota da Secretaria de Finanças como foi buscar em cartas publicadas da prefeita desculpas para seus problemas com a dívida. Mas essas cartas haviam sido rebatidas pela administração Pitta. Se fosse adotado o mesmo critério, os dados contidos nas respostas poderiam equilibrar e rebater os argumentos da prefeita.’ Antenor Braido, secretário de Comunicação da gestão Celso Pitta (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Roberto Cosso – A Folha telefonou para a casa do missivista e deixou recado na caixa postal de seu telefone celular às 20h30 de segunda-feira, pouco depois de receber a nota oficial da Secretaria Municipal de Finanças com críticas a Celso Pitta.’



ROSSI SABÁTICO
Clóvis Rossi

‘Prestação de contas’, copyright Folha de S. Paulo, 15/02/04

‘Se algum leitor estranhar o fato de que este espaço passa a ser doravante enviado da Europa por algum tempo, e antes que haja teorias conspiratórias, explico: vou me beneficiar de um período sabático, programa de aperfeiçoamento profissional que a Folha põe à disposição de seus profissionais.

Na verdade, será ‘sexta-feirático’, porque ‘sabático’ pressupõe deixar as tarefas habituais para dedicar-se a um projeto especial. Eu vou tocar de fato um projeto especial, mas mantenho as tarefas habituais, menos um dia (aos sábados), além de reduzir também a presença em missões extrapágina 2.

O projeto é o de montar uma agenda o mais abrangente e internacional possível de fontes de consulta e informação. A lógica é simples: até que a globalização se tornasse um fenômeno avassalador, um bom repórter conseguia funcionar com uma agenda telefônica apenas nacional. Hoje, não mais. Até para tratar de Brasil é útil e importante falar com gente que está fora do país.

No meu caso específico -e todo projeto leva em conta características pessoais-, a necessidade de tal agenda ampla e internacional é tanto maior pelo fato de que não sou especialista em coisa alguma. Um dia, estou em Jenin, nos confins da Cisjordânia ocupada; no outro dia, numa reunião da Alca; no terceiro dia, cobrindo a assembléia-geral do FMI; no quarto, acompanhando o presidente de turno em viagem a sabe-se Deus que país.

Por que Europa? Porque as fontes norte-americanas já são profundamente ‘media oriented’. Você clica no ‘guia da mídia’ do, por exemplo, Council on Foreign Relations e lá vem um monte de especialistas em quase tudo. Os europeus são bem mais fechados.

Usar só fontes dos EUA, por muito pluralistas que sejam (e são), desequilibraria o texto porque, ortodoxos ou iconoclastas, elas são inexoravelmente americano-centradas, pela própria gravitação do país.

Em resumo, é isso. Sugestões são mais que bem-vindas.’