O quadro era tétrico quando começaram a aparecer as bandalheiras de Collor de Melo. Quando o Brasil descobriu que o presidente da Câmara Severino Cavalcante recebia míseras propinas do concessionário de um restaurante no Congresso, a vergonha foi maior. Agora, quando o suplente de um suplente vai presidir o Conselho de Ética com a missão precípua de salvar a pele de José Sarney, presidente do Senado e chefe do poder Legislativo, percebe-se a devastação moral desta República.
A primeira frase pronunciada pelo senador Paulo Duque ao assumir a nova função foi digna de uma Casa dos Horrores: ‘Gastei muito pouco para chegar até aqui’. O obscuro político da Baixada Fluminense, convencido de que a representação de sociedade é um negócio como outro qualquer, gabou-se da sua esperteza e ainda sentenciou: ‘Não existe independência na política’.
O fiscal do decoro senatorial assumiu publicamente que está pronto para vender-se. Como foi eleito sem um voto sequer, avisa que não está preocupado com as repercussões. ‘Quem faz a opinião pública são os jornais e eles estão acabando’.
Duque está certíssimo: alguns jornais estão acabando, acabam sobretudo aqueles que se entregam a políticos inescrupulosos. Mas a sociedade está mais atenta do que nunca. Sarney pode até terminar o seu mandato e ser o convidado de honra para a posse do próximo presidente, mas o imortal Sarney condenou-se irremediavelmente a ser o sinônimo de lixo.
Sua debacle é uma das mais vergonhosas da história política do país: é um Berlusconi, talvez sem orgias, mas com uma incrível capacidade de espalhar sujeira.