Com a opção de assumir um partidarismo eleitoreiro publicamente, divulgado neste domingo (26/9) através de um editorial áspero e ardiloso, um dos maiores e mais tradicionais jornais do Brasil, O Estado de S. Paulo, coloca novamente em discussão como a imprensa deve se posicionar frente aos debates eleitorais. A questão é: escolher um lado ou ficar eternamente em cima do muro?
Sob o título ‘O mal a evitar’, o Estadão demonstrou abertamente seu apoio incondicional ao candidato tucano à presidência, José Serra (PSDB), colocando em texto pontos de vista que levam o jornal a optar por tal candidato. Porém, o jornal acabou exibindo mais uma ação possivelmente tomada devido a fragilidades do que uma atitude enérgica e planejada.
O jornal veio a declarar sua posição partidária somente depois de novos ataques do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que novamente criticou veemente a imprensa, com exacerbações e difamações quanto à credibilidade jornalística dos principais meios de comunicação do país.
Toda a imprensa, no geral, tomou as dores. Folha, Veja e Época também condenaram os ataques e a posição do atual presidente em divulgar uma possível regulamentação da imprensa em um futuro próximo. Mas talvez tenha sido apenas o Estadão a tomar uma atitude tão drástica como publicar uma posição partidária através de um editorial. O jornal fala, necessariamente, em nome de quem? Dos proprietários, dos funcionários ou é apenas uma contra atitude devido às posições do presidente?
Que venham os próximos capítulos
A ação tomada pelo Estadão fere uma das mais importantes regras do jornalismo: a imparcialidade. Porém, por outro lado, demonstra que o jornal está disposto a entrar na guerra contra as constantes investidas do governo em abafar meios de comunicação. Terá sido uma atitude com fins positivos, mas que por infelicidades acabou saindo como um tiro no próprio pé da imprensa?
Ademais, tal medida era tudo que o governo e alguns órgãos da imprensa marrom queriam. Com a divulgação da escolha pelo candidato Serra, o Estadão coloca em xeque sua própria credibilidade e história. Todas as outras reportagens estão sendo parciais? Há coberturas mais brandas para tucanos e mais enérgicas para petistas? Como podemos diferenciar o certo pelo duvidoso, já que o jornal assume publicamente que tem uma queda maior pelos sociais-democratas?
O editorial deste domingo entrará para a história. Será constantemente debatido na imprensa, nos meios acadêmicos e, principalmente, pela imprensa marrom, que insiste em crer – ou pelos menos fingir que crê – que há uma conspiração golpista e midiática contra o governo. A atitude, que soou como precoce para uns e já esperada por outros, demonstrou definitivamente que o jornalismo brasileiro não é mais o mesmo. Que venham os próximos capítulos da magnífica história do jornalismo impresso do Brasil.
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Jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, São Paulo, SP