O pessoal da direção do Jornal do Brasil viveu uma agitação especial na semana passada com o exame minucioso de um exemplar em formato tablóide de O Globo. Era uma edição experimental, distribuída a um grupo selecionado de assinantes, aparentemente um teste para medir a reação do público a uma mudança de formato.
O próprio JB também é hoje um tablóide, mas a circulação posterior não permite uma comparação adequada. Após cortes de pessoal e outras medidas equivocadas, nenhum analista sério poderia dizer se o novo formato agravou ou vem suavizando a trajetória de decadência do jornal. O Dia, que já foi o mais vendido no País, buscando reverter mais uma significativa queda de circulação no ano passado, desde a edição de 20/03, busca recuperar-se como tablóide. Os primeiros números não são animadores, mas ainda é cedo para uma avaliação sobre o acerto ou não da mudança..
O diretor de redação de O Globo, Rodolfo Fernandes, desmentiu formalmente à reportagem de Comunique-se a hipótese de que a edição experimental tenha sido um teste para eventual mudança de formato do jornal:
‘O Globo está permanentemente analisando as tendências de mercado, em fóruns permanentes, como a WAN (World Association of Newspapers), ou em troca de informações com as principais publicações no exterior. Portanto, jamais adotaria o formato tablóide, identificado no mundo inteiro com um segmento de mercado diferente do que ele atua.’
A afirmação de Fernandes sobre a identificação do formato tablóide com um segmento diferente de O Globo foi verdadeira até algum tempo atrás. Mas hoje vários jornais dirigidos ao público mais qualificado, como os britânicos The Times e The Independent, já se tornaram tablóides. E, no Rio Grande do Sul, um tablóide – Zero Hora – está no time nos jornais classe A desde seu lançamento e é o jornal proporcionalmente mais lido do País, se a circulação for comparada com o mercado atingido.
Mas, como Fernandes foi peremptório no desmentido, restam duas explicações para as edições experimentais (há informações seguras sobre outras, que circularam apenas internamente, sob a designação genérica de ‘testes de máquina). Também há quem afirme que a direção da empresa está preocupada com os fracos resultados do Diário de S.Paulo e os testes fariam parte de preparativos para a mudança de formato da fracassada – pelo menos até agora – tentativa da Infoglobo de botar um pezinho em território paulista. Ou (aqui acrescento um simples palpite) não se pode esquecer que o formato tablóide poderia ser uma boa proposta para guindar a circulação do Extra ao primeiro lugar em circulação no Brasil.
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Netsunami cada vez mais aparente
Pesquisas americanas necessariamente não são válidas para o Brasil. Mas, pela experiência, acreditamos que, quando o assunto é imprensa, em geral as tendências se repetem aqui.
Como os americanos tomam conhecimento do noticiário local? Estes números comparativos entre 2006 e 2008 mostram um considerável avanço da internet em dois anos: em 2006, 34% só se informavam em jornais impressos, 5% só na Internet e 4% usavam as duas fontes; em 2008, esses números passaram a ser, na mesma ordem, 25%, 9% e 5% .
Como os americanos se informam ‘regularmente’ sobre notícias locais? 66% indicaram a TV, 41% jornais, 34% o rádio e 31% a Internet. O entrevistado podia mencionar mais de uma fonte de informação ‘regular’.
E como sentiriam o fechamento de seu jornal local? Entre os que lêem jornais ‘regularmente’, 55% sentiriam ‘muito’, 25% ‘mais ou menos, 10%, ‘não muito’ e 10% ‘nem um pouco’. Mas, entre as pessoas que só lêem ‘algumas vezes’, os números são péssimos para a auto-estima dos jornais: apenas 12% ‘sentiriam muito’, 25% ‘mais ou menos’, 21% ‘não muito’ e 42% ‘nem um pouco’.
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Senador Heráclito, os nomes, por favor
O senador Heráclito Fortes anunciou que a lista de ‘amigos’ de seus companheiros de Câmara Alta, merecedores de afagos especiais sob a forma de passagens aéreas gratuitas, inclui muitos jornalistas e, por isso, causaria grande impacto.
Que bom, senador! A coisa de que jornalista mais gosta é impacto na opinião pública. Por favor, revele todos os nomes e todas as passagens concedidas, indicando datas e percursos.
Certamente, cada um de nós, a ABI, a Fenaj e os sindicatos ficaríamos muito felizes e gratos por essa demonstração de que V. Exa. não teve a menor intenção de nos intimidar. Se a revelação não ocorresse, ficaria obviamente a impressão de que V. Exa. não é tão sério como até hoje demonstrou.
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Jornalista, foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e do Comunique-se