Primeiro tópico: em uma iniciativa ilegal, contrária à Constituição Federal e à unidade territorial, Rubem Costa, governador de Santa Cruz (Bolívia) e líder separatista, alardeia que o referendo é o primeiro passo da cisão do país. Revista Fórum, pág. 40.
Na revista Fórum do mês de maio, foi num texto de Altamiro Borges – ‘Separatismo e guerra civil na Bolívia’ – que fiquei desiludido quanto à situação que se inicia na Bolívia e, conseqüentemente, nas Américas. É fato para todos os antenados com as questões político-sociais que as vitórias eleitorais de forças mais à esquerda vêm aumentando ligeiramente, sobretudo na América Latina.
Como exemplos maiores desse fato, temos a carreira política de Hugo Chávez, Evo Morales, Luis Inácio Lula da Silva e alguns outros. Representantes das classes menos favorecidas, no mínimo teoricamente, subiram ao poder com muita luta, garra e apoio das massas.
Mas, de todos os governos aqui citados, o que vem sofrendo grandes reveses no momento é o do boliviano Evo Morales. Segundo o referido texto e inúmeros analistas, a ‘nação vizinha está à beira de uma guerra civil. A oligarquia racista, que até hoje não engoliu a histórica eleição do líder camponês e indígena, está apostando as suas fichas na divisão do país, num movimento separatista de caráter fascistóide’ Fórum, p. 40.
Dinheiro e poder
O já citado Rubem Costa armou um referendo inconstitucional na rica província de Santa Cruz, em 4 de maio último, onde ele alardeia que essa atitude é o primeiro passo para uma cisão do país. ‘Desde a posse de Morales em 2006, que a elite boliviana arma o golpe, que visa separar a parte oriental (industrializada e rica em recursos naturais), da parte ocidental’ Fórum, p. 40.
No entanto, não foi essa situação na Bolívia que mais me chamou a atenção. O que me conduziu a momentos de reflexão, culminando com a escrita deste artigo foi o fato dos EUA apoiarem descaradamente a cisão.
Não por acaso, me deparei com a leitura do artigo da Fórum e para articular e basear o meu presente discurso tinha em mãos, dois recentes trabalhos. Dentre eles a coleção ‘A Ditadura Militar no Brasil – a história em cima dos fatos’, que irá ilustrar o que representa a volta dos EUA influenciando grosseiramente na política interna dos países da América do Sul, e a revista mensal Le Monde Diplomatique Brasil que irá trazer para nós informações a respeito de ‘O Império contra-ataca – preocupados com a inflexão de centro-esquerda dos governos da região, os EUA reativam sua IV frota’.
No presente artigo é possível fazer uma articulação entre três revistas distintas, que sem saberem uma da outra, escreveram sobre o mesmo medo, o de ver o Tio Sam novamente, ditando regras e ‘leis’ para as elites seguirem e lucrarem, seja com dinheiro, seja com poder.
Alívio com o golpe
Segundo tópico: Desde o início de seu governo, em 1961, Kennedy sofria pressões do Congresso e da classe empresarial, que se sentiam ameaçados pelas nacionalizações de empresas norte-americanas no Brasil. Caros Amigos – Especial Ditadura, p. 19.
Desde a década de 60, pelo embaixador Lincoln Gordon, os EUA começaram a ‘investir’ em pressão contínua contra a política externa de Goulart. Eles lutavam contra a presença esquerdista e comunista em postos chaves e não ficaram nem um pouco satisfeitos quando Goulart começou a batalhar a favor dos interesses do Brasil e contra o Tio Sam.
Chefiadas por homens do presidente, empresas multinacionais como, por exemplo, a Coca Cola, IBM, Texaco, RBC Financial Group, Shell e até a revista Reader’s Digest (Seleções, no Brasil), saudaram o golpe militar em 1964. Patrocinados por essas empresas, Correio da Manhã e os famosos Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, Estado de Minas, Veja, Isto é, Rede Globo, jornal O Globo e a depois arrependida Igreja Católica, deram tchau a Goulart na mesma manhã pós-golpe e bateram palmas aos militares facínoras.
Estava tudo sobre controle dos EUA, como diria Stanislaw Ponte Preta, ‘fizeram democracia com as próprias mãos’. Assim, Tio Sam não escondeu o alívio com a vitória do golpe: reconheceu na velocidade da luz e logo cobraria pela ajuda que prestou aos golpistas.
Velhos medos e explorações
A influência estadunidense permeou de maneira concreta ou simbólica todas as ditaduras da América Latina. Geriu e encaminhou consciências da elite ao lucro fácil e exploratório. Foi responsável por mortes e por atos bárbaros em todo continente. E tudo por poder e dinheiro?
Por essa retórica aqui desenvolvida, e por fatos já conhecidos, é que me vi bastante reflexivo com as três revistas aqui citadas. Como elas, resolvi engrossar o pequeno coro de pessoas e entidades que querem lutar e se preocupam com o ‘ressurgimento’ político-militar dos EUA. Tanto a influência do sr. Bush como o referendo na Bolívia primam pela falta de respeito à vida e às classes baixas e devem receber todo o nosso desagrado e luta contra essas ideologias.
O asqueroso George W. Bush está, inclusive, reeditando o poder bélico na região. Nos últimos meses ele reativou o porta-aviões da classe Nimitz, com capacidade para carregar até 90 aeronaves e que tem como principal missão vigiar as Américas, sobretudo o serviço de inteligência analisar as novas descobertas de petróleo na região.
Bem, como se pode perceber a situação é delicada e merece cuidado. Se não houver um trabalho urgente dos políticos, da opinião pública e da grande mídia, é quase certo que veremos o Tio Sam aprontando em curtíssimo espaço de tempo. Fiquemos atentos, pois a escalada militar e política dos EUA na América do Sul pode ser nova, mas pode reconstruir velhos medos, velhas conseqüências e velhas explorações, mas tudo com uma roupagem bem novinha, a roupagem do neoliberalismo em defesa da luta contra o terror.
******
Psicólogo, Juiz de Fora, MG