A edição 989 do Observatório da Imprensa traz dois destaques em meio à valiosa contribuição de nossas articulistas. O primeiro é a publicação do artigo “O jornalista e o engraxate” de Luiz Egypto, sobre a história de Alberto Dines. O conteúdo é adaptado do livro “Ensaios em homenagem a Alberto Dines, de Avraham Milgram e Fábio Koifman (orgs.), 432 pp., Edições de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017”.
O texto traça um breve — e profundo — relato da trajetória profissional de Alberto Dines, revelando a importância da crítica de mídia e do jornalismo para as sociedades democráticas.
“Para Dines, o jornalismo é uma atividade relevante para a manutenção do sistema de pesos e contrapesos que sustenta e promove a democracia e, no limite, o bem-estar das pessoas. A sociedade precisa do jornalismo. Por isso o compromisso do Observatório da Imprensa com as melhores práticas do ofício e com a qualificação do debate público sobre a mídia. Por isso a luta de uma vida inteira de Alberto Dines em favor de uma mídia jornalística forte, plural e diversificada. Como deve ser. Como a sociedade requer e precisa”, escreve Egypto.
A importância do jornalismo para a sociedade democrática é o tema que permeia o debate entre Caio Túlio Costa e Ricardo Gandour no terceiro episódio da websérie “Cartas na Mesa”, parceria entre o Observatório da Imprensa e o Curso de Jornalismo da ESPM. O tema é a desinformação, a avalanche de notícias fraudulentas nas redes sociais e como o jornalismo pode se contrapor e preservar seu espaço crítico neste contexto.
“O que o jornalismo está perdendo é o mercado para um tipo de suporte, que é o suporte tradicional do papel, da televisão. O que ele está perdendo é uma perda no negócio, no qual ele se baseou e que durou, do ponto de vista jornalístico, quase 600 anos, desde Gutenberg” — Caio Túlio Cota.
“A gente criou um problema por universalizar e dar poder a qualquer um de emitir e distribuir. Isso é maravilhoso. Agora a solução para alguns efeitos colaterais que ele tem, acho que vai estar aqui de novo: educação. Tem uma escuridão de fake news aí. E o papel do jornalismo é iluminar” — Ricardo Gandour.
O gesto inaugural de Alberto Dines como precursor de crítica de mídia no Brasil tem muito a contribuir para iluminar o presente: o projeto de continuidade do espaço participativo e colaborativo por ele criado se traduz pela defesa do bom jornalismo. E é essa relação com a memória que se põe em jogo. O filósofo italiano Giorgio Agamben alerta-nos para a ruptura das tradições como uma crise de transmissibilidade na história. “Até que não se tenha encontrado um novo modo de entrar em relação com ele, o passado, pode , doravante, ser apenas objeto de acumulação.”
A permanência do projeto deste Observatório faz da memória de Dines um modo de sentido no presente, retomando os fios discursivos de uma tradição de crítica de mídia no país nem sempre tão explícitos.
“Um grande jornal faz-se com a consciência do tempo. Os fios que importam são os invisíveis, aqueles que amarram o leitor e o trazem de volta todos os dias para a maravilhosa aventura de saber um pouco mais” — Alberto Dines.