De tempos em tempos, há mais de meio século, aparece um “reformador do jornalismo” querendo “acabar com o lead”, isto é, com a estrutura de textos que manda, no início das notícias, responder às questões “quem, o que, como, onde, quando”.
Atribuem essa lista de perguntas a Harold Laswell, autor da década de 1920.
Não é não.
É de Aristóteles. São os elementos da proposição completa.
A proposta de começar notícias pelo relato do fato mais importante tomado pelo aspecto mais importante ou interessante é apenas uma extensão do que todos fazem quotidianamente quando informam algo novo a um interlocutor; começam pelo que interessa ou pelo que julgam que vai interessar. No caso, acrescenta-se a contextualização (onde, como, quando) porque se trata de uma relação impessoal entre quem informa e o público.
Os repórteres e editores americanos formalizaram isso no início do século passado, mas o resultado não difere muito do que sempre fizeram os jornalistas não metidos a literatos.
“Por que” e “para que” já são acréscimos discutíveis do ponto de vista da lógica aristotélica (e da absoluta isenção informativa): na natureza não há causas ou finalidades; é a mente humana que as descobre ou imagina.
Notícia também não é “o jornalismo”. Existem a reportagem, que conta uma história; o texto noticioso que concentra informações sobre um evento em um dado lapso de tempo; a narrativa fundada na empatia; o artigo; o comentário; a crônica; os editoriais; a reportagem fotográfica, o vídeo, a multimídia etc.
A notícia é importante porque é a base. Se o sujeito não percebe a notícia, jornalista não será.
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Nilson Lage é jornalista, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina