O jornal impresso está num processo de metamorfose que ameaça sua própria existência: diminuem os leitores, a publicidade emigra para a internet e outros meios e os custos do impresso o tornam um produto de luxo. E o caro pode se tornar cada vez mais raro. A prova são os numerosos jornais que pararam de circular recentemente nos Estados Unidos. Os que não fecharam as portas sobrevivem a duras penas à perda de receita publicitária e acumulam déficits.
Qual o futuro do jornal impresso tal qual o conhecemos até hoje? O jornalista Bernard Poulet, editor de Expansion.com, ex-editor do Courrier International, publica um livro cujo título é a resposta: La fin des journaux et l´avenir de l´information (O fim dos jornais e o futuro da informação), edições Le Débat-Gallimard, 210 páginas.
Ele cita números eloquentes para mostrar o declínio da leitura da imprensa escrita. Em 1974, na França eram vendidos 3,8 milhões de jornais cotidianos enquanto que em 2007 esse número passou a 1,9 milhão. Outro dado preocupante: no Instituto de Estudos Políticos de Paris, um dos centros de formação da elite intelectual, há 20 anos todos os estudantes liam o jornal Le Monde todo dia. Hoje, eles são apenas pouco mais de 20% a lerem o jornal francês de referência todos os dias.
A proclamada crise é um mal-entendido
Poulet constata que os meios de financiar o jornalismo de qualidade de massa estão desaparecendo e o fenômeno foi acentuado com a internet. O jornalista diz que nos Estados Unidos o debate sobre o fim dos jornais é mais aberto e aceito que na França, onde existe uma espécie de ‘negação’ da realidade, como se ela se tratasse de uma fase de transição que requer apenas uma ‘adaptação’. Para ele, essa impossibilidade de encarar a realidade é suicida.
O jornalista não é otimista. Ele prevê para daqui a vinte ou trinta anos o desaparecimento da maioria dos jornais. Tanto ele quanto o filósofo Marcel Gauchet pensam que o que vai se configurar no futuro é uma informação para os ricos, que vão pagar caro para ter a informação impressa de qualidade, e uma outra ‘pobre’, superficial, muitas vezes gratuita, para as massas. Juntamente com o fim dos jornais, Poulet vê o desaparecimento do jornalista médio, aquele que compõe a grande parte das atuais redações. Resistirão os jornalistas que impuseram uma marca própria no seu domínio especializado.
Menos catastrófico, o filósofo Marcel Gauchet, entrevistado pelo jornal Le Monde recentemente, dizia que a imprensa diária atravessa um momento crucial de definição de objetivos, de público, de conteúdo. Mas, passado o tremor de terra, o nível de exigência em relação à mídia impressa será mais elevado. Ele pensa que a internet não transforma qualquer pessoa em jornalista e ‘o que se pede ao jornalista é a interpretação, o recuo, isto é, história e geografia’, tarefa para profissionais de alto nível com um texto competente. Para o filósofo, a tão proclamada crise da imprensa escrita é, sobretudo, um mal-entendido entre ‘um leitor à procura de um conteúdo que não lhe é oferecido e do outro lado uma imprensa que procura um público que não existe’.
Um resultado atípico
Os números oficiais do órgão de controle de circulação francês apontam uma tiragem média diária que coloca o jornal de direita Le Figaro em primeiro lugar, com uma pequena vantagem em relação ao segundo e ao terceiro colocados: 1) Le Figaro: 320 mil exemplares; 2) L´Equipe: 311 mil exemplares; 3) Le Monde: 300 mil exemplares, 4) Aujourd´hui en France: 190 mil exemplares e 5) Libération: 123 mil exemplares.
O sexto diário mais vendido da França, o jornal de economia Les Echos, teve um crescimento de 1,62% no ano passado. Jean-Marie Charon, sociólogo especializado em mídia, analisa esse resultado atípico: ‘A imprensa econômica pode ter se beneficiado com a crise de 2008, pois o grande público tinha necessidade de entender o que se passava.’
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Jornalista