Nas últimas semanas, o New York Times, uma das bíblias do noticiário global, foi notícia com as histórias de dois de seus repórteres sequestrados pelo Taleban no Afeganistão. David Rhode escapou e Stephen Farrell foi resgastado por comandos britânicos. Mas os incidentes mostraram mais uma vez não apenas os perigos do trabalho jornalístico no Afeganistão, mas também o empenho de uma marca como o New York Times para manter os seus tentáculos noticiosos em todas as partes do mundo, mesmo quando uma crise dolorosa afeta a imprensa, em particular a escrita.
Recentemente eu assisti a uma palestra de Bill Keller, o editor-executivo do New York Times, na qual, como se esperava, as ansiedades e aflições de jornais tradicionais como o dele, eram patentes: como investir em bom jornalismo com a crise econômica ou como fazer a transição para a nova mídia? Keller estava ansioso, mas também orgulhoso do ainda compromisso do New York Times em ter uma vasta rede de repórteres e de trabalho investigativo, a destacar no exterior. Basta lembrar que manter uma sucursal do New York Times em Bagdá (onde obviamente, além de tudo, há um custo de segurança pessoal para a equipe) representa uma verba de US$ 1 milhão por ano. Isto, vamos repetir, só no Iraque.
E na ansiedade sobre a transição para a nova mídia, Keller também estava orgulhoso de uma nova menina dos olhos da edição online do jornal que é a seção ‘The Lede’, que, de fato, teve um momento glorioso durante semanas em junho passado na cobertura da crise eleitoral no Irã. Sob o comando hábil de Robert Mackey, houve (e continua com outros eventos noticiosos) a conjunção de material dos profissionais do New York Times, de outras fontes tradicionais e de jornalismo do cidadão (não profissionais), em uma dinâmica multimídia, híbrida, vibrante e imperdível para os consumidores de uma situação volátil e histórica. Também há a experiência fascinante e criativa do trabalho do veterano colunista Nicholas Kristof, em particular na África. Além de lermos seus textos, há os vídeos com entrevistas, por exemplo, com vítimas de desnutrição. Tudo isto em uma combinação de um profissionalismo contido e exuberância.
Difícil expansão
Infelizmente, trata-se de uma exceção. O New York Times será um dos poucos jornalões a emergir da crise e por esta razão, além das qualidades inatas, terá um alcance ainda mais global do que o atual. O mesmo em relação a órgãos como o Financial Times e o Wall Street Journal. Não se trata apenas por colocarem no mercado um produto tão precioso e obrigatório que é o noticiário econômico. Ambos estão nos ajustes e fazendo experiências de erro e acerto na internet, mas conscientes que a brand (a marca) será valiosa se tiver muita qualidade.
O Financial Times está oferecendo serviços especializados na internet, como ‘China Confidential’, com noticiário altamente sofisticado (e também inside information) para clientes dispostos a pagar mais para saber o que se passa em um país-chave como a China. E para quem preza noticiário internacional é um alívio ver a concretização da loucura de Rupert Murdoch ao comprar o Wall Street Journal na época da bolha. Conforme o prometido, o foco internacional ficou mais intenso no novo Wall Street Journal.
Na internet, há outras experiência de investimentos em noticiario internacional, algumas com fins lucrativos, outras não. O site Global Post, lançado em janeiro com US$ 10 milhões de investidores privados, já tem 74 correspondentes e colaboradores em 50 países. Paga modicamente à rede de jornalistas e tem pretensões majestosas de competir com a venerável agência noticiosa Associated Press.
Outras experiência interessante é o filhote online da venerável e semiacadêmica, revista Foreign Policy, com seus artigos picantes e uma variedade de blogs de jornalistas e acadêmicos especializados na área como o repórter militar Thomas Ricks e o professor de Harvard Stephen Walt.
Esta difícil expansão de noticiários internacional (que deveria ser óbvia em tempos cada vez mais globais) durante a crise da mídia é maravilhosa. Os contrapontos, claro, são cortes brutais de pessoal em redações e sequestros (sem falar coisa pior) de jornalistas no Afeganistão e em outras bandas.
PS: Com atraso, este colunista internacional saúda a estreia da coluna com enfoque internacional ‘Janela Para o Mundo’, na Folha Online, do seu mestre Clóvis Rossi
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Jornalista