Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O circo dos horrores. Quem vê, já sabe

A Rede TV! – no ar desde 1999 – faz uma programação de qualidade e abrangente, voltada para toda a família, para todas as idades. E vem crescendo, para se tornar umas das maiores redes de televisão do país. Os grandes investimentos feitos em tecnologias, refletem um expressivo crescimento de audiência, tendo seus programas, sistematicamente, atingido as primeiras posições de audiência! – palavras da emissora.

Entretanto, há muito tempo a noção de entretenimento da Rede TV! nos remete a um dos piores momentos da televisão brasileira, uma época de programas cujo alicerce era o grotesco! Este comportamento pouco comprometido com a qualidade perpetua a emissora na pior colocação entre as emissoras de televisão aberta, tanto na preferência do público, quanto na de anunciantes – segundo levantamento feito pelo Ibope em janeiro deste, não apresentando nenhum crescimento em 2007.

Fruto dos restos mortais da TV Manchete – e como quase tudo que envolve o espólio da extinta emissora –, a Rede TV! acabou no centro de um entrave jurídico,1 relacionado às ações trabalhistas que envolviam as massas falidas da TV Manchete e da Bloch Editores. Pertence aos engenheiros e empresários Almicare Dellevo e Marcelo de Carvalho Fragali, cuja admirável biografia empresarial passa longe do que se entende por fazer televisão. Afirmar que falta à Rede TV! ‘homens de televisão’, mas que afirmativa deveria ser um conselho.

É na Rede TV! que muito do que se imaginava banido da televisão ainda encontra espaço, num insuportável déjà vu sem limites. A emissora acabou se tornando o grande circo dos horrores da televisão brasileira! É só sintonizar para encontrar todos aqueles artistas, cujas carreiras chegaram ao fim mesmo. Sobretudo, aqueles que estão falidos, desempregados, doentes – quanto mais falido melhor, quanto mais doente melhor e se for doença terminal você ainda pode acompanhar quase que diariamente o fim de seu artista querido. Todas as mulheres, frutas e as não frutas, também – desde que não tenham problemas em se expor. Lá estão: os ídolos do funk, do pagode, axé, do sertanejo – desde que estes estejam à beira do esquecimento, o declínio, ou melhor, ‘o retorno’ é o que interessa. As celebridades C e D – sim, existe uma classificação. Só não se sabe baseada em que! Mas entre elas estão todos os ex-participantes de reality shows. E, claro, aqueles artistas que ainda conseguem um sopro de visibilidade ao lançarem seu inédito filme pornô.

Na Rede TV! também está o povo! O brasileiro sofrido que tem na emissora um espaço aberto para denunciar, pedir, implorar. O povo que apanha, bate, bebe, não recebe e/ou paga pensão alimentícia, que precisa do teste de DNA! Que morre e mata! Que morre por falta de assistência, de comida, de responsabilidade ou excesso de vaidade. Que mata por falta de humanidade ou excesso de crueldade. Tudo registrado pelas lentes exageradamente realistas das câmeras da emissora.

A tarde é sua, Bom dia, mulher, Pânico na TV, Super Pop e TV Fama são algumas das opções do cardápio da Rede TV!, mas em todas é possível encontrar, em quantidade variada, doses do tempero citado acima. Tempero responsável pela conquista de uma parcela respeitável de público telespectador de classes AB e ABC, formador de opinião, ‘que credencia a Rede TV! como a emissora mais qualificada da TV!’ – palavras da emissora. Não é por acaso que o slogan da emissora sabiamente adverte: Rede TV! Quem vê já sabe… E aí a gente vai vendo cada vez menos a Rede TV!

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Crítica de TV, Brasília, DF