Tuesday, 12 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

O bandido que acordou a mídia

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


A votação da urna eletrônica da semana passada não foi recorde, mas registrou um número muito expressivo de votantes: 2.382 no total. O assunto era a matéria de capa da revista Veja do fim de semana anterior. Daqui a pouco você saberá os resultados exatos, mas uma coisa ficou clara – o leitor brasileiro desenvolveu um olhar crítico e já não recebe passivamente tudo o que a imprensa leva até ele. A nossa sondagem não tem validade científica, mas reflete uma tendência inquestionável: nosso cidadão-leitor já não aceita passivamente tudo o que a mídia lhe oferece. Nosso leitorado aprendeu a julgar, principalmente aqueles que querem fazê-lo de tolo.


Marcola, o bandido, mudou tudo: os cadernos de cidade finalmente foram valorizados, os repórteres de rua foram reabilitados, as autoridades descobriram que não podem continuar dizendo uma coisa e fazendo outra. Marcola desarrumou as rotinas das redações, mostrou que jornais diários devem trabalhar com igual intensidade todos os dias da semana e que não adianta fingir que está tudo bem quando na realidade quase tudo anda muito mal.


Marcola mostrou que eleições não são os únicos instrumentos de mudança. A quatro meses do próximo pleito percebe-se que as mudanças devem ocorrer agora, imediatamente, antes que seja tarde.


Marcola mostrou que a violência não se concentra no Rio de Janeiro, é um fenômeno nacional que envolve não apenas os presídios e as favelas, mas também o Congresso. A corrupção não é um ilícito isolado e confinado ao caixa dois dos partidos. A corrupção deixa seqüelas em todas as esferas da sociedade. Marcola juntou-as.


Marcola mostrou que para entender Marcola é preciso ir um pouco além das frases feitas e posturas politicamente corretas. O bandido nos acordou para as conquistas democráticas que já havíamos esquecido. Marcola relembrou a repressão e a justiça sumária nos becos escuros.


O fenômeno Marcola tem apenas 9 dias de vida. Difícil interromper o seu curso.