Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O apagão da imprensa

Os grandes jornais brasileiros trazem na quinta-feira (10/1) uma cobertura desigual sobre a questão da energia. Enquanto o Estado de S.Paulo e a Folha destacam declarações do ministro interino das Minas e Energia, o Globo afirma que só a ocorrência de chuvas ainda em janeiro poderia evitar a necessidade de racionamento. A imprensa já fala em ‘apagão’.


Os jornais dividiram o assunto entre suas seções de Política e Economia, o que ajuda o leitor a entender melhor o assunto, mas deram destaque exagerado ao aspecto político. O Estadão, por exemplo, aposta que existe uma ‘crise elétrica’ e que ela põe em risco a entrega do Ministério das Minas e Energia ao peemedebista Edison Lobão, apadrinhado do senador José Sarney.


Embora tenha maior destaque, a questão política tem pouco valor para os leitores – cansados de saber que, com ou sem crise, Sarney vai manter sua quota de protegidos no governo. Aliás, em qualquer governo.


Corte no consumo


A Folha e o Globo também se prenderam exageradamente ao desentendimento entre o ministro interino e o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica. O presidente da Aneel havia afirmado que não é impossível a necessidade de racionamento ainda neste ano, e foi desmentido pelo ministro.


Apesar disso, o tom geral do noticiário é alarmista. A palavra ‘apagão’ aparece em todos os jornais, invocando o fantasma de 2001, quando o Brasil passou por um racionamento compulsório que durou até fevereiro de 2002. Na ocasião, os maiores reservatórios do sistema interligado nacional estavam se esvaziando rapidamente e havia insuficiente investimento em geração e distribuição de energia.


Durante a crise de 2001, a imprensa substituiu sabiamente o noticiário alarmista por recomendações técnicas, e a população brasileira aderiu a uma campanha de economia, cortando em média 20% no consumo de eletricidade.


Um dos resultados mais evidentes foi o quase desaparecimento do freezer de uso doméstico. Durante o racionamento, as famílias descobriram que o freezer gasta muita energia e se tornou menos útil porque, com a queda da inflação, não é mais necessário estocar alimentos.


Segundo a Eletrobrás, 23% dos domicílios brasileiros ainda possuem freezer, mas 25% deles estão desligados desde 2001.


TV desligada


A imprensa bem que podia se antecipar a qualquer possibilidade de crise e começar já a informar a população sobre como economizar energia.


A primeira medida recomendada é substituir o chuveiro elétrico ou fazer um uso mais racional dele. A segunda é desligar a televisão de vez em quando. Mais de 97% dos lares brasileiros possuem um aparelho de TV, que costuma permanecer ligado de manhã até à noite, mesmo sem ninguém diante dele.


Difícil vai ser convencer as emissoras de televisão a recomendar que a televisão seja desligada.

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Jornalista