A decisão do ministro Cesar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, de soltar os magistrados implicados no novo escândalo das propinas dá uma idéia do grau de dificuldades que o Estado brasileiro terá para moralizar o Poder Judiciário.
Mas os jornais de domingo (22/4) foram excepcionalmente firmes, considerando que para a imprensa é muito desconfortável confrontar-se com um poder do qual vai precisar em caso de processos, indenizações etc.
O que se espera agora da mídia é a sua capacidade de recapitular e relacionar. Mas recapitular além da sexta-feira (13/4), quando foi desfechada a Operação Hurricane. A mídia precisa rever com muita atenção aquele escândalo Waldomiro Diniz, de fevereiro de 2004. O alto funcionário do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi flagrado ao extorquir dinheiro de um bicheiro. Durante as investigações, apareceram os mesmos ingredientes e alguns personagens da super-máfia agora desbaratada pela Polícia Federal – a máfia dos bingos, o lobby das lotéricas estaduais e o tráfico de influência entre autoridades, magistrados e delinqüentes.
Alguns dos delinqüentes então mencionados reapareceram agora. Como ? Simplesmente porque não foram enquadrados, indiciados e punidos há três anos. Outros magistrados os acolheram sob o seu manto protetor.
As autoridades policiais estão fazendo a sua parte, mas a imprensa não pode abdicar do seu dever de lembrar. Mesmo que a Justiça seja lenta, mesmo que ela seja incapaz de superar o corporativismo, é imperioso vencer os lapsos de memória.