Paul Krugman ganhou o prêmio Nobel de Economia por seus trabalhos no campo da geografia econômica, sistemas de comércio e globalização. Isto está dito no comunicado da Academia de Ciências da Suécia distribuído na segunda-feira (13/10). Mas parte substancial do prêmio cabe ao seu intenso trabalho como colunista e autor.
Krugman é, sem dúvida, o mais lido comentarista de economia do planeta. Sua coluna bissemanal (segundas e sextas) no New York Times é reproduzida em dezenas de jornais espalhados pelo mundo. É um jornalista de mão-cheia.
A turma corporativa certamente protestará contra esta qualificação profissional, mas Krugman a merece não porque escreve em jornal – Delfim Netto também escreve em jornais e revistas e jamais poderia ser qualificado como jornalista.
Krugman desenvolveu um estilo claro, usa o inglês cotidiano (‘plain English’ como explica), abomina o economês, em suas mãos as complicadas teorias tornam-se claras, perceptíveis e transparentes. Não necessita do linguajar acadêmico para lustrar o seu currículo, vai direto ao ponto. Provoca, e geralmente convence porque é intelectualmente honesto – novamente ao contrário de Delfim Netto.
Conhecer e participar
É um grande didata porque se serve da economia real. Não fosse um jornalista nato, puro sangue, seria incapaz de fuçar na conjuntura cotidiana os elementos doutrinários para reforçar a sua argumentação.
Conhece o mundo não apenas em função da geografia econômica, uma das suas especialidades, mas porque é empurrado por uma grande curiosidade, vocacionado para uma cidadania global. Adora viajar, participar de seminários, ouvir gente, envolver-se com realidades diferentes da sua.
Trabalhou com Ronald Reagan, mas é um keynesiano, progressista. Fato que não espanta sua legião de leitores inclinados à direita simplesmente porque sabe obter sínteses e fugir dos preconceitos.
Pode-se apontar no Brasil diversas almas gêmeas de Krugman (em alemão, o homem do cântaro), tanto na esfera da economia como da filosofia, sociologia, ciência política e história. São acadêmicos não-bizantinos, iluminados pela mesma necessidade de conhecer e participar. Citar alguns seria injusto. Mas é possível garantir que com jornalistas com este perfil e porte o jornalismo jamais seria ameaçado de desaparecer.