‘A gripe A espalha-se pela Argentina com 100 mil possíveis afetados’ – foi esta a manchete no sábado (4/6) da edição sul-americana do diário El País. Subtítulos: ‘A pandemia avança sem controle e soma 44 mortes’. Outro: ‘O governo [dos Kirchner] ocultou a realidade até o fim da eleição’.
Na mesma edição do jornal espanhol (pág. 34) uma notícia sobre a reunião de emergência da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Cancun, México, onde se informa que o hemisfério norte está acompanhando com enorme preocupação o que acontece no hemisfério sul, no caso representado pelo Chile e a Argentina.
O ministro da Saúde da Argentina não compareceu, mandou um sub-sub, o vice-secretário. Mas a vice-ministra da Saúde do Chile foi categórica: ‘Preparem-se!’, avisou.
Mídia insensível
Apesar da dramática situação sanitária argentina, nossa imprensa não reproduziu nenhuma das duas informações no fim de semana. O noticiário do fim de semana foi pequeno, sem destaque, como se a Argentina fosse um país distante, desligado territorialmente do Brasil.
Os jornalistas de plantão esqueceram de que uma das duas vítimas fatais da gripe suína [A (H1N1)] no Brasil foi um caminhoneiro gaúcho que esteve na Argentina. Ignoram talvez que a extensa fronteira entre os dois países estende-se pelos três estados do Sul e que o transporte rodoviário e aéreo é muito intenso – sobretudo agora, durante as férias escolares.
A OMS acompanhou a evolução da pandemia desde a sua origem mexicana com rara competência – e a mídia internacional esteve sempre alerta. A irresponsabilidade do governo argentino só encontra paralelo na insensibilidade da mídia brasileira que esquece sua condição de serviço público e continua encarando a Argentina apenas como rival no futebol.