Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jornalismo (ainda) não morreu

O título deste artigo poderia ser um plágio – ou uma homenagem, se assim o preferirem – à obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, ou seja: a crônica de uma morte anunciada. Pois a morte do jornalismo impresso já foi deveras, e mais de uma vez, decretada. Assim como um dia, dois séculos atrás, a fotografia ia acabar definitivamente com a pintura, e a TV, no século passado, de uma tacada só, acabaria com o rádio e o cinema, a bola da vez é a internet, que viria, nesse novo e conturbado milênio, pôr uma pedra lapidar no nosso impresso de cada dia.

Entretanto, muito calma com as afirmações apressadas porque não é o que indica, pelo menos de maneira tão trágica, o relatório anual do jornalismo norte-americano ‘O Estado da Mídia Noticiosa’ (The State of News Media 2007). Já em sua quarta edição, o propósito desse relatório é o de verificar, por meio de pesquisa, a saúde e o status da mídia em solo ianque. E, surpresa: o jornalismo impresso nos EUA, ao que tudo indica, não dá sinais de estar à beira da morte e é, ainda hoje, comprado todos os dias por cerca de 51 milhões de cidadãos e lido por uma média de 124 milhões de pessoas.

Outro detalhe interessante nos resultados da pesquisa: ao invés de ser um veneno letal, quando combinadas, a versão digital de um veículo pode agregar valor à velha e boa versão impressa e tem contribuído para o aumento de sua audiência.

Mas nem tudo são flores e o relatório também revela que, se o impresso não está nas últimas, anda um pouco adoentado e sua circulação tem diminuído (no ano de 2006, uma queda de 2,4% nas edições diárias e de 3,8% na de domingo). Por isso, o jornalismo está sob alerta laranja e novos modelos estão sendo buscados. O jornalismo pode estar em pleno processo (r)evolucionário. Os jornalões estão de olho no propício ambiente on line e treinando seus jornalistas para esse meio.

Cedo para otimismo ou pessimismo

A indústria da mídia está ‘levando mais a sério a web’, o que será provavelmente intensificado neste ano que corre. Porém, se a web pode dar uma mãozinha, ela ainda assusta aqueles que temem fechar as portas de suas redações. Segundo outra pesquisa, essa realizada pelo El Tiempo colombiano, a maioria dos veículos latino-americanos reconhece, por exemplo, a importância do tal jornalismo-cidadão, ou colaborativo, ou participativo, mas ainda teme suas conseqüências, que julgam poder ser nefastas.

O certo é que, como aponta o ‘Estado da Mídia’, a competição no mundo virtual é muito maior do que na versão impressa que depende, sempre mais, de grandes aportes financeiros para sua sobrevivência. ‘É cada vez mais fácil para novas fontes alternativas de notícias atraírem a audiência.’ E mais: a publicidade nas versões digitais não tem crescido proporcionalmente ao uso do meio e é ainda insuficiente para sustentar ou ajudar a onerosa estrutura dos jornais impressos. Entretanto, a conclusão do relatório é de que ainda é muito cedo tanto para ser otimista quanto pessimista. O jornalismo ainda não morreu. Pode ser que nem venha a falecer, mas disso a pesquisa não dá garantias sinceras.

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Estudante de jornalismo, Universidade Fumec, Belo Horizonte, MG