“Daniel Piza. O colunista, que escreve aos domingos neste espaço, está em férias.” (Estado de S.Paulo, 1/1, caderno “Domingo”, pág. D-8)
O Estadão errou: no domingo Daniel Piza já não estava gozando as merecidas férias. Estava morto.
Impossível adivinhar na hora do fechamento do caderno na quinta ou na sexta-feira anterior que, quando a edição circulasse, o jovem jornalista – ágil, incansável, surpreendente – estaria sendo sepultado, vítima de um AVC fulminante.
O exercício do jornalismo, além dos incessantes desafios e riscos à vida, compreende equívocos e vacilos. Evitáveis, quando o veículo investe em controles de qualidade. Inevitáveis, diante dos imponderáveis que envolvem o métier. De toda maneira, reparáveis nas edições seguintes. Basta ter a coragem para assumi-los e a competência para converter desacertos em acertos.
Crítica fora de lugar
A reprimenda contra a sua ouvidora publicada pela Folha de S.Paulo no último domingo (“Ombudsman usou dados incompletos em crítica sobre CNJ”, 1/1, pág. A-6, para assinantes) foi, no mínimo, desatinada. Este observador não discute o mérito da bronca, é possível que a ombudsman Suzana Singer tenha usado dados incompletos na sua avaliação sobre a cobertura do jornal na crise no judiciário. Mas quem deveria assinar a repreensão pública é o comando da Redação, nunca um(a) colunista, por mais importante que seja (e Mônica Bergamo ocupa, sem favor, uma posição ímpar na equipe do jornal).
Para preservar a instituição da ouvidoria, quem deveria publicar o reparo seria a própria responsável, na sua coluna. Com direito a replicar. Aquele é o espaço devido para discutir e defender os interesses do leitor. Naquele retângulo dominical da página 6 do primeiro caderno quem manda é o único jornalista cujos originais não passam pelo crivo da direção. A Folha desrespeitou os ritos que ela pioneiramente introduziu no Brasil. É grave.
O sabe-tudo
Na mesma edição da Folha (capa da “Ilustrada”, pág. E-1) matéria pitoresca, dessas que ficam na gaveta para os dias fracos, como o chuvoso feriado de 1º de janeiro de 2012. “O homem que sabia demais” é o título da reportagem sobre o colecionador de publicações e informações Antônio Sérgio Ribeiro. O título correto seria “O homem que sabe demais”, porque Serginho (como é chamado) tem 52 anos, está em plena atividade como diretor do Departamento de Documentação e Informação da Assembleia Legislativa de São Paulo e continua a atender em casa biógrafos carentes, desesperados. E às vezes preguiçosos.
Uma de grandes façanhas de Serginho, segundo a Folha, foi fornecer a Fernando Morais, autor do celebrado Olga, o dia em que a personagem-título foi deportada do Brasil e o nome do navio que a transportou à Alemanha para ser entregue à Gestapo.
Ora, o nome do navio (“La Coruña”) está citado na biografia Olga Benário, de autoria de Ruth Werner, publicada na Alemanha Oriental em 1961 – 24 anos antes de Fernando Morais – e mencionada na respectiva bibliografia (pág. 188 da tradução brasileira). O biógrafo não compulsou as obras que recomenda como precursoras. Nem examinou com cuidado a coleção dos jornais cariocas – sobretudo os vespertinos de agosto e setembro de 1936 – onde aparecem as datas do decreto de expulsão e do embarque da prisioneira. De posse do nome do navio, não seria difícil ir ao Arquivo Nacional (no centro do Rio) onde estão registradas as entradas e saídas de navios estrangeiros.
Um e outro
Este observador também errou. Na matéria “Lacerda vs. Wainer, onde tudo começou”, aqui publicada em 29/11/2011, refere-se ao parceiro do jornalista Samuel Wainer na Revista Brasileira, Almanack Israelita e Diretrizes: Azevedo Amaral. Este observador acompanhou no fim dos anos 1940 a trajetória de um grande intelectual carioca, humanista, catedrático de geometria, reitor da Universidade do Brasil, filossemita ostensivo, Inácio Manuel de Azevedo Amaral (1883-1950).
Não conhecia o irmão jornalista, Antônio José Azevedo do Amaral (1881-1942), que no período 1906-1916 foi correspondente em Londres de grandes jornais brasileiros e depois chegou a redator-chefe de O Paiz (Rio). Inácio era um liberal, enquanto o mano Antônio José defendia um regime autoritário para o Brasil, foi ardoroso adepto do Estado Novo.
Pela lógica, o Azevedo Amaral que teria acompanhado Samuel Wainer no início da carreira seria o professor Inácio. A lógica e os sentimentos atrapalham o pesquisador: o intelectual autoritário foi o mentor de Wainer em Diretrizes e o seu nome está associado ao de Oliveira Viana e Francisco Campos. Wainer depois se livrou dele [ver Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (FGV, volume I, pp. 194-195); Danilo Wenceslau Ferrari, Diretrizes, a primeira aventura de Samuel Wainer ( in Revista Eletrônica do Arquivo do Estado de São Paulo, junho de 2008)].