No ano de 1977, quando lançamos os nossos dois primeiros livros, havia mais espaço para que fosse elaborado trabalho literário independente e se pusesse a vendê-lo de porta em porta. Nos dias de hoje, as pessoas, além de não se interessarem muito pela leitura, ainda não nos atenderiam em suas casas em nome do temor à violência. Como me diria meu avô, os tempos são outros.
Chegamos a considerar a hipótese de que ser inteligente está saindo de moda, uma vez que o que importa mesmo são as festas, as badalações e os músculos prometidos pelas academias de ginástica. Os professores andam reclamando que os alunos estão demorando cada vez mais para apreender o conteúdo das matérias que lhes é passado. Se antes, bastava uma única aula, hoje ocorre a exigência de duas ou três repetições e, ainda assim tem estudante que não assimila o que lhe foi ensinado. A persistir tal quadro, em breve a era da informatização se verá diante de um imenso contingente de pessoas desinformadas ou de nível educacional insuficiente.
Convivemos com uma mídia que optou explicitamente pelo grotesco e desprovido de valor, construindo uma série interminável de ídolos de baixa qualificação nas áreas da música e arte de maneira geral, como se o mau gosto cultural fosse o norte desejado pela população, que sem opção vai acostumando-se com a dissonância que lhe atiram todos os dias das janelas tecnológicas dos meios de comunicação.
No âmbito literário são muitos os autores independentes que custeiam suas próprias edições e que jamais encontram espaço nas prateleiras das poucas livrarias brasileiras, onde só há lugar para os best-sellers “hollywoodyanos” e os educativos Bruna Surfistinha, reverenciados e consumidos pelas mesmas figuras que reclamam da violência, da droga que aniquila os jovens e seus familiares, da gravidez precoce de nossas meninas e tantos outros malefícios provenientes do endeusamento ao supérfluo, que é contemplado com constante emissão de apelo e chamamento à desavisada população.
Dessa forma, é com alegria e esperança que assistimos à trajetória do jornal O Trem Itabirano, que percorre uma linha editorial que nos coloca em novas estações e portos reversos aos que a grande mídia se faz atracar. O Trem Itabirano se preocupa em levar o seu leitor à reflexão e não se nos apresenta acanhado por sua opção de trilhar rumo ao pleno florescimento da inteligência humana, como se estivesse alicerçado na certeza de que é melhor tombar no exercício de jornalismo compromissado com a construção de uma sociedade melhor, que erguer-se à custa de alinhamento aos detentores de poder semeador de ignorância e pobreza.
Agora, em meados do mês de maio, recebemos exemplar do jornal O Trem Itabirano, no qual foi inserido artigo de nossa autoria. Sentimo-nos honrados, pois na terra de Carlos Drummond de Andrade tem veículo de comunicação disposto a mover as pedras do caminho. E é sob o nosso sincero aplauso ao jornalismo inteligente do Trem Itabirano, que terminamos este nosso artigo com um poema em louvor ao festejado poeta.
Mantra de Drummond
Na vida a pedra é eterna senda comum/ Cada um de nós herda a sua própria fenda/ Mas em Itabira o Poeta Maior incomum/ Entrelaçou mar na peneira de versos em corrente/ E na renitência garimpeira de mineiro sozinho/ Ensinou a gente a gotejar mantra de paciência/ Sobre a dura consistência da pedra no caminho.
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Poeta, escritor e jornalista