O novo e o velho mundo exploram juntos o futuro da distribuição de notícias. Em março o Facebook revelou seus planos para alojar diretamente em seu site informações publicadas por determinados meios de comunicação. Nesta quarta-feira, a rede social anunciou que vai começar com uma referência no jornalismo mundial, o The New York Times. O acordo divulgado inclui também o site Buzzfeed, voltado para conteúdos sociais, a rede norte-americana de rádio e TVNBC News, o conglomerado National Geographic, o jornal londrinoThe Guardian, a emissora pública britânica BBC, as publicações alemãs Bild e Spiegel Online e a revista norte-americana The Atlantic.
Não serão publicadas todas as reportagens, mas sim uma seleção decidida por consenso entre as partes, levando em conta as análises das estatísticas de audiência. Esse material aparecerá diretamente no Facebook, como se fosse a postagem de um amigo, sem a necessidade de inclusão de um link para a fonte original.
Não se sabe ainda quantos artigos cada veículo publicará por dia, nem como os rendimentos serão compartilhados. Foi revelado, no entanto, que haverá uma fórmula para a divisão da publicidade, a qual será minuciosamente personalizada de acordo com o perfil do usuário, tornando-se, consequentemente, mais valiosa.
Esse movimento é muito similar ao que o Facebook já fez com os vídeos. A rede social de Mark Zuckerbergatualmente incentiva os usuários a postá-los diretamente em seu mural, em vez de subi-los no YouTube. A economia de tempo para consumir o conteúdo —já que é necessário um passo menos— aumenta a quantidade de page views de cada vídeo. É a mesma lógica por trás da nova modalidade noticiosa, permitindo que o usuário veja o que deseja sem precisar fazer qualquer ação adicional, nem sequer um simples clique.
O site de tecnologia Recode, dirigido por Walt Mossberg, velho amigo de Steve Jobs, revelou alguns termos do acordo e seu funcionamento. A estética será muito parecida com a do Paper, um aplicativo desenvolvido por Mike Matas. E os editores contarão com ferramentas para dar o formato desejado a textos, vídeos e fotos, de modo a diagramarem os artigos com uma estética mais aprimorada do que se vê nas postagens pessoais do Facebook.
Foram incluídos também detalhes como a medição de audiência, e a plataforma especializada Comscore divulgará o tráfego gerado pelo material jornalístico que o Facebook publicar.
O Facebook passou mais de um ano e meio testando internamente possíveis formas de publicar notícias. Por isso demonstra tanto interesse em conhecer o fluxo de consumo da audiência e a difusão entre seus contatos. Os veículos associados nesta primeira onda, por sua vez, pretendem rejuvenescer seu público, buscar novas fórmulas para angariar assinaturas e reafirmar o valor de suas marcas.
A rede social conta com mais de 1,4 bilhão de usuários ativos. Seu crescimento fez com que se tornasse uma fonte de page views cada vez mais relevante para os veículos de comunicação. No caso do The New York Times, essa plataforma chega a 15% da sua audiência digital. Dentro do Facebook, o encarregado de liderar o projeto foi o diretor de produto Chris Cook, que sempre apoiou a ideia de que a rede social serve para compartilhar informações entre amigos e familiares, e que os meios de comunicação precisam aderir a isso se desejarem manter sua relevância.
Em outubro do ano passado, David Carr, falecido analista de comunicação do NYT, descreveu de forma curiosa a sua relação com o Facebook: “Para os meios de comunicação, é como um cachorro que corre na sua direção no parque. Você muitas vezes não sabe se o que ele quer é comer você ou brincar com você”.
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Rosa Jiménez Cano, do El País