A edição dominical (11/4) de O Globo estreou seu novo caderno de esportes (12 páginas) com chamada na primeira página. Deu destaque ao futebol na África e lembrou que esta é a primeira vez que a Copa do Mundo vai ser disputada naquele continente.
A capa de ‘Esportes’ lembra que ‘na Costa do Marfim, adversária do Brasil, o futebol é visto como a redenção, o passaporte para fugir de um país destruído por guerras e corrupção para um eldorado que povoa os sonhos de meninos e adolescentes’. O Brasil faz com a Costa do Marfim o seu segundo jogo. O animal símbolo do país serviu para apelidar de ‘os elefantes’ os jogadores da seleção marfinense.
O futebol tem uma influência tamanha no imaginário do brasileiro que o caderno de esportes é a primeira e talvez a única parte do jornal que é lida de cabo a rabo pelo leitor médio. Depois é que ele vai dar uma espiada nas outras páginas.
O futebol serviu para dados de cultura geral. Quem procurou esportes no caderno soube que a Costa do Marfim tem 18,4 milhões de habitantes, que a esperança de vida é de apenas 46 anos e que a capital não é a principal cidade, Abidjan, mas Yamoussoukro. Soube também que o francês é a língua oficial, mas as línguas mais faladas são outras: baoulé, dioula, sénoufo e don agni. O caderno informou também que as três religiões predominantes são a muçulmana, a cristã e a animista. Que o desemprego é de 40% e que a mortalidade infantil chega a 11,7%.
Bairrista, como todos os outros
O Globo omitiu o tamanho do país, um dado relevante: 320.763 km2, segundo o Almanaque Abril. Esqueceu-se também de outro dado importante: a diferença do fuso horário, que é de + 3 horas em relação a Brasília. Está desatualizado também quanto à população, que é de 21,1 milhões (dados de 2009).
São louváveis a iniciativa do caderno de esportes e a inclusão de dados sobre o país, mas nada de novo no front. Poderiam ao menos ter informado que a Costa do Marfim tem este nome porque os portugueses, os primeiro europeus a chegar à região, no século 16, fizeram lá com o marfim o que fizeram aqui com o pau-brasil. A língua portuguesa não foi implantada e por isso a oficial é a francesa, pois lá os gauleses triunfaram.
Novidade é estréia da coluna de Maurício Adnet, que abre seu texto criticando as camisas dos novos times do Rio. No sábado (10/4), por exemplo, o Botafogo Neo Química venceu por 3 x 2 o Fluminense Unimed. E no domingo (11) o Fla Batavo enfrentou o Eletro Vasco da Gama.
Nota dez para a entrevista com Romário, autor da frase ‘calado, o Pelé é um poeta’. Na classificação dos melhores, porém, tem a humildade de reconhecer que Pelé está num patamar superior, abaixo do qual estão ele, Maradona, Ronaldo, Zidane e Zico, posto ‘em último lugar porque não ganhou uma Copa’. E que do argentino Messi ele fala depois da Copa.
O Globo é um jornal nacional, mas seu novo caderno, como os anteriores, não é nem fluminense. É apenas carioca. Isto é, é bairrista, como todos os outros jornais, embora seja lido em todo o estado do Rio e em muitos outros estados do país.
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Escritor, professor da Universidade Estácio de Sá e doutor em Letras pela USP; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e De onde vêm as palavras