Enquanto se fala muito mais em terrorismo, política e religião, ocultam-se as verdadeiras causas do genocídio no Iraque e, agora, na Espanha. Bem longe das manchetes e das impactantes e sangrentas fotografias, há esta pequena reportagem:
Petróleo volta ao nível da Guerra do Golfo (extraído do suplemento Economia de O Globo em 18/3/2004)
Nova York e Londres. Os preços do petróleo em Nova York atingiram ontem o seu maior nível em 13 anos, fechando acima dos US$ 38 o barril, devido à redução dos estoques de gasolina do país. O barril do cru leve americano subiu 1,9%, para US$ 38,18. Este é o maior patamar desde 16 de outubro de 1990, quando o Iraque ocupou o Kuwait, o que detonou a Guerra do Golfo. Em Londres, o barril do Brent teve alta de 2,6%, para US$ 33,53.
Os preços subiram depois que o Departamento de Energia americano informou que os estoques de gasolina do país registraram queda de 800 mil barris, para 199,6 milhões de barris. Os estoques estão 5% abaixo da média dos últimos cinco anos, e as refinarias terão de correr para poder atender à demanda do período das férias de julho e agosto.
– A demanda continua subindo apesar dos preços altos – disse Phil Flynn, corretor-sênior da Alaron Trading Corp., à Bloomberg News. Os americanos estão pagando US$ 1,74 pelo galão da gasolina (3,785 litros). Para George Gaspar, analista de energia da consultoria Robert W. Baird & Co., haverá uma competição maior pela gasolina produzida pela Europa, o que levará a uma nova alta de preços nos EUA.
– O petróleo é refém da gasolina – disse Gaspar à Bloomberg News. – Se os problemas no mercado de gasolina forem resolvidos, os preços do óleo vão cair. (…) Os membros da Opep decidiram, mês passado, suspender a produção de 1,5 milhão de barris por dia que excediam as cotas do cartel. (…)
O que significa isto? Qual a sua importância na origem do terrorismo? Enquanto o Estado mundial perde em vítimas e dinheiro, ganha o capital com o aumento dos preços do petróleo. Então, nessas circunstâncias, os interesses do neoliberalismo não se confundiriam mais com os interesses do Estado mundial enquanto representação popular. Observando também que a indústria armamentista deve estar faturando muito às expensas do sangue inocente derramado.
Essa dinâmica histórica apenas emerge nas notícias, como um detalhe de gestalt, não a sua figura! Será que se poderia dizer que a imprensa mais lida, mais popular e não- especializada, aquela que faz a cabeça da maioria, é cúmplice de lucros criminosos? Além da crítica à globalização armada, não se deveria pensar em cobrir a demanda de petróleo mundial de forma mais pacífica? Ao se comentar a atitude da União Européia na Guerra do Iraque, já não se encontra lá uma disputa pelas jazidas de ouro negro do Islã? A luta da Rússia pela Chechênia também não será pelo petróleo? As agitações na Venezuela?
Talvez a imprensa pudesse ser mais objetiva quanto às causas da Guerra do Iraque e do terrorismo islâmico. O protagonista principal deve pisar o palco.
Fernando Dias Campos Neto, médico