Durante o primeiro semestre de 2007, realizei um dos trabalhos mais prazerosos da minha caminhada como homem de imprensa. Foi o período em que escrevi diariamente a coluna ‘Imprensa Urgente’ no jornal Roraima Hoje, diário que acabava de nascer aqui neste pedaço extremo do Brasil. Quando alguns bons jornais do país, como a Folha de S.Paulo e O Povo, de Fortaleza (CE), eram os únicos a adotarem a figura do ombudsman, fomos nós – eu e o jornalista Nei Costa, então editor do RH – que tivemos a petulância necessária para ser pioneiros nessa prática aqui em Roraima, terra onde o jornalismo ainda hoje carrega ares de um provincianismo desnecessário e prejudicial.
Pouca gente entendeu e aceitou a nossa ousadia. Indignaram-se, à época, algumas figuras que se consideravam intocáveis: como podem dois forasteiros, um paulista e outro cearense, querer atuar como observadores da mídia/imprensa local e tecer críticas públicas numa coluna de jornal, apontando erros e acertos de jornais e jornalistas? Quem esses dois ‘parlapatões’ pensam que são? Sei, no entanto, que aquele trabalho teve um feed back positivo no âmbito acadêmico. Nossa petulante coluna foi muito bem recebida por estudantes e professores do Curso de Comunicação Social de algumas instituições de ensino superior do estado. Tanto assim que logo fui convidado para ministrar aula nas disciplinas de Ética e Legislação e Jornalismo e Opinião Pública numa faculdade local.
Hoje, parcela da imprensa roraimense dá sinais de que carece mais do que nunca de um observador atento para apontar os absurdos que comete diariamente, num flagrante desrespeito aos leitores, ouvintes e telespectadores. Por todo o país, jornais se vendem como imparciais, mas atuam, de fato, como palanques de papel. Aqui não é diferente. Muito pelo contrário. Veículos fazem campanha escancarada, mas teimam em querer enganar os leitores como se fossem neutros ou tratassem os fatos com a isenção necessária. Nada disso. O papel de ombudsman é imprescindível para o aperfeiçoamento da imprensa brasileira e macuxi.
Inteligência dos leitores merece respeito
Sempre sustentei a opinião de que jornalistas são trabalhadores comuns, mas que carregam sobre os ombros a imensa responsabilidade de lidar com o destino, a reputação, a imagem, a dignidade das pessoas. Por isso, não podem estar isentos da mesma fiscalização que cobramos dos políticos, dos gestores públicos, dos policiais, dos advogados, dos médicos e de todos aqueles profissionais cuja atividade influencia direta ou indiretamente a vida das pessoas. Jornalistas existem para servir e educar, através da sua atuação como cronistas do cotidiano, como fiscalizadores do bem público. Jornais só justificam a sua existência se agirem de forma honesta com os leitores, sem enganá-los sob a cortina empoeirada de uma falsa isenção que se esvai diante de uma leitura mais crítica.
Jornais e jornalistas são imprescindíveis ao desenvolvimento e fortalecimento da democracia. Não tenho dúvida disso. Mas para que possam dar essa contribuição cidadã é preciso despir as máscaras e levar ao seu financiador diário – sua majestade, o leitor – uma informação isenta, honesta, sem maquiagem. Do contrário, teremos apenas panfletos que serão vendidos como se fossem propagadores de informações preciosas. A inteligência dos leitores merece respeito.
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Jornalista, professor, radialista, blogueiro e consultor de redes sociais com especialização em Comunicação Social e Novas Tecnologias