Editado em Buenos Aires, o diário Crítica de la Argentina está agonizando. Discriminado pela publicidade oficial e padecendo de graves problemas de caixa, o jornal não circula desde o início de maio e seu site está fora do ar. O impasse parece não ter solução: os colaboradores do jornal não recebem pro labore desde outubro passado, e o salário do pessoal contratado está atrasado desde março.
Péssima notícia para um jornal que começou a circular em março de 2008, com todo gás. À época, seu criador Jorge Lanata defendia que as pessoas se informam sobre o que se passa pelos meios eletrônicos, mas entendem o que acontece pelos jornais. Faz sentido. E em seu primeiro editorial, Crítica se comprometia a ‘dar a informação que ninguém publica por medo, autocensura ou pressões do poder’.
Homem de sorte
Por causa de sua independência, deu tudo errado com o negócio. Crítica foi tratado a pão e água no quesito dotações publicitárias pelo governo do casal Kirchner. Para efeito de comparação, durante 2009 o jornal recebeu 2 milhões de pesos de publicidade oficial, para uma venda média de 9.300 exemplares diários. Nesse mesmo período, de acordo informações do jornalista Miguel Wiñazki apuradas para o jornal Clarín, o diário oficialista Página 12 amealhou 41,6 milhões de pesos, para uma circulação de 16 mil cópias/dia.
Se o exemplo for o empresário Sergio Szpolski, unha e carne com o governo federal, a publicidade oficial para o seu diário Buenos Aires Económico foi de 6 milhões de pesos no ano passado, a troco de uma circulação cinco vezes menor que a de Crítica. Sete anos atrás, esse sortudo empresário não tinha presença na mídia argentina. Hoje, controla uma dezena de títulos de jornais e revistas, além de emissoras de rádio e TV. Ano passado, o grupo arrecadou 42,6 milhões de pesos em publicidade do governo. Nenhum dos seus veículos é rentável sem a publicidade oficial.
Assim, fica fácil.