Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O avô do dinossauro

Muitos leitores ainda devem estar morrendo de rir do título que anunciava, na edição de quinta-feira (5/8) da Folha de S.Paulo, o texto principal da editoria de Ciência. Dizia a chamada, em página inteira: ‘Mais primitivo réptil voador era gaucho’.


Tal disparate, impensável num texto sobre descoberta científica, ilustra bem, nesta semana, como o jornalismo brasileiro pode cometer escorregões na tentativa de popularizar assuntos considerados complexos.


No corpo da reportagem, que conta com informações fornecidas pelos próprios cientistas responsáveis pela descoberta, também se nota o esforço do autor para tornar mais digestivos os detalhes da novidade.


Não há como passar ao largo de um debate produzido há poucos anos, quando o apresentador da Rede Globo William Bonner justificou certas liberalidades informativas da televisão com o conceito segundo o qual o público médio não teria condições de interpretar notícias apresentadas de forma mais complexa.


Falta de respeito


Na ocasião, diante da afirmação do jornalista de que o telespectador é uma espécie de Homer Simpson, o personagem idiota do desenho animado, muita gente se sentiu ofendida.


No caso da reportagem da Folha, um título mais cômico do que explicativo dá a impressão de que seus autores pretendiam ‘facilitar’ o entendimento de seus pouco letrados leitores. Essa característica, mais ou menos recente na Folha e um pouco mais antiga no Globo, eventualmente ocorre também nas páginas dos cadernos culturais.


Nesse caso, pode-se ponderar que a mistura entre cultura e entretenimento seria a causa do empobrecimento da linguagem e da informação. Sim, empobrecimento, porque invariavelmente, quando se tenta simplificar conteúdos complexos mudando apenas o discurso, o que se obtém é a banalização.


Um melhor serviço seria prestado ao leitor se o jornal ou a emissora dedicasse mais espaço e tempo a determinados assuntos, ofertando mais referências para que o público faça a interpretação correspondente. Trocadilhos, blagues e tentativas de humor quase sempre resultam em falta de respeito ao leitor.