Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O comunicador coringa

Eles caminham lado a lado com as fontes. Estão sempre de prontidão para atender às necessidades dos veículos de comunicação. Procuram atingir o interesse público, sim, mas procurando coaduná-lo com o interesse privado. Já foram chamados de “vendidos”. Décadas atrás, eram considerados jornalistas que não deram certo nas redações. Hoje, entretanto, ocupam a maior fatia do mercado. Tudo isso para apresentar os assessores de imprensa.

No dia-a-dia, as redações recebem dezenas de e-mails, tuítes, mensagens via Facebook etc. O motivo? Pessoas que tentam vender pautas. Os assessores de imprensa são os profissionais especialmente destacados para isso. Eles conhecem os princípios da imprensa e sabem o que tem condição de ser publicado. Quando sabem que não vai ser publicado, tentam mesmo assim. O cliente pediu? É uma ordem.

Há muitas agências especializadas nesse serviço espalhadas pelo Brasil. O objetivo é fomentar uma boa imagem do assessorado por intermédio dos canais de divulgação da imprensa. Mas não apenas isso. O assessor se tornou uma figura versátil ao ponto de incorporar três figuras típicas da comunicação: o jornalista, o publicitário e o RP. Se na faculdade existem três graduações bem definidas, o mercado de trabalho tratou de congregá-las.

Hoje é preciso saber produzir eventos, criar campanhas promocionais. As empresas querem pessoas com a capacidade de interpretar valores-notícia dos jornalistas; a criatividade dos publicitários; a facilidade de relacionamento dos RP’s. O conceito de assessor de imprensa, portanto, está academicamente desatualizado.

Assessor de imprensa ou assessor de mídia?

Nos últimos anos, cresceram vertiginosamente os canais formadores de opinião. Assessor que se preze não aposta mais somente nos veículos tradicionais para vigorar os interesses de um cliente. A mídia tornou-se ampla. O assessor lida com jornalistas nas redações, mas também com youtubers de plantão, por exemplo. Há milhares de portais segmentados, rádios web, podcasts etc. Todos eles geram repercussão.

Logo, o nome correto seria assessor de imprensa ou assessor de mídia? De mídia! A imprensa é apenas um público de interesse dentro de um universo que comporta milhares. Talvez seja o público mais importante, é verdade, pois os grandes veículos permanecem dominando a arte de agendar assuntos no cotidiano da população. Esta arte, todavia, está cada vez mais fracionada pela concorrência gerada pelas novas tecnologias.

O assessor atual é um comunicador coringa, alguém que faz muito de muito, ainda que suas atribuições estejam bem delimitadas em cursos e livros de comunicação. Em outras palavras, profissionais da área devem conhecer aspectos do marketing e saber trabalhar minimamente com cada um de seus subgrupos (jornalismo, publicidade e propaganda e relações públicas), bem como mapear novos canais de divulgação. Num mercado competitivo, essas atribuições são um imperativo de sobrevivência.

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Gabriel Bocorny Guidotti é jornalista e escritor