A fotografia na primeira página do Estado de S.Paulo (quinta, 4/2), mostrando a multidão que ficou presa em uma armadilha na plataforma da estação Sé do metrô de São Paulo, a imagem de um carro destruído pela queda de uma árvore, onde um homem morreu esmagado, e algumas notas na seção de política dos jornais dão a pista: a chamada grande imprensa desistiu de blindar o prefeito paulistano Gilberto Kassab.
Mesmo sendo o metrô administrado por uma empresa do estado, na imagem da população tudo que acontece na cidade é de responsabilidade do prefeito.
O leitor atento deve observar, nos próximos dias, um aumento da exposição de Kassab, até recentemente poupado da enxurrada de más notícias que afetam o ânimo da população da maior cidade do país.
Os jornais já não aceitam a tese de que tudo é culpa de São Pedro e começam a admitir aquilo que muitos técnicos vinham dizendo meses atrás: a prefeitura economizou na limpeza pública, atrasou obras de infraestrutura contra enchentes, abandonou o tratamento de córregos na periferia e realizou obras apontadas como prejudiciais ao fluxo dos principais rios que cortam a capital.
Até o Globo, normalmente comedido em suas críticas a autoridades de São Paulo, traz um comentário em tom editorial no qual observa que, dos 22 mil desalojados pelas chuvas, 5.339 estão desabrigados, ou seja, dependem de abrigos públicos.
Sob marquises e viadutos
Segundo os jornais, o prefeito paulistano demonstra ter pouca sensibilidade social. O Estado de S.Paulo destaca, em sua edição de quinta-feira, que Gilberto Kassab vem reduzindo a oferta de leitos em albergues públicos, o que provoca o evidente aumento do número de moradores dormindo nas ruas. Mais de mil vagas em abrigos foram extintas recentemente.
A Folha de S.Paulo noticia que, desde o dia 1º de janeiro, a prefeitura não entrega merenda nas entidades que atendem crianças e adolescentes órfãos ou em situação de risco.
Defensores públicos e dirigentes de entidades que fazem assistência à população carente acusam o prefeito de estar promovendo um processo de ‘higienização social’, tentando empurrar os mais pobres para fora do centro da cidade, sem criar alternativas de habitação.
Segundo o Estadão, a extinção dos albergues provoca o aumento do número de pessoas dormindo embaixo de marquises e viadutos, porque essa população depende da infraestrutura da região central, onde há mais segurança e serviços de saúde, e onde se pode vender a sucata apanhada no lixo reciclável.
Pelo visto, o prefeito foi deixado nu e sozinho na enchente.