Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O paraíso não é aqui

De repente, Alagoas virou um paraíso. Ou melhor, um quase-paraíso, pois só precisa resolver o problema da corrupção em Brasília para as coisas por estas bandas ficarem perfeitas. Essa é a impressão que temos ao ler qualquer dos jornais locais. Nossa imprensa, desde que começou a história de cuecas e mensalão, não fala em outra coisa. Parece que as mazelas alagoanas se resumem tão-somente a saber se Lula sabia.

Todos os dias, Gazeta, Tribuna e O Jornal trazem em primeira página as notícias sobre a crise política em que se embrenhou o governo federal. Os fatos, exaustivamente divulgados pela mídia nacional, ganham prioridade na capa e nas demais páginas. O texto é o mesmo veiculado pelos grandes jornais do Brasil. Parecem até copiados e colados. Lemos o título e já sabemos do que se trata, pois já ouvimos no rádio, já vimos na TV, já lemos na internet.

Enquanto isso, os problemas do estado são relegados a terceiro plano (o segundo é formado pelo noticiário internacional) ou simplesmente esquecidos. E quando dizemos esquecidos estamos nos referindo apenas aos casos que normalmente eram tratados pela mídia local. Os demais, dito intocáveis, esses nunca são lembrados. São proibidos em qualquer época.

Outros males

Lembradas e relembradas somente denúncias, declarações, acusações e disse-que-disse da capital federal. Os colunistas falam da crise, os articulistas falam da crise, o editorial fala da crise. Com esse bombardeio, é compreensível que os leitores só falem da crise. Aliás, de uma hora para outra, todo mundo virou especialista em corrupção. A seção de cartas de O Jornal do dia 18, por exemplo, ao lado do editorial ‘Nada de Pizza’, traz um texto que ocupa todo o espaço disponível da coluna. O assunto: corrupção e governo Lula. Não sobrou nem um tantinho assim de papel para outro comentário. Espaço só nas colunas ao lado, onde o jornalista Régis Cavalcante e o médico Marco Mota falam sobre… crise política.

Com os escândalos nacionais, a mídia alagoana vai desviando nossa atenção das outras questões que nos afetam diretamente. A crise política é importante? Claro que sim! Mas não devemos esquecer que, paralelamente a ela, estão ocorrendo outros fatos que merecem atenção. Alagoas não parou por causa de Brasília. Nossos problemas regionais não foram absorvidos por nossos problemas nacionais. Eles se somam. Podemos muito bem falar de mensalão, mas também podemos falar de funcionários-fantasma da Assembléia Legislativa. As maracutaias de Delúbio não apagam o assassinato de Macléia dos Santos. Os gabirus de lá não substituem o de cá.

O que nós, alagoanos, também queremos saber é dos outros males que nos afligem, dos outros fatos que nos rodeiam, de outros debates e discussões. Nossas mazelas, infelizmente, não desaparecem assim tão facilmente, como se fosse dinheiro do erário ou impostos dos contribuintes. Elas estão aí e não podem ser ocultadas, pois Alagoas ainda está longe de ser o paraíso que queremos.

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Editor do Observatório Alagoano