Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo

Computador consegue desenhar pensamento

‘Pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, EUA, conseguiram treinar um computador para ‘ler’ a mente por meio do acompanhamento de imagens de atividade do cérebro quando as pessoas pensam em palavras específicas. O estudo, publicado na revista Science, pode levar a um melhor entendimento de como e onde o cérebro armazena informação. Os cientistas calibraram o computador com a ajuda de nove voluntários, que pensaram em 58 palavras diferentes, enquanto tinham o cérebro monitorado. As imagens ‘médias’ resultantes foram muito semelhantes ao objeto real.’

Ethevaldo Siqueira

Não viaje mais a trabalho, use a telepresença

‘Imagine um sistema de comunicação audiovisual, futurista, altamente interativo, capaz de reunir pessoas em quatro cidades ou países diferentes, com imagens em alta definição em tamanho real, som digital e conexão feita a partir de um simples toque numa tecla num telefone com protocolo IP.

Esse sistema nada tem de ficção nem de futurológico, mas já existe e começa a funcionar em diversos países, inclusive no Brasil, no que poderia ser chamado de evolução da videoconferência. Criado pela Cisco, o primeiro sistema comercial desse tipo tem o nome comercial de Telepresence.

Em entrevista exclusiva a esta coluna, Carlos Dominguez, vice-presidente sênior da Cisco, afirma que o novo sistema de comunicação é resultado direto do avanço da tecnologia, das imagens digitais de alta definição, da disponibilidade de banda larga e do protocolo IP.

Numa demonstração conduzida por Pedro Ripper, presidente da Cisco Brasil, nos escritórios da empresa em São Paulo, na quarta-feira, pude experimentar o sistema Telepresence, conversando online, sobre o seu potencial, com interlocutores na Cidade do México, em Londres e em Dusseldorf.

É impressionante a sensação de realidade que nos transmite esse tipo de comunicação. Nele, uma das diferenças básicas é que nada é virtual, mas real, vivo e interativo. Depois de alguns minutos, não percebemos mais as telas do sistema nem as limitações de distância e do próprio ambiente. Parece que estamos numa reunião de verdade, entrevista coletiva ou mesa-redonda.

MIL APLICAÇÕES

Uma das aplicações mais freqüentes da telepresença é a substituição da maioria das viagens de trabalho de longa distância, nacionais ou internacionais, feitas hoje por executivos para participar de reuniões.

Em lugar da perda de dias inteiros em viagens de negócios, as reuniões poderão ser feitas com muito maior rapidez e freqüência, eliminando-se o desconforto dos aeroportos, os longos vôos internacionais e os custos elevados de hotéis.

Empresas operadoras de telecomunicações brasileiras, como a Embratel, já adquiriram seus sistemas. Já as maiores empresas usuárias, globalizadas, com filiais em diversos países e dezenas de cidades, instalam sistemas de telepresença em suas dependências.

Um caso concreto de aplicação do sistema de telepresença de âmbito internacional está sendo desenvolvido no Brasil e no mundo pela Dimension Data, empresa fornecedora de soluções para infra-estrutura de tecnologia da informação (TI), para interligação de 40 escritórios em 23 países, da Procter & Gamble, a corporação gigante de bens de consumo cujo faturamento anual é de US$ 76,5 bilhões.

Além do uso corporativo, para substituir viagens de negócios, o sistema de telepresença começa a ser utilizado em diversas aplicações, como:

1. Educação – As possibilidades da telepresença na área educacional parecem ser ilimitadas. No Estado americano do Colorado, o sistema está sendo usado para o treinamento à distância de professores, com excelentes resultados.

2. Telemedicina – Entre as aplicações mais freqüentes da telepresença na área de saúde estão hoje diversos casos de telemedicina e de cirurgia remota, com auxílio da telerrobótica. Ou mesmo em exames clínicos à distância.

3. Publicidade e vendas – Para demonstrar o potencial de viagens turísticas ou de imóveis, nada melhor do que mostrar imagens reais de locais, instalações ou produtos distantes.

4. Entretenimento – Com essa tecnologia, podem ser mostrados também parques naturais, recifes de coral ou cavernas naturais a serem exploradas, seja no caso de um simples entretenimento ou de uma forma de turismo virtual online.

HISTÓRIA

A idéia de um sistema interativo com áudio e vídeo é antiga, mas sua realização tem enfrentado diversos problemas. Nos anos 1970 e começo dos 1980, tive oportunidade de assistir, no Japão, a algumas demonstrações de sistemas de videoconferência, oferecidos para serviços de conexão entre Tóquio, Saporo, Nagoya, Kyoto e Osaka, desenvolvidos pela NTT e pela NEC Corporation. Na época, muitas pessoas ainda se referiam, erroneamente, ao sistema como sendo de teleconferência – nome que designa, na verdade, uma multiconferência via telefone, apenas com áudio.

Ao longo das décadas de 1980 e 1990, foram desenvolvidas várias opções de sistemas analógicos de videoconferência, na Europa e nos Estados Unidos, para comunicação audiovisual entre duas ou mais cidades. Mas, por seu custo operacional elevado e a pouca flexibilidade, não fizeram grande sucesso. Mesmo assim, ainda existem centenas de sistemas convencionais de videoconferência em operação no mundo.

A evolução da tecnologia permite agora uma solução muito mais avançada, transformando-se no sistema de telepresença, que oferece imagens de TV de alta definição e que mostram as pessoas em tamanho natural e som digital direcional. Além da Cisco, diversas empresas desenvolvem projetos de sistemas de telepresença, entre as quais a HP, a Teliris, a Telanetix, a Tandberg e a Polycom.’

PROFISSÃO PERIGO
Nicola Pamplona

Jornalistas são torturados por milícia

‘Integrantes de uma milícia que atua na zona oeste do Rio seqüestraram e torturaram uma equipe de reportagem do jornal carioca O Dia, na favela do Batan, em Realengo. Os crimes ocorreram no dia 14 de maio, mas a direção do jornal informou que preferiu divulgar o episódio somente ontem, para não atrapalhar as investigações policiais. Os três funcionários do jornal – uma repórter, um fotógrafo e um motorista – viviam havia duas semanas na favela para preparar uma reportagem sobre a influência da ação dos milicianos na vida da comunidade.

Os jornalistas estavam morando em uma casa alugada na comunidade e foram denunciados às lideranças da milícia que controla o local. Segundo relatos do jornal O Dia, o fotógrafo e o motorista foram surpreendidos por dez homens armados e com toucas ninja quando chegavam ao Largo do Chuveirão para tomar cerveja, a convite de moradores locais. O grupo, então, foi buscar a repórter, que estava na casa alugada.

Os três foram mantidos em cárcere privado por mais de sete horas, período em que sofreram agressões como socos, pontapés, choques elétricos, sufocamento com saco plástico e roleta-russa. Os criminosos ameaçaram matar os reféns, mas os liberaram após a promessa de que não não seriam denunciados. Segundo o relato das vítimas, havia policiais dentro do cativeiro, que em determinado momento chegou a ser ocupado por mais de 20 pessoas, entre agressores e espectadores.

Por motivos de segurança, o nome dos profissionais seqüestrados não foi divulgado. Em nota oficial assinada pelo diretor de redação de O Dia, Alexandre Freeland, o jornal informou que ‘os três profissionais estão a salvo, em bom estado de saúde, em local seguro, e vêm recebendo irrestrito apoio da empresa, incluindo acompanhamento psicológico’. O caso foi encaminhado à Secretaria de Segurança Pública, que informa já ter identificado suspeitos.

A ação das milícias em favelas do Rio é hoje uma das principais preocupações da Secretaria de Segurança Pública, uma vez que há indícios de que grande parte delas é comandada por militares. Em declarações dadas no fim de fevereiro, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, informou que havia 115 investigações sobre a ação de milícias em curso. Na ocasião, ele classificou a atuação de policiais nas milícias como ‘desvio de conduta muito sério’.

Os milicianos se espalharam pelas favelas da periferia do Rio nos últimos anos como uma alternativa ao tráfico de drogas. Prometem segurança aos moradores, mas, em geral, impõem rígidas normas de conduta nas comunidades, além de monopolizarem o comércio de gás de botijão, instalações piratas de TV a cabo e transporte, entre outros.

Já ganharam a alcunha de ‘comandos azuis’, em alusão à facção Comando Vermelho, que disputa o controle do tráfico na cidade.

Segundo levantamento divulgado por O Dia, as milícias dominam atualmente 78 favelas da cidade. Os relatórios enviados pela equipe do jornal durante o período passado na Favela do Batan indicavam a coexistência de milicianos com policiais responsáveis pela segurança na região.’

INTERESSE NACIONAL
Francisco Quinteiro Pires

O desafio de instituir os os valores de um país

‘Na apresentação do primeiro número da Interesse Nacional, os editores fazem a pergunta sobre o que significa falar hoje de interesse nacional e se esse significado tem validade para um país como o Brasil. Distribuída nas grandes livrarias, Interesse Nacional (Ateliê, 86 págs., R$ 25), cujos editores são Sergio Fausto e Rubens Antonio Barbosa, propõe respostas nos ensaios que vai publicar a cada trimestre. É um debate constante, iniciado pela edição de estréia.

A noção de interesse nacional, embora seja genérica, pode ser apoiada em valores. Ela se funda em um juízo político e não técnico. Interessante ressaltar essa sutileza, enquanto atualmente se classifica a política de ideologia (apontando-se um sentido negativo) e a economia de técnica (revelando-se um sentido positivo).

Por serem construção política, erguida por meio do debate público, os interesses do País passam pela democracia, um valor, e pela inserção internacional, um objetivo. Os editores dizem que essa noção pode parecer abstrata na aparência, mas ela é uma referência da qual o futuro brasileiro não deve abdicar.

A revista propõe um debate em um ambiente de maior complexidade. No passado era mais fácil tomar posições, segundo escrevem os editores, além de as relações entre Brasil e outras nações serem menos intrincadas. O Estado tinha um peso maior, que se diluiu nos últimos anos, cedendo espaço ao setor privado nacional e internacional. As corporações multinacionais aumentaram seu cacife.

A Interesse Nacional afirma adotar como linha editorial a renúncia à defesa de qualquer visão. Os ensaios não têm a intenção de promover convergência de opiniões. Tanto que os temas abordados apresentam perspectivas diferentes. É o caso dos artigos dos economistas Gustavo Franco, um dos idealizadores do Real e ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso, e Luiz Gonzaga Belluzzo, integrante da equipe do Cruzado e interlocutor do presidente Lula. Seus escritos, intitulados Inserção Externa e Desenvolvimento: O Consenso Envergonhado e Inserção Externa e Desenvolvimento: Mitos do Consenso Liberal, respectivamente, debatem o consenso econômico neoliberal, que reina absoluto desde o fim dos anos 1980. A intenção é saber se o neoliberalismo tem ou não bons fundamentos para amparar medidas econômicas e se pode levar o País rumo ao sólido desenvolvimento.

Os seis artigos restantes debatem outros temas. A política externa brasileira na América do Sul, com ênfase nas relações com a Venezuela, é discutida pelo embaixador Rubens Barbosa e por Marco Aurélio Garcia, assessor especial de política externa do atual governo. As mudanças climáticas são o alvo da análise de Everton Vargas, embaixador que chefiou a delegação brasileira na última conferência da convenção sobre clima, em Bali, no fim do ano passado. A reforma do Poder Judiciário é tratada por Joaquim Falcão, professor de Direito da FGV-Rio. O jornalista Eugenio Bucci, ex-presidente da Radiobrás, fala sobre a importância das televisões públicas na democracia. E o especialista Cláudio Moura Castro escreve sobre a ‘suposta’ internacionalização do ensino superior no Brasil.’

RAMONET
Ubiratan Brasil

A luta pela qualidade da informação

‘Jornalista e sociólogo espanhol, Ignacio Ramonet tornou-se uma das vozes mais vibrantes contra a globalização no formato atual. Diretor desde 1991 da publicação francesa Le Monde Diplomatique e fundador das organizações Media Watch Global e ATTAC, ele escreveu vários livros sobre geopolítica e crítica da comunicação mundial, nos quais relaciona os meios de comunicação com o projeto estratégico da globalização.

Sua defesa da esquerda e, em especial, do governo cubano de Fidel Castro, provocou diversas críticas pelo mundo, especialmente contra seu livro Biografia a Duas Vozes (Boitempo, 624 págs., R$ 66, tradução de Emir Sader), considerado dócil e servil ao ex-ditador cubano. ‘Ramonet tem a companhia de Noam Chomsky, caso flagrante de esquizofrenia intelectual, que é inspirado e até genial quando limita-se à lingüística transformacional e um ‘idiota’ irredimível quando desata a falar de política’, observou Vargas Llosa, em artigo publicado no Estado no ano passado.

Controverso, Ramonet esteve em São Paulo na semana passada, quando participou de um debate, no Instituto Cervantes, ao lado do sociólogo Emir Sader. Juntos, discutiram sobre o poder dos meios de comunicação frente aos sistemas econômicos. Antes, Ramonet respondeu as seguintes perguntas.

Como enfrentar os perigos dos conglomerados de mídias, que podem ameaçar a informação de qualidade?

Os conglomerados de mídia dominam hoje a informação. Sua preocupação básica não é a qualidade da informação. Nem sequer sua veracidade. O que mais lhe interessa é a rentabilidade da empresa. Essa é sua obsessão principal. Por isso, dão absoluta prioridade à informação-espetáculo, à informação-entretenimento. Concebem a notícia como uma variedade da cultura de massas e não como item da formação e educação do cidadão. O que importa é um maior número de pessoas consumindo essa informação-lixo. Porque, hoje em dia, o negócio noticioso não consiste em vender novidades aos cidadãos, mas vender cidadãos aos anunciantes. Essa é a nova equação, que constitui uma regressão copernicana. A população precisa tomar consciência dessa mudança radical. E defender seu direito a ser bem informada, porque a qualidade da informação depende da qualidade da democracia.

O crescimento da internet está diretamente ligado à formação desses conglomerados?

A internet foi apresentada, em princípio, como uma possibilidade para os cidadãos se livrarem da dominação dos conglomerados de mídia. Mas hoje, na prática, a internet foi integrada ao império desses conglomerados. Ainda assim, todos podemos abrir um blog, que nos permite falar com todo o planeta. Na realidade, se consideramos o ranking dos sites de informação mais freqüentados em qualquer país, vemos que os primeiros lugares são ocupados por empresas de mídia que dominam a informação nesse país. Por isso, a internet só veio a reforçar o poderio dos conglomerados.

Na França, dois grupos de imprensa, Dassault e Lagardère, têm ligação com atividades militares. Qual o perigo disso quando se travam guerras como a do Iraque?

Sim, na França, os grupos Lagardère e Dassault, cujas atividades industriais principais são militares, estão entre os que dominam o setor de mídia. O perigo é que a informação difundida por esses grupos (como acontece nos Estados Unidos com os meios dominados pela General Electric) seja, em caso de conflitos, favorável, independente do pretexto, a uma intervenção francesa com a única intenção de que, dessa forma, as empresas proprietárias conquistem maiores benefícios. Até o momento, isso não aconteceu, tampouco em 2003 quando se comentava sobre a possibilidade de a França integrar a coalizão que invadiu o Iraque no dia 20 de março daquele ano.

Como os cidadãos devem atuar contra este desvio da liberdade de imprensa?

Os cidadãos devem se organizar como fizeram os consumidores, durante os anos 1960, contra os abusos dos construtores de automóveis ou contra o uso de produtos cancerígenos nos alimentos. Consumimos a informação com nossa mente e, se ela é de má qualidade, acaba por envenenar nosso espírito e nossa personalidade. Devemos criar observatórios dos meios – no Brasil, já existem e são muito sérios e profissionais – para denunciar mentiras, manipulações ou o silêncio dos meios de comunicação. Essa denúncia não tem caráter ideológico (meios de qualquer ideologia podem errar), mas unicamente a busca da perfeição da qualidade da informação. Os cidadãos devem mobilizar-se e fazer pressão pacífica e democrática para os meios melhorarem a informação.

O senhor conversou muito com Fidel Castro e até escreveu um livro sobre esse relacionamento. O senhor acredita que o destino de Cuba, agora sem Fidel, depende diretamente de quem será o próximo presidente dos Estados Unidos?

Sim. Fala-se muito, nos meios de comunicação, sobre a ‘necessidade de Cuba mudar’. Mas inúmeros jornalistas se esquecem da enorme responsabilidade que têm os Estados Unidos em algumas das dificuldades, particularmente econômicas, sofridas por Cuba. A manutenção do cruel bloqueio durante quase 50 anos é um grande crime. Por isso, os Estados Unidos devem iniciar uma mudança em relação a Cuba, no sentido de reconhecer os direitos daquele país de descobrir seu próprio destino. Mudar no sentido de respeitar Cuba e considerá-lo um Estado soberano. Se o republicano John McCain vencer a eleição presidencial de novembro, a atitude de Washington pode endurecer ainda mais – mesmo que essa atitude beligerante não tenha frutificado em meio século. Por outro lado, a eleição de um candidato como o democrata Barack Obama abre certas perspectivas positivas. O temor de muitos observadores é o de que, especificamente sobre essa opinião a respeito de Cuba, Obama seja simplesmente assassinado antes de novembro pela máfia anticubana de Miami.

Qual a melhor herança deixada por Fidel? E a pior?

Fidel Castro é o maior latino-americano da história, ao lado de Simon Bolívar. Ainda que sua contribuição continue muito valiosa, sua herança é imensa. Não apenas material (educação, saúde, cultura, ciência, emprego pleno) mas também espiritual: latinoamericanidade, ética, independência real, resistência. Graças a ele e à revolução, Cuba foi depositária, durante o período negro da repressão e das ditaduras (1964-1979), dos grandes valores latinos de independência, soberania e republicanismo. Valores que hoje estão no auge em todo o continente, democraticamente aprovados pela maioria dos cidadãos.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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