Ao apresentar a dupla de aspirantes a comediantes “Os Fulanos”, Fausto Silva declarou que a Voz do Brasil já deveria ter saído do ar há muito tempo. Não concordo e até concordaria se ele tivesse falado contra a transmissão obrigatória, de forma fechada. Mas há opções como horários flexíveis ou canal especial em rede nacional. De qualquer forma, o como é outra história. Refiro-me à postura que incita. Faustão comanda uma audiência considerável. Certamente Faustão não ouve a Voz do Brasil e poucos superam a abertura, a histórica ópera O Guarani, de Carlos Gomes, seguido do bordão “Em Brasília, 19 horas.”
Apesar do estilo antiquado, a Voz do Brasil tem o mérito de trazer informação direto da fonte, as assessorias de comunicação de cada um dos três Poderes sobre o que de mais significativo foi decidido em Brasília, fatos que terão impacto sobre a sociedade. É informação direto da fonte, antes que passe por empresas jornalísticas. Você ouve o que aconteceu e tira suas próprias conclusões. O Faustão certamente não sabe reconhecer o valor deste aspecto, ou não diria o que disse.
Do Poder Judiciário, chegam notícias sobre o que foi julgado e como foi o entendimento das questões, forjando em nosso caráter os valores que estes entendimentos visam a preservar. É a informação a serviço da formação da cidadania plena, pois só exerce seus direitos quem os conhece. As notícias do Poder Judiciário têm esse caráter informativo e formativo.
Já as notícias do Legislativo haveriam de ser mais prestação de serviço e menos apologias. Ninguém merece aqueles discursos de homenagem. Poderiam ser banidos pelo editor. Mas ainda assim existe informação importante mesclada nessa babação de ovo. Votações que afetam a vida de todos os cidadãos estão entre as notícias do Congresso Nacional, onde os deputados e senadores que nos representam trabalham. Bom saber o que estão fazendo, não da forma que declaram em entrevista, mas como votaram em questões de interesse do povo.
Isenção e prestação de serviço
Para completar a nossa capacidade de análise, o programa traz ainda as notícias do Poder Executivo, incluindo a política externa e nosso papel no cenário global, política econômica e social, informações sobre projetos e campanhas do governo. Também traz notícias do Tribunal de Contas da União, inclusive contas reprovadas de compras e contratações do governo. Tudo aberto.
A Voz do Brasil é fonte de telejornais e jornais reconhecidos por sua credibilidade, o que, por associação, lhe confere um diferencial, um caráter único e primordial da notícia sem qualquer tratamento, daí a má vontade por parte dos críticos como o Faustão. Dá para entender? Claro que dá, estamos acostumados a um conteúdo mais palatável. Recebemos a notícia de gente jovem, que faz aulas de dicção e fono para atingir a pronúncia padrão. Recebemos de forma dinâmica, com toque de oito segundos e vinheta de alerta. Um apanhado escolhido e embrulhado para consumo de massa.
Claro que, como tudo, a Voz do Brasil pode melhorar, mas a Radiobras faz um programa correto. Cumpre a proposta. Tem muito a oferecer para merecer o destino que o Faustão lhe desejou. Que ele nunca ouça alguém dizer no ar que seu programa já cansou, que essa fórmula já deu… Ele e Os Fulanos que me perdoem, mas reconheço na Voz uma história de isenção e prestação de serviço, ainda que num formato quadrado.
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[Nídia Martins é jornalista, Santo Antônio do Pinhal, SP]