O leitor Ruy Garcia escreveu um comentário às 17:32, na última quinta-feira, dia 29, em que diz:
‘Você publicou um texto em seu Balaio sobre o início da campanha eleitoral, constatando que José Serra largou na frente de Dilma Rousseff. Se você fosse um repórter qualquer, de um jornal ou revista qualquer, nada a objetar. Como você mesmo diz, não dá para brigar com os fatos, pelo menos aqueles que você constata. Acontece que na minha modestíssima opinião, você não é um repórter qualquer’.
Para chegar a esta conclusão, o leitor faz referências – de resto, públicas e notórias – à minha participação em campanhas eleitorais do presidente Lula e como funcionário do seu governo. Pois me permito discordar do Ruy Garcia e de tantos outros leitores que esta semana mandaram comentários ao Balaio, criticando o texto em que faço um balanço do primeiro mês da campanha presidencial de 2010.
Garcia usa duas vezes o verbo ‘constatar’ – e é exatamente isso o que qualquer repórter deve fazer. Para mim, trata-se de um elogio, não de uma crítica – é este o meu ofício: ver, ler, ouvir, analisar e, ao final, contar aos seus leitores o que está acontecendo, goste ou não dos fatos como eles são. O bom uso ou o mau uso que outros farão do que escrevi, uma vez publicado, não é problema meu, nada posso fazer. É como jogar uma folha de papel pela janela.
Liberdade respeitada
Sempre gostei de ser um repórter qualquer ao exercer o meu ofício, pois aprendi a separar as minhas preferências e amizades pessoais dos dados da realidade – menos na hora de discutir salários, claro, porque tenho uma longa história profissional que merece ser bem remunerada.
Meu único compromisso é ser fiel ao leitor, que é quem, em última instância, garante meu ganha pão. Vivo até hoje do que escrevo e dependo da confiança que os leitores – de qualquer partido, time ou religião – têm em mim. Não tenho outra fonte de renda fora o meu ofício de jornalista, desde que comecei na profissão, com 16 anos, 45 anos atrás.
Não vai ser agora, depois de velho, que mudarei minha conduta. Além do mais, acho uma grande bobagem esse negócio de imaginar que um blog ou uma coluna de jornal vai dar ou tirar votos de alguém, ajudar a eleger seu candidato preferido. Seria muita petulância. Por isso, não faço aqui campanha contra ou a favor de ninguém – e não vou permitir que este espaço seja usado com fins eleitorais.
Muito menos admitirei que alguém coloque em dúvida minha honestidade profissional, insinuando que fatores externos possam influir em qualquer coisa que escreva aqui no Balaio, como fez o blogueiro Eduardo Guimarães, em comentário enviado às 11:59 de sábado, 1º de maio:
‘Kotscho, hoje, declara-se independente, mas trabalha para uma empresa de comunicação identificada com o grupo de empresas de mídia aliadas do PSDB. Se isso tem algo a ver com sua matéria favorável a Serra só o tempo dirá’.
O tempo, não. Digo já eu mesmo. Em primeiro lugar, fique sabendo o Sr. Guimarães que eu não estou declarando hoje que sou independente, coisa nenhuma, nem preciso disso. Sempre fui, basta ver o conjunto do meu trabalho. Jamais admiti qualquer interferência no que publico, e disso são testemunhas todos os profissionais com quem já trabalhei.
Como jornalista profissional, o que não é o seu caso, é claro que sempre trabalhei em empresas de comunicação e não de laticínios, e não me preocupo em saber com quem se identificam ou não seus acionistas, desde que isso não interfira no meu trabalho.
Posso assegurar ao blogueiro Eduardo Guimarães e aos demais leitores que no iGesta liberdade é respeitada desde o primeiro dia – e, no dia em que não for mais, farei como fiz em todas as outras empresas onde já trabalhei: peço as contas. Sou o único responsável pelo que publico.
Manipulação e omissão
Ninguém é obrigado a concordar com o que escrevo – o espaço de comentários do Balaio é absolutamente democrático, aberto a críticas, sabem todos vocês –, mas não aceito que qualquer um questione os meus princípios e as minhas intenções.
Posso não gostar do que vejo, mas não adianta xingar a paisagem, culpar o juiz ou o adversário. Isto não muda o resultado. Ao contrário do que me escreveram vários leitores, não acho que estejamos numa guerra e que os adversários numa disputa eleitoral sejam nossos inimigos, que vale tudo para derrotá-los.
O inimigo do bom jornalismo é a mentira, a manipulação ou a omissão de fatos, como temos visto amiúde na atual campanha. O compromisso de um jornalista qualquer é com a realidade factual, qualquer que seja o seu lado.
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Jornalista