A manchete da Folha de S.Paulo de domingo (7/3) – ‘Governo descobre conta de filho de Sarney no exterior’ – é arrasadora: os negócios do clã Sarney foram desta vez denunciados pelo jornal onde o seu cacique, José Sarney, é colaborador há anos.
A denúncia é concreta, factual, por isso arrasadora. Mas veio tarde: deveria ter sido publicada quando o poderoso grupo maranhense conseguiu amordaçar o Estado de S.Paulo pela via judicial há 220 dias.
A grande imprensa sabe solidarizar-se em cruzadas para defender os seus interesses corporativos imediatos, mas desperdiçou uma excelente oportunidade de se irmanar em defesa da liberdade de expressão quando Fernando Sarney, filho do senador, com a ajuda de magistrados ligados à família, impediu que o Estadão continuasse publicando os inquéritos da Polícia Federal.
Sinal de reversão
Há sete meses nossa imprensa convive com este vexame que macula a justiça brasileira mas também compromete a sua própria imagem, na medida que revela uma incapacidade para mobilizar-se em defesa da sociedade à qual, pela Constituição, deve servir.
Por que razão os demais veículos curvaram-se a uma decisão judicial sabidamente imprópria, impertinente, e concordaram em manter escondidos os fatos apurados pela Polícia Federal? Porventura, temiam uma possível retaliação do clã Sarney estendendo a censura a toda a imprensa? E se isso acontecesse, a repercussão e a indignação popular não seriam maiores e o judiciário ficaria mais desmoralizado?
A verdade é que a nova queda de braço entre os lobbies da mídia, governo e grupos militantes para ver quem organiza eventos mais ruidosos torna-se ainda mais inútil e deletéria diante da dimensão da ilegalidade que está sendo praticada ostensivamente pelos amigos de Sarney contra a liberdade de informar.
A manchete de domingo da Folha pode significar uma reversão drástica tanto nos rumos do inquérito como em nossos costumes.
O governador-prisioneiro José Roberto Arruda não deve ficar só, merece companhia.