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Nunca aos domingos. Além de nome de filme, é uma espécie de dogma nos meios jornalísticos e políticos brasileiros. Segundo ele, jamais deve-se marcar uma entrevista coletiva no domingo – ainda mais em Brasília – porque comparecerão poucos jornalistas e a repercussão será insignificante.
O ministro Antônio Palocci enfrentou o tabu: no sábado à tarde convocou uma entrevista coletiva para domingo ao meio-dia. O auditório ficou cheio, a repercussão continua até hoje e principalmente mostrou ao governo e ao partido do governo como se enfrenta uma emergência.
Até aí tudo bem. Mas o que chama a atenção é que o ministro convocou a entrevista por causa da matéria de capa da revista Veja que circulou no fim de semana, e também por causa de alguns procedimentos que a imprensa vem adotando nesta crise. O ministro deteve-se em analisar a reportagem de capa da revista e matérias de outros veículos.
Já no domingo a mídia saudava a fala do ministro, na segunda-feira o entusiasmo foi ainda maior e chegou até os jornais de hoje. Mas é estranho, estranhíssimo, que o fato gerador da insólita e inédita entrevista foi completamente omitido. Cobriu-se o evento e não se explicou a causa do evento.
Nas duas horas e 10 minutos da entrevista, Palocci deteve-se 11 vezes para falar sobre a imprensa ao longo de 16 minutos. E este assunto praticamente sumiu, ficou escondido lá no fim do noticiário. Alguns sequer o mencionaram.
Terá sido coincidência? Ou foi falta de prática para enfrentar o inopinado plantão de domingo? Mistério. Talvez valha a pena convocar uma segunda entrevista coletiva para discutir por que a imprensa engavetou a causa da primeira. Sugere-se que seja marcada para o próximo domingo. É um bom dia para tentar coisas sérias.