Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O dilema da imprensa

Apenas seis em cada cem brasileiros costumam ler jornais. Para efeitos de comparação, considere-se, por exemplo, que no Japão essa proporção é de 46 leitores em cada cem habitantes, na Noruega é de 54 para cem e, nos Estados Unidos, 19 leitores a cada centena de habitantes.


Os dados são citados na terça-feira (23/11), em reportagem do Estado de S.Paulo na cobertura do seminário sobre o futuro dos jornais que se realiza na capital paulista. O tema que mais chama a atenção da imprensa brasileira nesse evento é a integração de operações para o jornalismo de papel e para o jornalismo digital.


No entanto, há questões anteriores a serem contempladas. Na reportagem da Folha de S.Paulo sobre o mesmo assunto, por exemplo, o destaque é o caso do jornal The Times of India, que aumentou a circulação de suas edições de papel em 8% ao ano, regularmente, nos últimos dez anos.


O segredo dos indianos tem sido manter baixo o preço dos exemplares e aproveitar a ascensão social de parte da população do país, sem rebaixar a qualidade do conteúdo. Um exemplar do Times indiano custa o equivalente a R$ 0,10 e uma assinatura anual sai por R$ 45,00. O jornal tem uma circulação diária de 4 milhões de exemplares e tira seis edições diferentes por dia.


Jornalismo melhor


No Brasil, quando se trata de buscar os novos públicos promovidos pela melhoria das condições econômicas, praticamente todas as empresas jornalísticas preferiram criar ou adquirir títulos ‘populares’, que têm pouco jornalismo e muito entretenimento.


Difícil escapar da hipótese de que algum preconceito move a decisão segundo a qual, para a nova classe média emergente, o produto adequado deve ser inferior ao que os jornais oferecem aos seus leitores tradicionais.


O tema central dos debates promovidos no seminário tem sido a convergência das mídias e o desafio de financiar o desenvolvimento do jornalismo digital com a receita do jornalismo de papel. Alguns especialistas reconhecem que é difícil mudar um modelo de negócio que durante séculos foi dominado pelos processos de impressão e construir operações multimídia rentáveis.


Mesmo com o bom momento econômico, que elevou a circulação dos diários de papel no Brasil a mais de 8 milhões de exemplares em 2009 (em boa parte por conta dos chamados ‘populares’), os empresários nacionais temem a perda de receita com o crescimento do número de leitores online.


O dilema poderia ser reduzido se o jornalismo oferecido, tanto em papel como pela via digital, fosse capaz de surpreender e satisfazer o leitor. Qualquer leitor.


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Abrindo as cortinas


O Globo e a Folha de S.Paulo começaram a publicar, no último fim de semana, trechos do processo da Justiça Militar contra a ex-militante esquerdista Dilma Rousseff, presidente eleita do Brasil.


Para o observador, foi um claro exemplo de anticlímax: muito barulho por nada. Pouquíssima repercussão, nenhum comentário de efeito até agora. Talvez porque as informações só foram liberadas depois das eleições, ou talvez porque ninguém leve a sério declarações tomadas sob tortura, anotadas por torturadores e julgadas por magistrados a serviço de uma ditadura militar.


Tramita no Congresso um projeto de lei que regulamenta o acesso à informação pública, garantido pelos artigos 5 e 37 da Constituição.




Alberto Dines:


Não há como escapar, está reaberta a temporada de luta pela abertura dos arquivos do regime militar. A decisão do STM de entregar à Folha de S.Paulo o processo contra a militante Dilma Rousseff, agora presidente eleita, está fadada a abrir as portas das demais repartições.


Isto nos aproxima da heróica cruzada do juiz espanhol Baltazar Garzón, ameaçado pela Suprema Corte de seu país de ser cassado por causa da sua insistência em descobrir os crimes cometidos durante a Guerra Civil (1936-39).


Garzon passou pelo Brasil recentemente e hoje estará no Observatório da Imprensa para falar sobre a necessidade de recuperar e cultivar a memória dos anos de chumbo em todos os países submetidos a ditaduras. Às 22h na TV Brasil, em rede nacional. Em São Paulo, canal 4 da NET e 181 da TVA.