A imprensa está se omitindo da tarefa de esclarecer o que são candidatos com a ficha suja e por que seus registros deveriam ser impedidos.
Se a relação apresentada pelos magistrados, e rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal como impedimento a candidaturas, produz injustiças, os jornais deveriam esclarecer quem é quem nas listas eleitorais.
Os jornais de quinta-feira (7/8) estavam repletos de notícias e comentários sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal na véspera, de aceitar candidatos com a ‘ficha suja’ – isto é, que ainda não foram condenados ou ainda têm chance de recurso.
A decisão era esperada. Mas a expressão ‘ficha suja’ é preconceituosa e a mídia está abusando dela porque ela é sintética e simplificada. O público a entende, embora seja imprecisa e, por enquanto, injusta.
Se, pelo entendimento da suprema corte, o candidato ainda não-condenado é inocente e tem o direito de prosseguir na postulação, a mídia não deveria usar o termo genérico. Mas o que também chama a atenção no comportamento da mídia é que ela está praticamente de braços cruzados, incapaz de oferecer denúncias substantivas contra candidatos supostamente malfeitores.
Naipe de tambores
Se a mídia pretende ajudar a sociedade para evitar que prefeitos e vereadores moralmente desqualificados sejam eleitos em outubro, que ela cumpra, pelo menos parcialmente, o seu papel de investigadora ajudando a identificar aqueles sobre os quais pairam desconfianças.
A Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) já ofereceu uma base de dados com os suspeitos, agora é preciso saber se esses suspeitos são efetivamente suspeitos, submetê-los a um escrutínio, mantê-los sob pressão. Ao menos nos municípios onde há jornais e rádios independentes do poder político.
Transferir para o Ministério Público toda a responsabilidade de achar as fichas sujas equivale a converter a imprensa num naipe de tambores decorativos e, na melhor das hipóteses, apenas barulhentos.