A denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson na Folha de S. Paulo sobre o ‘mensalão’ desencadeou uma crise com todos os efes e erres.
Na tarde de segunda-feira (6/6) , o jornalista Jorge Bastos Moreno interrompeu no site da Globo a blognovela ‘O Lula me disse – A história de um sobrevivente contada por ele mesmo’ e passou a colocar seu textos a partir de uma Central de Crise. Deu chamada no Globo Online.
O blog de Ricardo Noblat bateu recordes de audiência.
As pessoas não precisam mais esperar o noticiário noturno da televisão, ou os jornais do dia seguinte, em busca de respostas para perguntas que ficam no ar após a leitura da entrevista.
A Bolsa caiu, o dólar subiu.
E ainda não dá para saber, no momento em que este tópico é redigido, o que vai sair no Jornal Nacional, o trombone da mídia.
Tudo isso em função de uma notícia que já tinha saído no jornal. Como lembrou Roberto Jefferson, o esquema havia sido denunciado pelo ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira, ao Jornal do Brasil, em 24 de setembro do ano passado.
Investigação entorpecida
A trajetória dessa denúncia é sintomática do torpor da mídia. Mais de um mês depois, o JB foi obrigado a publicar um direito de resposta exigido pelo presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha.
Nem o próprio JB se preocupou em reexaminar o assunto desde o início da crise dos Correios, em meados de maio.
E, no entanto, eram citados na reportagem vários personagens importantes que tinham ouvido falar do assunto: além do próprio Jefferson, a senadora Heloísa Helena e o deputado José Carlos Aleluia. Também aparecia o notório Waldomiro Diniz.
A reação do PT na época foi desmentir. Miro Teixeira recuou no mesmo dia. No dia seguinte, o JB citou o ministro Aldo Rebelo, a quem o presidente Lula teria dito que ‘do ponto de vista do governo, o assunto está superado’.
O então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, disse que a denúncia seria investigada. Não deu em nada. A mídia não cobrou. Talvez sob pressão da decisão judicial a favor do presidente da Câmara.
E o ‘mensalão’ ficou esquecido. Ou hibernando.
Rever planos para cobertura de 2006
Os meios de comunicação precisam ter uma concepção clara de seu papel de prestadores de serviço público. São um dos poderes da República. Fazem boa política ao cumprir seu papel de esclarecer fatos, trazer à luz elementos necessários às tomadas de posição dos cidadãos. Para realizar sua tarefa, devem dedicar tempo e meios.
Hoje estamos distantes disso.
Mas a mesma pressão que se dirige contra autoridades, servidores públicos e parlamentares envolvidos em irregularidades questiona o desempenho da mídia.
A imprensa pode aproveitar a oportunidade para rever agora muita coisa que anda mal parada. E precisa trabalhar rápido, porque um novo protagonismo na vida social chega aos meios de comunicação sem pedir licença, em plena virada tecnológica que abala o monopólio da transmissão de informações.
Não é coisa de anos, mas de meses.
Editores: podem começar a rever seu planejamento da cobertura da campanha eleitoral de 2006. Nos grandes centros urbanos, onde está a cabeça da vida política, o processo de informação mudou. E essa mudança vai se acelerar cada vez mais.