Os jornais encerram a semana como começaram: destacando seletivamente as notícias mais pessimistas do período e escondendo os primeiros sinais de ordem na economia.
O resultado deve ser, inevitavelmente, mais confusão nas mentes dos leitores. Basta ler as seções de cartas e os comentários em alguns dos blogs que complementam o noticiário dos principais grupos de comunicação do país para observar que muitos leitores confundiram as notícias sobre desemprego e queda da atividade industrial – isto porque alguns se prenderam aos números do último trimestre de 2008, especialmente os de dezembro, enquanto outros levaram em conta os dados anuais.
Na mesma semana em que a queda da atividade industrial em dezembro era destacada em manchetes nos diários considerados de circulação nacional, os jornais especializados em economia cumpriam a tradicional tarefa de analisar os indicadores anuais.
Resultado: a atividade industrial bateu recordes e a taxa de desemprego foi menor durante todo o ano de 2008, em relação a 2007.
No entanto, durante toda a semana, as notícias na chamada grande imprensa sobre o aumento do desemprego em dezembro foram mais destacadas do que a queda do desemprego durante todo o ano de 2008. Além disso, ficaram bem escondidos na sopa de letras os primeiros acordos entre empresas e trabalhadores, alguns com garantia de emprego até o fim de maio.
Notícia isolada
Afinal, o que aconteceu?
A indústria brasileira acelerou a produção no fim de 2008, diante das perspectivas de um Natal festivo por causa das compras da nova classe média e também por causa das condições favoráveis de financiamento oferecidas ao longo do ano.
A bolha no mercado imobiliário americano estourou em setembro. Diante do noticiário catastrofista que se seguiu, o comércio começou a se retrair imediatamente, cancelando encomendas.
A indústria exportadora, de grande visibilidade por seus números expressivos, foi mais afetada pela crise internacional, como se esperava, mas o noticiário deveria discriminar os setores quando relaciona atividade industrial com desemprego.
Por que os jornais se fixam nos números de dezembro? Se era absolutamente esperada a queda da produção industrial no último trimestre, como acontece normalmente, por que isolar essa notícia, com destaque, do contexto em que ela é apresentada todos os anos?
O leitor vai ter que descobrir sozinho.