O noticiário econômico dos últimos dias tem sido centrado na corrida contra o tempo em que se empenha o presidente americano Barack Obama para elevar o limite de endividamento dos Estados Unidos e enfrentar o risco de moratória.
Mas há uma variedade tão grande de fatos relacionados em vários graus ao problema dos americanos que se torna praticamente impossível ao leitor comum formular uma opinião a respeito das consequências do momento econômico para sua vida pessoal.
Embora de forma longínqua, as reportagens e análises ainda fazem referência à crise financeira de 2008, mas em geral o noticiário e o opiniário deixaram para trás aquele evento – fundamental para entender o problema atual.
Fragilidade patente
As crises cíclicas do capitalismo são tema clássico de economia, tradicionalmente relacionadas aos próprios ciclos econômicos. Também é eventualmente citado o conceito das ondas longas da conjuntura, elaborado em 1926 pelo russo Nicolai Kondratiev, segundo o qual o capitalismo passa periodicamente por movimentos ascendentes e descendentes em ciclos de 40 a 60 anos. Segundo essa teoria, a economia global, majoritariamente capitalista, estaria chegando ao fundo do ciclo descendente, iniciado nos anos 1990, que se seguiu aos “trinta anos gloriosos”, núcleo de tempo do ciclo ascendente anterior.
Contextualizar este turbulento início de século nesse cenário sistêmico, considerando ainda os estudos sobre ciclos econômicos de curto prazo, é tarefa complicada para o jornalismo do dia a dia. No entanto, essa é uma pauta que deveria ser tomada a sério pela imprensa, como pressuposto para a manutenção da confiança da sociedade na capacidade do próprio sistema de superar suas crises – tema que evidentemente interessa à imprensa.
Essa tarefa se torna ainda mais difícil se for levado em conta que na crise atual do capitalismo o olho do furacão está localizado na maior economia do planeta. O que acontecer com os Estados Unidos nos próximos dias vai afetar todos os países do mundo, todas as atividades econômicas e até mesmo as políticas de muitas nações.
A teoria dos ciclos de Kondratiev tem como base principal o modo como se estabelecem as mudanças tecnológicas, que produzem ondas de investimento, de volumes e duração variáveis conforme o processo de apropriação, maturação e renovação dessas tecnologias.
Essa característica remete a uma extrema fragilidade da economia brasileira: temos baixa capacidade de inovação, fruto de deficiências educacionais, do conservadorismo de nossos empreendedores e da falta de uma política industrial.
Sem inovação, um país pouco se beneficia dos investimentos em tecnologia nos períodos ascendentes e conta com poucos recursos para furar os ciclos descendentes.
Um novo modelo de imprensa
O cenário a ser analisado se torna ainda mais complexo se levarmos em conta que o atual ciclo coincide com a constatação de que o sistema econômico global precisa conciliar o crescimento com a preservação do patrimônio ambiental e a redução das emissões de gases que produzem as mudanças climáticas.
Por outro lado, esse conjunto de elementos precisa ser administrado em meio à constatação de que os modelos de representação política – que transferem da sociedade para as instituições públicas a missão de produzir o bem-estar geral – estão sob contestação em muitas partes do mundo.
Na terça-feira (26/7), quando toda a imprensa registrava os altos níveis de tensão no mundo financeiro com a incerteza sobre a dívida dos Estados Unidos, o jornal Valor Econômico incluía, em sua primeira página, reportagem sobre o crescimento da demanda, por parte de grandes empresas, por serviços de combate a fraudes e corrupção.
De acordo com os paradigmas da sustentabilidade, que se estabelecem entre os cânones da gestão a partir das urgências ambientais, a corrupção é um elemento tangível de risco e um custo que as empresas deveriam evitar.
No momento em que a imprensa celebra a ascensão do Brasil ao quinto lugar entre os principais destinos de investimentos produtivos, o efeito da corrupção sobre a economia é pauta que também não pode faltar.
Como se pode observar, a despeito de alguns esforços isolados, o noticiário econômico fragmentado que os jornais apresentam a seus leitores tem pouca valia nesse cenário de grandes complexidades.
Será que o atual modelo de imprensa dá conta de todas essas variáveis?
O esquema de cadernos temáticos, com reportagens ancoradas em artigos de opinião, talvez esteja superado.
A Folha de S.Paulo de quinta-feira (28/7) informa que a America Online (AOL) busca parceiro para voltar a se instalar no Brasil, trazendo o Huffington Post –mídia online que transporta milhares de blogs.
Seria esse o modelo?