Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O modo de fazer jornalismo com conteúdo

Para alguns, o WikiLeaks não é jornalismo, pois o grupo de ciberativismo digital até trabalha com jornalistas e tem certo relacionamento com os grandes jornais, mas não oferece contextualização, o que seria o papel fundamental do jornalismo como o conhecemos atualmente.

E quem quer contextualização hoje em dia? Em um mundo onde tudo acaba entrando em apenas 140 caracteres, a contextualização fica cada vez mais comprometida, pois não há mais espaço para degustações e visualizações demoradas. O dinamismo da internet é o inimigo número um de um bom trabalho jornalístico, bem apurado e trabalhado.

Discordemos o não, a velocidade da rede tem traçado questões extremamente pertinentes no modo de se fazer jornalismo. Como mencionei, para alguns o WikiLeaks não é jornalismo. Entretanto, para todo o resto do planeta, o WikiLeaks tem feito todo o trabalho que se esperava da grande mídia: expor a todo custo informações que mudem planos governamentais e coloquem a sociedade global a par do submundo diplomático.

O WikiLeaks é jornalismo? Sem sombra de dúvida. Sozinho, o grupo já publicou nos últimos anos mais informações sigilosas e documentos secretos do que toda a mídia mundial junta. Era isso o que as pessoas esperavam do jornalismo. É isso que é ser jornalismo. Expor, a cada nova solução apresentada por um governante, um novo problema ‘aparentemente’ desconhecido.

Futuro do jornalismo está na maneira como ele é feito

O WikiLeaks, criado em 2006 pelo ativista digital Julian Assange, reescreveu, em apenas quatro anos, a maneira de se fazer jornalismo no mundo. Se for um jornalismo pior ou melhor, julguemos depois. O que podemos analisar é que o grupo trabalha em uma plataforma de pré-jornalismo. É o elo entre informantes altamente anônimos e a sociedade geral. Quando algo é enviado à organização, toda a autoria do informante é descartada imediatamente.

Porém, sozinho o grupo jamais ganharia notoriedade. A imprensa tradicional tem tido papel fundamental em colocar todos esses documentos em uma contextualização plausível de entendimento por parte do público em geral. O WikiLeaks trabalha com dados brutos, criptografados, e necessita da divulgação da grande mídia para que isso seja reformulado e exposto no café da manhã de todos.

Com isso, público, jornalismo e WikiLeaks andam juntos. Um precisa do outro. Um depende do outro. Qualquer um desses três elementos, quando isolados, não produzem efeito algum. Para aqueles que focam o futuro do jornalismo apenas em tablets e formatos digitais, o modo WikiLeaks de se fazer as coisas deu um grande aviso: o jornalismo do futuro não está no formato ou na maneira em que essa informação é entregue. O futuro do jornalismo está na maneira como ele é feito. O que sempre prevaleceu e sempre prevalecerá, acima de tudo, é o conteúdo. E o jornalismo precisa de conteúdo, mas o conteúdo precisa muito mais do jornalismo.

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Jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, São Paulo, SP