Circula na terça-feira (31/8) a última edição em papel do Jornal do Brasil, que foi o primeiro diário brasileiro a publicar uma página na internet, em projeto de seu então editor-chefe, Rosental Calmon Alves.
De agora em diante, o JB tenta sobreviver no formato digital, com poucas chances de seguir existindo nos próximos anos. Agonizou nas mãos do empresário Nelson Tanure, o mesmo que tirou o último hálito da Gazeta Mercantil, também extinta no ano passado.
A morte virtual do Jornal do Brasil é tema de duas curtas reportagens na imprensa considerada mais influente. ‘Jornal do Brasil circula em papel pela última vez’, diz o Estado de S.Paulo numa página da edição nacional. ‘Última edição impressa do JB circula hoje’, anuncia a Folha de S.Paulo na sessão ‘Poder’. O Globo, que durante décadas tomou uma sova do agora extinto concorrente, não lhe dedica nem mesmo uma linha na edição de terça-feira (31).
Morte lenta
A Folha faz um pequeno registro da história do jornal, criado em 1891, lembrando que em 1959 o JB realizou uma revolucionária reforma gráfica e editorial que deu início à modernização da imprensa brasileira. Alinha, entre seus colaboradores históricos, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. O Estadão cita Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Manuel Bandeira e Antonio Callado.
Faltaram outros nomes, como o de Alberto Dines. Poucas linhas para muita história. Pouco respeito da imprensa para consigo mesma.
A morte do Jornal do Brasil resulta não apenas de décadas de má gestão. Ele também sofreu com a concorrência injusta da propriedade cruzada dos meios de comunicação, contra um opositor que conta com a maior rede de rádio e TV do país.
Na verdade, muitos de seus leitores já se haviam sentido órfãos havia mais de vinte anos, quando o jornal, cheio de dívidas, se transformou em bandeira de aluguel do ex-governador Paulo Salim Maluf.
Ao tratar com tamanho desprezo o desaparecimento daquele que foi o símbolo do melhor jornalismo brasileiro no século passado, seus antigos concorrentes também justificam a tese segundo a qual as velhas marcas da imprensa se tornam cada vez menos relevantes.
O JB morre sem ao menos uma nota respeitosa de obituário. A velha imprensa morre um pouco com ele e nem se dá conta.
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Observatório na TV
O OI na TV discute na terça-feira (31) a proposta de autorregulação da imprensa brasileira. A proposta, feita no 8º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado há dez dias, divide as empresas de comunicação.
Alberto Dines:
A mídia brasileira não quer regulação, teme pressões externas, controles, só admite autorregulação, a exemplo do que ocorre na publicidade. Mas a imprensa não pode ser comparada à propaganda. Por esta razão no último congresso da ANJ, Associação Nacional de Jornais, pela primeira vez a corporação apareceu dividida.
A unanimidade evaporou. Alguns empresários querem adotar imediatamente um código de autorregulação para evitar pressões pelo controle social. Outros, mais prudentes, seguindo o parecer de jornalistas ligados à entidade, acham a iniciativa temerária e insuficiente.
Se apenas dois jornais brasileiros mantêm a função de ouvidor ou ombudsman – a Folha de S.Paulo e O Povo de Fortaleza – como imaginar que todos os jornais filiados à ANJ em todo o país aceitarão e respeitarão um código de ética?
Você quer entender melhor esta complicada situação? Assista hoje à noite ao Observatório da Imprensa na TV Brasil, às 22h, em rede nacional, ao vivo. Em São Paulo, pelo Canal 4 da NET e 181, da TVA.