Não há como um dia depois do outro, especialmente na imprensa diária. Na quinta-feira (2/8), dia seguinte à constatação da Folha de S.Paulo apontando os pilotos como culpados, o jornal saiu mais prudente. A matéria principal, dessa vez assinada pela repórter Leila Suwwan, foi em outra direção: a hipótese de falha humana é colocada em dúvida, pode ter sido falha no equipamento.
Tanto a Folha como seus concorrentes passaram ao largo de uma manchete que havia ocupado grande parte das atenções no dia anterior. Ninguém refutou diretamente ou discutiu a precipitada acusação da quarta-feira, como se nada tivesse acontecido. A própria questão do vazamento de uma informação sigilosa sequer foi discutida.
O Estado de S.Paulo, no máximo, permitiu-se uma contestação indireta à Folha com uma matéria a respeito do acordo internacional que proíbe a veiculação de dados sobre acidentes aéreos antes de concluído o inquérito.
Pergunta-se: qual a razão deste pacto de silêncio? Cavalheirismo ou corporativsmo? O que impede um veículo jornalístico brasileiro de comentar o desempenho dos demais? Se a imprensa reclama do ‘aparelhamento’ do Estado, por que razão ela não é mais pluralista, mais diversificada e, em última análise, mais solta?
Essa não é uma questão secundária: o debate civilizado entre veículos de comunicação é um fator de equilíbrio, evita a perigosa unanimidade.
Jornais nasceram, cresceram e se tornaram indispensáveis ao longo dos últimos 400 anos porque sempre foram combativos, principalmente contra seus competidores.