Delta Publicidade, a empresa que edita O Liberal, está falida. Em toda primeira década deste século operou com prejuízo, acumula déficits ano após ano, seu patrimônio líquido é negativo e o capital se tornou inexpressivo. Com suas contas nestas condições, só no final do mês passado a empresa da família Maiorana conseguiu publicar os balanços de 2007, 2008 e 2009, que mantêm as mesmas características de inadimplência dos exercícios anteriores.
Quem examina as rústicas demonstrações financeiras do jornal, que se considera o maior e melhor do Norte e Nordeste do país, tem sustos e sobressaltos. As características podem ser associadas mais a uma quitanda da esquina do que a um poderoso veículo de comunicação, que atemoriza governos e anunciantes e impressiona leitores desavisados. Empresa com essas características devia zelar pelas contas que torna públicas.
O segundo impacto resulta do próprio retardamento na publicação dos balanços. Como é que O Liberal consegue se relacionar e negociar com instituições públicas e privadas (como anunciantes e financiadores) sem a atualização das suas demonstrações financeiras, exigidas de uma sociedade anônima? Mesmo com a iniciativa de publicar três balanços de uma só vez, o atraso ainda não foi superado. Continua em falta o balanço do ano passado.
O faturamento bruto, embora bem abaixo do que se podia prever da propaganda feita pelo próprio jornal, segue uma evolução satisfatória: saiu de 36 milhões de reais em 2006 para R$ 48 milhões em 2009. O desempenho do lucro bruto também é aceitável: evoluiu de R$ 7 milhões para R$ 11 milhões no período. Mas o prejuízo líquido se manteve: de R$ 2,5 milhões em 2006, baixou bastante no exercício seguinte (para R$ 672 mil). No entanto, voltou a crescer em 2008, para R$ 948 mil, e em 2009 (R$ 1,5 milhão). Foi constante a posição dos prejuízos acumulados, entre R$ 15 milhões e R$ 16 milhões.
O mais grave é a situação do patrimônio líquido, que passou de R$ 3,2 milhões negativos em 2006 para R$ 6 milhões em 2009, quando equivaleu a quase 10 vezes mais do que o capital social, estacionado em R$ 657 mil há muitos anos.
Desafio à compreensão
Como é que uma empresa consegue se manter em pleno funcionamento com todos esses indicadores negativos? É difícil responder a essa pergunta apenas examinando o esquelético balanço, mas algo a observar é o resultado financeiro líquido. Em 2006 ele foi de R$ 6 milhões, quando representou quase 15% do faturamento bruto. Em 2008 alcançou quase R$ 10 milhões, próximo de 20%, tendo uma grande baixa em 2009, para apenas R$ 4,4 milhões (10% do faturamento). Se essas receitas não operacionais, produzidas por transações financeiras, ajudavam muito a manutenção da empresa, podem estar seguindo tendência à queda, o que ameaça o futuro do jornal.
Mesmo se esse refluxo não existisse, ainda seria um desafio à compreensão saber como se mantém uma empresa que está tecnicamente falida, como O Liberal. Por razões alquímicas?
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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista e editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]